As ruas da cidade de Monteiro (PB) foram ocupadas no último domingo (1º) por uma multidão com palavras de ordem e cânticos em protesto pelo direito à água e pela continuidade da Transposição do Rio São Francisco. A partir da entrada da cidade, onde fica a estação de bombeamento, seguiram em caminhada contra a paralisação das águas e o abandono da obra do eixo Norte pelo governo de ultradireita de Jair Bolsonaro (PSL).
Lideranças nacionais, nordestinas e paraibanas participaram do ato, chamado de "SOS Transposição". Participaram Ricardo Coutinho, ex-governador da Paraíba, Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação, Gleisi Hoffman, presidenta nacional do PT, e a vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, além dos senadores Humberto Costa (PT) e Veneziano Vital (PSB), os deputados federais Gervásio Maia, Damião Feliciano, Frei Anastácio, Natália Bonavides, João Campos (PE) e Gonzaga Patriota (PE). As deputadas estaduais Cida Ramos, Estela Bezerra e os deputados Buba Germano, Jeová Campos, Chió, Anízio Maia, Francisco do PT (RN), a vereadora Sandra Marrocos, e dezenas de prefeitos das regiões do Cariri e Seridó também estiveram presentes.
Durante discurso, Ricardo Coutinho, coordenador do ato, leu uma carta enviada pelo ex-presidente Lula ao evento: “A oportunidade que me foi dada pelo povo brasileiro de governar esse país fez de mim um homem feliz. Vocês nem imaginam a alegria que eu sentia quando assinava um decreto para beneficiar milhões de pessoas ou quando visitava uma obra, inaugurava uma universidade… poucas coisas me fizeram mais feliz como tirar do papel um sonho de gerações, tirar do papel a transposição. Uma das melhores lembranças que tenho foi a inauguração popular que fizemos em 2017”, diz trecho da carta de Lula.
Além da organização do evento, Coutinho convocou os políticos presentes para irem ao Ministério Público Federal abrir processo contra o presidente Jair Bolsonaro por crime contra a humanidade: “Isso aqui hoje foi apenas o início. Nós vamos daqui convocar e pedir aos deputados federais, aqueles senadores que tenham vergonha na cara, para todos juntos irmos dar entrada com uma representação no Ministério Público Federal para que acionem Bolsonaro por crime contra a humanidade”, conclamou.
Para Haddad o que está acontecendo com a Transposição do Rio São Francisco é um crime ambiental, assim como ocorre na Amazônia: “Ao manter o canal seis meses sem água, como faz Bolsonaro, o mesmo vai se deteriorar e terá que ser refeito devido aos efeitos de diferença de temperatura. É um absurdo o que Bolsonaro está fazendo com povo e estamos exigindo que volte irrigar o canal para abastecer os rios e açudes. Estivemos aqui há dois anos para inaugurar a obra da Transposição e vê-la abandonada é uma tristeza e demonstra o desprezo de Bolsonaro a Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e o povo do Nordeste”, declarou o ex-candidato a presidência da República.
Dezenas de movimentos populares, sindicalistas, associações, movimento estudantil, de mulheres, movimento cultural e agricultores organizados, também participaram do protesto.
Os artistas Chico César, Totonho e Dejinha de Monteiro, da região do Cariri, fizeram participação artística e falas contra a estagnação da obra.
Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, relembrou a inauguração da Transposição em 2017, com Lula e Dilma: “Há mais de um ano estivemos aqui com o presidente Lula numa linda festa, uma das manifestações mais bonitas que eu já vi na vida, com a cidade cheia, com as pessoas querendo falar com Lula, querendo ver a água que começava a jorrar, no berço da transposição. As pessoas engarrafavam água para levar para casa, para comemorar aquela data. Naquele dia, o São Francisco começava a cumprir a sua missão com o povo nordestino de levar água para produção de alimento, e naquela época Lula disse ‘eu não fiz isso por benevolência. Eu fiz isso porque era uma necessidade de Justiça. Aos sete anos de idade, eu andava com lata d'água na cabeça, tinha esquistossomose, eu era apenado como o povo nordestino por não ter acesso à água, e essa obra veio trazer Justiça", concluiu Hoffmann.
Laís Barbosa, 20 anos, integrante da Cajamar Associação cultural Agrícola do Jovem Ambientalista de Alagoa Nova (PB), explicou por que participou do ato: “Eu vim de Alagoa Nova pela transposição do Rio São Francisco. Porque ninguém pode tirar nossos direitos à água. A água é nossa, sim, e vamos à luta”.
Para Egrinalda dos Santos Silva, 46 anos, do Movimento de Catadores de Papel Reciclável, de João Pessoa, a água é vida “e a gente no Nordeste sofre muito por conta disso, então a gente tem que fortalecer essa luta pela água. E Bolsonaro fechou o bombeamento de água para os canais da transposição. Isso é ridículo, terrível, porque a gente do Nordeste é quem mais precisa da água para sobreviver, então essa atitude Bolsonaro é reprovada, ele é desumano”.
Wedja Messias Carneiro dos Santos, 36 anos, disse que “esse governo veio veio para acabar com nós brasileiros, os impostos cada vez mais caros, as crianças arcando com as consequências. Então é lula Livre”.
Poliana da Silva Nascimento, 20 anos, é da CPT, do município do Conde: “Eu vim porque participo dos movimentos sociais. E Bolsonaro significa uma má administração e falta de consciência porque aqui é onde tem mais pouca água, e fazer esse corte significa que ele começou muito mal administração do governo dele”.
Edição: Cida Alves e Heloisa de Sousa