Conscientizar as crianças por direitos e cidadania no 12 de outubro é o objetivo de diversas organizações e movimentos sociais na Paraíba. Para além do momento de festejos e comemorações - e a famosa entrega dos presente - a data é uma oportunidade de refletir sobre o lugar social, os temas que afligem o mundo e a luta em defesa dos direitos humanos.
Solidariedade e cultura popular
Luana Caroline, do Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD) afirma que as crianças são parte fundamental no dia a dia do movimento, e no 12 de outubro serão realizadas atividades com elas e com as famílias, para comemorar, brincar, se divertir e, também, lutar por direitos.
Segundo ela, a proposta é trazer bandeiras de luta como a Solidariedade e a cultura popular no intuito de resgatar brincadeiras que estão cada vez mais sendo substituídas por aparelhos tecnológicos. “Quando a gente traz esse lema ‘Brincar é coisa séria’, a gente está tratando da luta pela educação, a saúde, contra o trabalho infantil e pelo direito a uma alimentação saudável. Para além das crianças, a gente vai dialogar com as mães no processo de ocupação, levando debates e oficinas de artesanato, alimentação saudável e campanha de prevenção ao câncer de mama. E a gente espera que esse dia das crianças seja uma grande festa”, conta ela.CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO - Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD)
Luana destaca que as atividades envolvem uma série de valores neste momento político preocupante: “A gente vive um momento difícil, de ataques e retiradas dos direitos trabalhistas, então já podemos perceber altos níveis de desemprego, trabalhos cada vez mais precários, a retirada de investimentos em áreas como saúde a educação, cada dia mais as crianças vivendo nas ruas e o aumento do trabalho infantil e da violência como o assassinato da menina Ágatha no Rio de Janeiro”, expõe ela.
Ong Casa Pequeno Davi / Reprodução
Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha
Neste mês de Outubro o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza a sua 25ª Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha. O evento irá acontecer no dia 16, no Lyceu Paraibano, com cerca de 400 crianças oriundas de assentamentos e acampamentos dos municípios de Mari, Alhandra e Pedras de Fogo. O 16 de outubro é o dia Mundial da Alimentação Saudável, portanto, o lema deste ano é “Sem Terrinha na luta pela alimentação Saudável”. Encontro Estadual Sem Terrinhas PB - out 2017 / Foto: Coletivo de Educação MST PB
Durante a manhã haverá mística, arrecadação de livros, apresentação de dança com o grupo Imburana e oficina com a professora Nara Souza, finalizando com apresentação do grupo Castelo de Histórias. À tarde haverá produção de cartazes e em seguida irão marchar em direção ao Hospital Napoleão Laureano para entrega de alimentação da agricultura familiar. Lá ainda haverá um ato simbólico no pátio e, em seguida, o grupo Palhasus vai entrar com algumas crianças na enfermaria, levando e recebendo muita alegria para os pacientes e seus familiares.
Encontro Estadual Sem Terrinhas PB - out 2017 Foto:Coletivo de Educação MST PB
“O movimento vem discutindo durante esse período qual é o lugar da infância sem terra nos diferentes espaços do movimento. É importante destacar que no ano passado aconteceu o primeiro encontro nacional, o qual consideramos um marco da história da infância sem terra. Aquele momento foi o espaço de socialização com as crianças, que são seres políticos e participativos”, conta Kamila Karine do setor de educação do MST.Encontro Estadual Sem Terrinhas PB - out 2017 Foto:Coletivo de Educação MST PB
Pequeno Davi - Oficinas de música, teatro, leitura, dança…
A ONG Casa Pequeno Davi existe desde 1985 em João Pessoa e trabalha com crianças do bairro do Roger construindo e estimulando a cidadania, num elo entre a escola e as famílias. O principal objetivo é mobilizar a sociedade para o combate à violência doméstica, maus tratos, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades de João Pessoa e Conde. Durante todo o ano são realizadas oficinas de música, teatro, leitura, dança, ludo pedagógico, campanhas e atividades com as famílias.
A programação do dia das Crianças deste ano tem como temática o Racismo que é debatido em conversas, rodas de diálogo, filmes e gincana com perguntas e respostas.
Ong Casa Pequeno Davi / Reprodução
“Na questão da vulnerabilidade, a temática abordada foi a importância do cuidado e como elas querem os cuidados dos adultos, como elas podem cuidar do meio ambiente, dos animais, do ambiente onde vivem, e assim vamos trabalhando mais o tema cidadania”, conta Edna Lopes, coordenadora pedagógica da Casa Pequeno Davi.Ong Casa Pequeno Davi / Reprodução
Subindo a Ladeira - Arte, Música, Cultura, História
Há quase 10 anos o Projeto Subindo a Ladeira reúne crianças entre 5 e 11 anos no território ribeirinho Porto do Capim, em João Pessoa. Em parceria com As Garças Coletivo Jovem, Casa Companhia da Terra, Universidade Federal da Paraíba (projeto de extensão), e outros aliados, este ano, o projeto teve uma participação importante nas ações de resistência aos graves ataques contra os direitos da população daquele território, provocados pela Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Edna Diniz, monitora do Projeto, informa que há um um calendário anual, e o 12 de outubro já está contido nas atividades que existem no ponto de cultura.
“As atividades que realizamos têm o objetivo de reforçar a identidade cultural daquele lugar e a luta pela permanência da comunidade, no enfrentamento com a Prefeitura. Então há música, jogos teatrais, conteúdos de teatro, e desenvolvemos um roteiro sobre o cotidiano deles”, conta Edna.
Grupo Subindo a Ladeira / Reprodução
Segunda ela, é muito forte a incidência da música, que são criadas pelas crianças junto com o músico Eric de Almeida. “O grupo não é teatral mas tem conteúdo da área, os quais a gente leva para trabalhar a atenção, o corpo, os exercícios vocais, projeção vocal, e isso tudo é conteúdo do Teatro e da Música, o que torna o projeto interdisciplinar”, descreve ela.
O roteiro, criado coletivamente, este ano, contempla dança, teatro, músicas de luta da própria comunidade, Cavalo Marinho, além de referências às tradições locais.
Grupo Subindo a Ladeira / Reprodução
“O projeto provoca a olhar o outro, estimula a ver de um outro jeito, com muito mais respeito. É uma experiência gigantesca para as crianças, para a permanência da comunidade naquele lugar, e para eles próprios entenderem a sua importância, porque às vezes não é consciente”, arremata Edna Diniz.
Edição: Cida Alves