No ano em que o governo brasileiro autoriza uma verdadeira avalanche de agrotóxicos nos alimentos dos lares brasileiros, as Feiras Agroecológicas deveriam adquirir, mais do que nunca, apoio e estímulo por parte de governos comprometidos com a população. No entanto, a Prefeitura de João Pessoa colocou-se exatamente na contramão desse processo, proibindo a realização da Feira Agroecológica que acontecia no Ponto de Cem Réis há mais de cinco anos, quinzenalmente.
A justificativa é de que a feira estava atrapalhando as atividades culturais do local, porém, segundo informações, dezenas de outros ambulantes continuam exercendo as suas atividades no local.
Segundo Alane Lima, do setor de Agroecologia da Comissão Pastoral da Terra (CPT - JP), os feirantes receberam uma notificação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) de João Pessoa alegando que que a feira não poderia mais ser realizada naquele espaço.Além de não apresentar nenhum outro lugar como saída, ainda os ameaçou com uso da força por parte de agentes do órgão.
“A feira vinha funcionando a partir de autorização que conseguíamos mensalmente, com muita burocracia. Diversas vezes tinha de ir uma comissão de camponeses para garantir a realização da feira, e no último dia 10, tivemos essa notícia. São 25 famílias camponesas de diferentes regiões, várzea, litoral, agreste e vale, que tinha aquele espaço de comercialização e escoamento de seus produtos. E a gente percebe que é uma perseguição política porque os ambulantes continuam comercializando. E nossa feira acontecia apenas dois dias no mês”, conta ela.
Protesto dos feirantes no Ponto Cem Réis - foto: divulgação
A Comissão Pastoral da Terra, organização à qual a feira é ligada, juntamente com os comerciantes realizaram um protesto com panfletagem no local, e a doação de alimentos ao Hospital Napoleão Laureano (referência estadual de combate ao câncer), na última terça-feira (15).
“Os alimentos que a gente produz é Vida, ajudam no tratamento de doenças, e diversas pessoas que têm um quadro clínico são consumidores por que é indicado por médicos, pessoas que entendem e que atestam a produção agroecológica. Tirar os camponeses é desarticular um grupo que tem autonomia, desde o processo produtivo, até o processo político-social, que tem condições de pensar e ir para o enfrentamento, se organizar, principalmente na conjuntura que a gente tá vivendo. Desmobilizar os grupos é o principal objetivo dos governos, tanto da Prefeitura de João Pessoa quanto do Governo Federal. E o que nos resta é resistir e permanecer na luta buscando ir para o enfrentamento”, afirma Alane.
O deputado estadual Frei Anastácio (PT) solicitou na terça-feira (15) uma audiência com Zennedy Bezerra, Secretário de Desenvolvimento Urbano, para cobrar uma explicação da Prefeitura Municipal de João Pessoa (CMJP). “Não dá para entender por que a Prefeitura quer cancelar essa feira, que já se transformou numa tradição, levando mais de seis toneladas de produtos de alta qualidade para a população”, alegou o deputado.
Edição: Cida Alves