O Flamengo tem a maior torcida no nordeste. O time vem sendo festejado pelo belo futebol dentro de campo e por alianças escusas fora, como convites ao presidente miliciano para ir a seus jogos, além do, até então, não pagamento aos parentes dos jovens mortos no centro de treinamento do clube.
Semana passada, o Fortaleza aproveitou o confronto com a equipe para reacender um debate: os torcedores mistos.
Para quem não está familiarizado com termo, essa é alcunha que recebe quem tem mais de um clube pra torcer, muito comum no norte e nordeste do país onde os amantes do futebol costumam ter um time local e um time ‘nacional’, normalmente na região sudeste. Aproveitando o confronto com o Flamengo, a diretoria de marketing do Fortaleza postou em suas redes sociais um vídeo fazendo uma crítica aos torcedores mistos. No perfil da Copa do Nordeste no twitter lia-se “Nessa semana, na lanchonete do @fortalezaec, não vai ter espaço para mistos! Que seu coração tenha um único dono".
A ação gerou polêmica entre os amantes do futebol. Parte dos torcedores do nordeste e de fora dele levantaram um ponto justo: afinal, a pessoa não pode escolher para quem torcer? Não seria em alguma medida preconceituosa a campanha? Esse é um ponto relevante, mas parece ser menos que o processo que gera um torcedor misto.
E aqui, a torcida antifascista do Botafogo da Paraíba se posicionou de maneira exemplar. Segundo o perfil oficial da torcida no twitter um longo texto foi postado para demonstrar o quanto o tema é complexo. “Torcer pelo time da terra, apoiar, não é necessariamente uma obrigação. Dentro de todos os limites, cada um tem o direito de escolha, mesmo que não haja lá muita igualdade nessa concorrência”, diz uma postagem do perfil Belo Antifa. Lutar contra uma imagem caricatural do nordestino, que envolve transformar todos em filhos da seca ou em subservientes é uma batalha diária.
“Para todos, o conselho é que a luta não pode ser apenar dentro do futebol, precisa ser anticapitalista e atuar em todas as frentes possíveis. Uma maior autonomia no futebol ou em qualquer área passa por emancipação de um povo. Isso não vai acontecer no sistema atual. Por isso, nem paz entre as classes, nem guerra entre as torcidas. Poupem os mistos, fogo só nos fascistas”, conclui a postagem da torcida do belo.
* Jornalista e colunista de esporte do BdF - PB
Edição: Heloisa de Sousa