Paraíba

REVOLUCIONANDO

Bixarte: As diversas faces de uma trans não binária dentro do Rap

Rapper lança seu segundo álbum musical neste dia 20 de novembro

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Bixarte
Bixarte - Reprodução

Poetisa, escritora, atriz e rapper, a artista paraibana Bixarte tem apenas 18 anos e é hoje uma das maiores expoentes do Rap Paraibano.
Bixarte caminha para o lançamento de seu segundo álbum musical intitulado Faces, que sucede seu primeiro trabalho, Revolução. O lançamento nas plataformas digitais vai acontecer no dia 20 de novembro e no dia 22, haverá o primeiro show do novo repertório na casa Espaço Mundo, Centro Histórico de João Pessoa.
Ambas as produções foram realizadas no estúdio BBS, o primeiro produzido por Daniel Jesi e remixado pelo DJ Guirraiz e este segundo, que ainda está em processo de finalização, tem todos os instrumentais assinados por Daniel Jesi (Big Jesi) e uma colaboração do produtor artístico de Bixarte, Gabrunca, que também canta em uma das faixas do álbum.
Faces, conta com 4 participações especiais: A Fúria Negra, Rafa Rasta, Pretinha e Gabrunca.

Isa Fenix, Gabrunca, Bixarte, A Fúria Negra. / Reprodução.

Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, Bixarte disse: “Revolução foi meu primeiro trabalho musical e ele já veio com essa militância muito arcaica de ser bicha, de ser afeminada e nesse processo de Revolução pra Faces eu me identifiquei uma pessoa trans não-binária, então Faces já tem muito a minha identidade enquanto pessoa trans, e que se uma bicha dentro do Rap já é difícil imagina uma pessoa trans, a gente sabe de todo esse movimento patriarcal colonizador. 
Eu tô feliz e acho que vai ser um projeto que tem tudo pra dar muito certo não só aqui no estado, a gente tá conseguindo trabalhar o funk, trap funk, tecno-brega, tecno-macumba, e botar Rap, rima e flow dentro de tudo isso. Fazer uma mistura orgânica e lançar um material que seja digerível pra todo mundo, não só pra quem curte Rap, sabe? Mas também pra quem não curte Rap e é contra o Bolsonaro.”
Ismaela, ex integrante da Ekè Candomblé System, também conhecida como A Fúria Negra, também contribuiu com o seguinte depoimento: “Faces veio pra concretizar o que a gente sempre quis falar com o nosso som. A gente costuma dizer que a gente canta pra todo mundo, quer que todo mundo fique feliz com a nossa música, só que existem alguns públicos específicos e cada faixa desse novo EP, Faces, vem com o peso do empoderamento ao corpo gordo, do empoderamento ao corpo preto, do empoderamento ao corpo trans, pra relembrar que estes corpos não serão mais vistos mortos ou na perspectiva que os brancos e que as pessoas cis-gêneras colocaram nossos corpos trans e nem na perspectiva que a medicina ou que a indústria da moda colocou no corpo gordo, enquanto um padrão patológico, doença e tal... E esse álbum vem pra reverter todo esse estereótipo que foi criado desses corpos. Uma pessoa trans está cantando, uma pessoa trans não está morta.”
Já Gabrunca, falou:
“No primeiro EP da Bixarte eu não participei, mas eu conheci ela durante a construção do álbum, mas não participei ativamente, era apenas um expectador. E daí, posteriormente eu vim a conhecer ela como poeta, vi os vídeos dela e achei super genial, uma pessoa incrível, porque eu já havia conhecido ela como qualquer outra pessoa, daí conheci ela como Bixarte e me encantei mais ainda. Ela precisava de alguém pra assessorar, pra cuidar das redes e pra produzi-la e ela me convidou porque já me conhecia, já sabia um pouco do meu trabalho e a gente agora constrói o novo projeto dela, a mixtape Faces. Foi um projeto que ela que produziu a ideia e a gente só foi adequando algumas coisas do mercado e colocando umas coisas novas, fui meio que guiando essa produção. Tá sendo muito espetacular trabalhar com toda a equipe. Também como artista, tenho um Love Song, um feat com a Bixarte que se chama Refém que tá perfeito, e foi muito bom produzir com ela.”
Em meio a um cenário de Hip Hop que sofre com a invisibilidade do mercado nacional e a marginalização na própria cidade de João Pessoa, Bixarte e suas parcerias tem feito um trabalho incrível de resistência, união e luta contra o sistema capitalista opressor, tendo aberto portas para públicos de Recife e Natal a tendência dessas artistas é crescer cada vez mais no nordeste e no Brasil. 
Rafa Rasta, mulher negra da periferia, rapper e poetisa paraibana recentemente mudou-se para o Rio de Janeiro e participou da FLUP RJ (Festa Literária Internacional das Periferias) em outubro desse ano.
Pretinha, que já deixa clara, ou melhor – escura – sua identidade étnica em seu próprio nome, foi uma das primeiras representantes do Rap feminino em João Pessoa, anteriormente atendia pelo vulgo - Princesa Raquel - e tem uma trajetória de grande respeito no Hip Hop local.
Daniel Jesi é graduado em música pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e atualmente atua como produtor musical no estúdio BBS, função através da qual fortalece diversas(os) artistas independentes locais, vivenciando a arte pelo amor e não pelo lucro financeiro.
Isa Fenix, DJ, produtora cultural e rapper, integrante do grupo Gang 44, foi organizadora e DJ da Batalha da Terça que acontecia no bairro Valentina, é responsável por soltar o som e discotecar nos shows da Bixarte.
Com uma equipe dessas, não dá pra esperar nada menos do que uma grande obra de arte subversiva com várias Faces dessa Revolução.
“A gente tem que ser visionária, né? Porque a gente é bicha, preta, a gente é trans e a gente não é aceita em todo canto", encerrou Bixarte.

Edição: Heloisa de Sousa