Tudo é frequência, tudo é som. E “Tudo tem Viola”. Esse é o título escolhido pelo violeiro Cristiano Oliveira para o seu primeiro DVD, em fase de lançamento. A exibição será nesta quinta-feira (12) no Projeto Violadas 2019, com apresentação do grupo Pavio e o convidado Cristiano Oliveira, às 20 horas, no Natal na Usina, entrada franca. O Pavio é um grupo formado por alunos, ex-alunos e professores, que recebem violonistas há 11 anos para executar músicas autorais, populares e clássicas.
Cartaz de divulgação
O DVD traz 12 músicas e poemas de: Ronaldo Monte, Lau Siqueira, Carlos Araújo e Eugênia Correia. Com realização do Fundo Municipal de Cultura, da Prefeitura Municipal de João Pessoa, o trabalho estava em produção desde 2012, e traz a participação de grandes nomes da música e do audiovisual paraibanos. Gravado no estúdio Peixe-Boi, com direção de Lúcio César e acompanhamento musical de Beto Preah (bateria e percussão), Chico Limeira (baixo), Marcelo Macedo (guitarra) Gláucia Lima, Nina Ferreira e Maurício Soares (intérpretes). O disco também traz apresentação de Ivan Vilela, professor da USP e pesquisador de viola.
No filme, Cristiano conta que toca violão desde seis anos, mas a viola, há cerca de 20. Das lembranças do início da música em sua vida, ele narra: “Ainda escuto o som das unhas do meu avô arranhando as cordas da viola, em Bayeux. Nas igrejas, minha mãe, Ana Maria de Oliveira, militante da cultura popular, da música, movimentos sociais, e cantora da Igreja Católica, sempre me levava com ela para esse mundo de diversidade, do cavalo marinho, ursos de rua e tribos indígenas”, rememora ele. Sobre o título, abstrato, ele define: “A música vem do cotidiano, do que a gente vive e se liberta. Então as imagens que vinham na minha cabeça, os textos, e tudo que eu sentia, vinha na viola. Então tudo tem viola”.
Poster do DVD
No final da década de 90, o músico conheceu o disco Viola Caipira (1997) de Pedro Osmar, que o influenciou e o estimulou a estudar viola. “Nesta época, eu comecei a perceber que poderia usá-la como poesia e instrumento misturados com o tradicional, o jazz, blues, frevo, e as tradições brasileiras e influências culturais.” Ele pondera a viola é uma ponte para os repentistas realizarem sua poesia popular: “Mas eu faço tudo tem viola para abrir as possibilidades, tocar outros gêneros musicais e outros ritmos. O DVD trabalha muito a questão do ritmo, de gêneros do Brasil, além do Baião e a influência dos armoriais. Então Tudo tem Viola é para desconstruir”.
Contra-capa
A viola já avançou em alguns aspectos mas ainda fica muito restrita ao âmbito rural, aos gêneros tradicionais. “Já tem algumas pessoas que fazem mudanças aqui no Nordeste. Só que ainda prevalece muito o tradicional, isso é muito forte. E acaba criando um gueto. Mesmo quando os regionalistas tentam desconstruir a viola, eles não conseguem, ficam muito presos. E quando você vai ver a sonoridade, eles não desprendem mesmo, é muito forte, fica muito ainda naquela coisa tradicional”, pondera ele.
A preocupação com a juventude acerca da aproximação com o instrumento também é presente: “O jovem se aproxima do instrumento através da realidade da sua convivência, da música que ele convive, então a referência de viola que a gente tem é dos repentistas, que ficou numa geração e não foi passada para a geração seguinte. E você não vê muito jovens cantando repente, participando de cantoria. Então isso dá um distanciamento do instrumento. Se eles começarem a ter referência de que um instrumento também pode tocar as músicas que eles gostam, como Legião Urbana, ou qualquer coisa, com a viola, então ele começa a se aproximar e abrir para outras possibilidades”.
Cristiano Oliveira é o primeiro Violeiro formado na UFPB, no curso sequencial de música popular, instrumento Viola Nordestina. Aproximar a juventude dos instrumentos da própria classe trabalhadora é fundamental: “A nobreza chegou ao Brasil e tomou a identidade das pessoas que estavam aqui. E a gente tem Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega, por exemplo, que traz para o palco, para as Câmaras, os instrumentos originais do nordestino, dos brasileiros”, reflete ele sobre a essência da nossa cultura, do que é do nosso povo.
Com musiclube da Paraíba - 1999 - Foto: Fabiana Veloso
Edição: Redação BdF