Quem mandou matar Marielle?” foi tema de um debate do Projeto Realidade Brasileira e Universidade, realizado pela ADUFPB, no Centro de Vivência da UFPB, nesta sexta-feira (14), em João Pessoa, com a presença da ex-companheira da vereadora carioca assassinada em 14 de março de 2018, Mônica Benício. A mesa contou com a participação também do presidente estadual do PSOL, Tárcio Teixeira, do presidente da ADUFPB, Fernando Cunha, e da tia de Marielle Franco, Solange Cavalcante. Na plateia, políticos/as locais, professores/as, estudantes e militantes sociais.
Mônica Benício iniciou sua fala abordando o porquê de Marielle Franco ser homenageada em tantos lugares, até onde ela teoricamente não teria contribuição. “Quando o corpo da Marielle tomba a vida de ninguém aqui tá segura. Todas correm riscos quando o Estado brasileiro não responde quem foi que mandou matar. O corpo da Marielle é um corpo que o Brasil olha e julga um corpo descartável. O corpo da Marielle é um corpo matável no Brasil, é o corpo negro, feminino, favelado, periférico, lgbt. Esse é o corpo que o Brasil mata todo dia”.
Segundo Mônica Benício é fundamental entender o ano de 2018 em qualquer debate sobre a realidade brasileira. “Um ano que não começa em 2018. A gente vai ter que olhar para o que foi o ano de 2016, o golpe misógino contra a presidenta Dilma, para poder fazer uma leitura”, ressaltou. Segunda ela, tudo era uma tragédia anunciada, “quando a gente tem um deputado que faz a menção ovacionando um torturador dentro de um plenário e não sai algemado desse plenário, a gente começa a entender que a atual conjuntura não é favorável à democracia.”
Para Mônica, o assassinato de Marielle é emblemático porque é uma ruptura do projeto do Estado democrático de direito no Brasil. “Uma vereadora democraticamente eleita, a segunda mulher mais votada do Brasil, a quinta pessoa mais votada da cidade do Rio de Janeiro com 46.502 votos, Marielle fez uma campanha pautada no fato de ser uma mulher negra e da favela.”
Mônica destacou, ainda, o fato de o Rio de Janeiro ser uma cidade dominada pela milícia, que tem uma Câmara dos Vereadores extremamente fundamentalista, um prefeito bispo da Igreja Universal do Reino do Deus que não sabe o que significa Estado laico. Além disso, ela disse que a milícia não é só um grupo paramilitar, é o próprio Estado brasileiro. “Tem cadeira no Senado, na Câmara Federal, na Assembleia do Rio de Janeiro, na Presidência da República. A milícia é hoje o Estado brasileiro. A milícia não domina apenas território. Faz projeto de poder no país. E não é um projeto de poder que inclui o povo. É pra manter a ordem vigente desses homens brancos, fundamentalistas, machistas, lgbtfóbicos, racistas tudo que a gente já sabe desde que o Brasil começou sua história”.
Mônica disse que a luta por Justiça por Marielle não é apenas por ela ser sua companheira, o amor de sua vida. “O caso da Marielle é um caso emblemático porque ela era uma figura política. E pedir justiça por Marielle, pedir resposta, é dizer que a gente no Brasil, enquanto pessoas que defendem o Estado Democrático, a gente não quer que isso aconteça nem com outras Marielles, nem com qualquer outra pessoa nessa sociedade. Enquanto essa resposta não chega, a imagem que o Estado brasileiro passa para a sociedade brasileira e internacional é que se pode matar qualquer um no Brasil.”
O assassinato de Marielle Franco, após um dia de trabalho, foi um recado político, segundo Mônica Benício, daqueles que não querem disputar espaços de poder com corpos como aquele que Marielle representava.
Edição: Heloisa de Sousa