No dia 12 de março de 2020, será realizada a 11ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia no município de Esperança, Agreste Paraibano. A Marcha se levanta contra o crime do feminicídio, que vitima a cada dia 13 novas mulheres no Brasil. A concentração do evento será às 8h, no Campo da Rodoviária, na entrada da cidade, e seus organizadores esperam reunir mais de 6 mil mulheres, número registrado na Marcha do ano passado em Remígio (PB).
O evento tem dois grandes objetivos centrais: denunciar toda e qualquer forma de violência contra a mulher e dar visibilidade ao papel e à contribuição das camponesas na construção da agricultura familiar do território. De acordo com Roselita Victor, uma das organizadoras da Marcha e da Coordenação do Polo Sindical da Borborema, um dos grandes problemas encontrados na região é a falta de políticas públicas direcionadas às mulheres. “Não há delegacias da mulher suficientes no Polo da Borborema. A região tem apenas uma delegacia da mulher em Campina Grande. Uma mulher que mora em Casserengue, por exemplo, e sofreu violência está a 70km da delegacia da mulher. Se ela não for acolhida, ela não vai denunciar”, destacou.
Além de delegacias, as mulheres reivindicam ainda uma eficácia maior nos programas de acolhimento das mulheres vítimas de violências, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e processos de formação para que os profissionais da área da segurança pública e da saúde possam atuar com mais qualidade nas situações de violência contra a mulher.
A Marcha é organizada pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema, uma rede de 13 sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais da região da Borborema, na Paraíba. A cada ano, a marcha acontece em um dos 14 municípios do Polo e aborda um tema diferente, discutido nos diversos encontros preparatórios realizados nas comunidades rurais desde novembro.
Programação
A atividade tem início às 8h e terá concentração no chamado ‘Campo da Rodoviária’ na entrada do município de Esperança. Após a animação no palco e recepção das caravanas, haverá a apresentação da peça Por que homem mata mulher?, do Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema. No espetáculo, a família da personagem ‘Margarida’ se perceberá envolvida com uma situação de sucessivas violências que culminarão em um caso de feminicídio. O objetivo é chamar a atenção da sociedade para o debate acerca dos relacionamentos abusivos, que, na maioria dos casos, evoluem para a violência física e para o homicídio.
Segundo Roselita Victor, o teatro é uma ferramenta importante, pois consegue fazer com que a mulher se perceba em situação de violência. “O texto da peça, inclusive, é montado a partir dos relatos de violência das mulheres. Temos o caso de Luzia, do município de Esperança, que escapou da morte por triz. A bala direcionada a ela pegou de raspão”, relembra. Ainda segundo Roselita Victor, quando um homem chega a matar uma mulher, ela já passou por vários tipos de violência. É preciso que as mulheres saibam identificar esses passos que podem levar ao feminicídio.
Em seguida, a Marcha seguirá pelas ruas centrais da cidade com panfletagem, ato público, bandeiras, estandartes, faixas e cartazes, retornando para o palco da concentração para assistir a Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, que abraçou a ação. No local há a tradicional Feira Agroecológica onde se comercializa a produção das agricultoras da região.
13 Feminicídios por dia
Segundo o anuário de Segurança Pública 2019, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, acontecem 13 feminicídios por dia. O levantamento do Centro 8 de Março de João Pessoa (PB) revela que, só em janeiro de 2020, 15 mulheres foram assassinadas na Paraíba, cinco desses casos foram, tipificados como feminicídios, que é quando assassinatos de mulheres são cometidos em razão do gênero, ou seja, a vítima é morta por ser mulher. De acordo com o mesmo levantamento, que leva em consideração apenas os casos que foram noticiados pela imprensa, 56 mulheres tiveram suas vidas tiradas em 2019, sendo 32 feminicídios.
Uma reportagem do El País mostrou que, na América Latina, nove mulheres são assassinadas por dia, vítimas de violência de gênero. A região, segundo um relatório da ONU Mulheres, é o local mais perigoso do mundo para elas, fora de uma zona de guerra. Quase metade dos 2.559 assassinatos cometidos na América Latina ocorreu no Brasil. No país, a Lei do Feminicídio, de 2015, estabelece que, quando o homicídio é cometido contra uma mulher, a pena é maior.
Porém, se de um lado existem leis, há um cenário encorajador para a violência contra ao contra a mulher do outro lado. “Temos observado o aumento de denúncias, mas há uma conjuntura política brasileira na qual os homens agressores estão se sentindo a vontade para agredir mulheres. Há um governo essencialmente masculino e que provoca esse olhar de desatenção à mulher e mais a vontade para praticar crimes contra a mulher”, contextualizou Roselita Victor, das organizadoras da Marcha.
Edição: Heloisa de Sousa