O mundo vive tempos de incertezas. Desde a chegada da Covid-19 não se sabe como será o planeta depois que essa pandemia passar. Enquanto o mundo se adapta ao isolamento social, intelectuais e cientistas discutem e estudam como será o mundo pós-pandemia. No mundo do futebol não é diferente. Como será o mundo das granes estrelas com enormes salários com uma recessão global se avizinhando? OS clubes de menos porte financeiro sobreviverão? E a cultura de estádio? Voltará após um período em que a aglomeração de pessoas foi restrita?
O Professor universitário da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), doutorando em Comunicação na UnB e autor do livro "Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol", nos ajudou a tentar entender como serão esses novos tempos. “Ninguém sabe, qualquer comentário é previsão. O cenário é inédito para o modelo do futebol enquanto indústria que movimenta tanto dinheiro. Na crise econômica mais recente, de 2008, a indústria esportiva cresceu ainda mais. E nos períodos de guerra mundial os prejuízos eram mais localizados (Europa), com o futebol auxiliando na retomada. Agora a aglomeração é proibida. Então é provável que o futebol volte com estádio fechado e aos poucos ir abrindo para mais ou menos público”.
Se nas crises anteriores o futebol conseguiu encontrar suas alternativas, nesse momento pela impossibilidade de aglomeração ele precisará encontrar outras formas. Uma delas é imediata: como manter os patrocinadores sem a visibilidade? “O futebol vive muito de receita factual. Passou de fase, teve exibição na TV ou ocorreu jogo em casa, ganha-se dinheiro. Mesmo os patrocinadores fixos, desconsiderando a indústria de material esportivo, não conseguem suportar por tanto tempo - até porque o retorno é quase que só de imagem, com pouca ativação possível.. A indústria está parada naquilo que é o mais importante: o jogo ao vivo”, explica o professor.
Se os exemplos de crises anteriores não explicam os caminhos desse momento e se a bolha financeira que envolve o futebol para que não irá resistir ao fim da pandemia, então será duto diferente no futuro? Anderson discorda: “ainda creio que não. Em termos econômicos, o futebol é uma forma de entretenimento que tem público dentro ou fora do estádio - estou eu na quarentena vendo jogos antigos, por exemplo. Vejo uma renegociação geral de contratos em curto prazo, mas uma recuperação ao longo da primeira década. Na prática, ninguém fala em mudança do modo de produção capitalista, então se a mercadoria der lucro, terá a atenção devida para alguém bancá-la. Ainda é necessário ver o papel da China pós-Covid. Como diria o pesquisador Emanuel Leite Júnior (autor do livro ‘cotas de televisão do campeonato brasileiro’, entre outros), além de uma economia já forte, pode ter peso semelhante ao dos EUA pós-Segunda Guerra por ter saído antes.
Chamou a atenção de muitos amantes do futebol a atitude do craque Messi em reduzir seus salários para manter os pagamentos dos funcionários do Barcelona. Até o jornal L’Équipe fez uma capa com uma caricatura que misturava o rosto do craque com o do revolucionário Che Guevara.
“Tem que olhar com cuidado para a pirâmide financeira do futebol. Há o jogador ‘star system’ e o que trabalha esporadicamente (4 meses) com futebol, fora quem ganha salário normal em emprego normal dentro de clubes (segurança, cozinheiras etc.). Além disso, jogador é trabalhador sob contrato. A escolha vindo deles, como a do Messi, para não cortar empregos da base do trabalho com futebol é importante para manter emprego e renda de quem mais precisa, mas nem todo jogador (com salário já atrasado de antes) poderá seguir isso. É preciso que quem lucre com o esporte, verdadeiramente, assuma a crise também”, aponta o pesquisador.
Para encerrar a conversa quisemos saber do professor, estudioso do futebol e amante do esporte como será o futuro daquilo que mantém vivo e faz desse esporte o mais amado no mundo: a cultura de estádio. Com dor no coração, Anderson nos disse que “Isso é o que mais me dói. O medo pode (continuar a) mudar a lógica de ser algo mais natural, menos racional. A ideia de não ficar em determinado lugar, abraçar um desconhecido para comemorar gol, pode mudar. Talvez isso possa até virar regra nos primeiros momentos para podermos voltar aos estádios”.
O futuro do futebol, assim como o do planeta, segue incerto. Se ainda não é possível saber como ou se voltaremos a normalidade, uma coisa parece razoável. Que tanto dentro quanto fora das quatro linhas, que sejam aqueles que lucraram desde sempre que paguem a conta agora.
Mais sobre economia política do futebol e cultura de arquibancada
O professor Anderson Santos e outros pesquisadores e jornalistas produzem o podcast “na bancada” que durante a quarentena vem disponibilizando um variado material sobre esses assuntos. Para quem quiser acompanhar este é o link:
https://www.youtube.com/watch?v=dAyfke4o9BU&feature=youtu.be
Edição: Heloisa de Sousa