Capturado pela Polícia Militar nesta segunda-feira (18), Harrison Gadelha (23), confessou o assassinato de Gabriel Taciano de Oliveira (33), alegando que o motivo do crime foi por conta de uma dívida. A versão é questionada pela família da vítima.
O corpo foi encontrado na praia de Jacarapé, em João Pessoa, com sinais de violência e com marcas que assinalam requintes de crueldade. Gabriel era formado em Pedagogia, Agente Socioeducativo, militante dos Direitos Humanos e filiado ao Partido dos Trabalhadores. Ele tinha desaparecido no sábado (16).
Conversamos com a mãe de Gabriel, D. Marisa Taciano Leite, que afirma não acreditar no depoimento do suspeito:
“Eu não acredito nas mentiras daquele cara, não acredito em nada do que ele falou e duvido que esteja sozinho nessa história. Tem gente por trás disso. Porque essa conversa dele, do jeito que foi… o Gabriel sempre que combinava de sair com alguém já levava um segundo capacete.
Se ele fosse demorar, ele teria falado ‘vou chegar mais tarde, não se preocupa’. E a gente não almoçava muito tarde, e ele saiu e não falou nada. Ele foi comprar ração para minha gatinha, então a intenção dele não era demorar. E estava perto da hora do almoço, então para mim tem coisa muito maior por trás disso.”
Sobre o suspeito
“Ele nunca havia comentado desse cara. Gabriel nunca falava comigo porque eu tenho muitos problemas de saúde. Eu acho, inclusive, que esse cara é muito suspeito, como se fosse plantado; da onde veio esse cara? Porque o Gabriel tinha amigos de movimentos sociais, amigos que estudaram com ele na faculdade, pessoas do partido, e todos os amigos do Gabriel eram praticamente ligados uns aos outros, então como esse cara surgiu na vida dele? Eu não sei por que o meu filho se envolveu, se foi uma questão afetiva, ou ligada à droga, já que ele (Harrison) era traficante, eu não sei porque, nada justifica o Gabriel estar com esse tipo de gente.”
Pistas e Suspeitas
“É muita pista, muita suspeita. Como é que um cara mata e rouba e deixa peças da moto do meu filho dentro de casa? Então ele pode estar servindo de bode expiatório. E tem 'polícia do bem e polícia do mal'. E é melhor você enfrentar um bandido na rua do que esse tipo de polícia. E foi um policial que forneceu a foto da moto. Então por que o policial não resolveu isso e chamou logo outros policiais? Tá muito estranho.”
Angústia do desaparecimento - (intuições da mãe)
“Na sexta-feira (ela quis dizer sábado) o meu filho não dava retorno no celular, e aquilo foi me criando uma angústia, e eu comecei a insistir na questão da violência. Eu não pensava em acidente de moto, só pensava que alguém tinha feito algo. E eu me lembrava que havia comportamentos de agentes (socioeducativos) que o Gabriel não aceitava, comportamentos errados, mas isso já faz tempo, foi logo quando ele começou a trabalhar com as meninas adolescentes (na Fundac).”
Suspeito - franzino / Gabriel - grande porte
“Gabriel saiu na sexta-feira na hora do almoço e não levou o segundo capacete. E sempre que ia encontrar outra pessoa, levava o segundo capacete. E ele matou e fez tudo com meu filho na praia sozinho? Sendo que Gabriel é muito maior! Então se tivesse uma arma, dava um tiro, uma facada, tinha perfurado o Gabriel. Mas não teve tiro e nem facada.”
Escoriações
“Eu só vi o rosto dele, que estava cheio de hematomas e também, no pescoço. Meu marido viu o laudo da autópsia.”
Geraldo Leite (pai/padrasto de Gabriel) conta o que conversou com o legista e o que veio no laudo: “O principal são as pancadas no rosto, na cabeça - em toda a cabeça - e no pescoço houve estrangulamento. As perfurações, o legista diz que não foi de faca, mas foi algo como madeira pontiaguda. A causa da morte foi a queda, ferimentos penetrantes torácicos com lesões pulmonares associadas a traumatismo craniano e cervical, que gerou a hemorragia consecutiva”
Amiga de Gabriel
Uma amiga de Gabriel - que prefere não ser identificada - contou que o suspeito e a vítima iam a bares e circulavam juntos e chegaram a visitá-la. Ela, inclusive, conversou com o suspeito brevemente. Para ela, ele se mostrou muito introspectivo e calado.
“Gabriel estava muito à vontade com o rapaz, mas ele não aparentava estar muito à vontade com Gabriel. Ficava calado, quieto, introspectivo. Mas eles aparentavam, sim, ter um relacionamento porque davam sinais de intimidade”, descreve ela. Ela conta Que Gabriel estava feliz porque tinha acabado de dar entrada em um apartamento.
O suspeito já tinha passagem pela polícia. A amiga conta que ficou sabendo que o suspeito queimou uma namorada com cigarro e a prendeu em cárcere privado; que já cumpriu prisão, e também há rumores de que é envolvido com assassinato.
Edição: Heloisa de Sousa