Paraíba

SEM ESCRÚPULOS

Familiares de vereadores, prefeitos e deputados pedem e recebem Auxílio Emergencial

Enquanto isso, milhões de brasileiros que realmente necessitam têm o benefício negado

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Ruy Carneiro Filho, com o pai que é deputado estadual tucano na Paraíba - Foto: Reprodução

O Auxílio Emergencial foi criado para desempregados, trabalhadores informais, micro-empreendedores individuais e trabalhadores autônomos durante a pandemia de coronavírus. A proposta enviada pelo governo federal ao Congresso previa um valor de R$ 200 para cada beneficiário. A bancada da oposição propôs R$ 1.000 e um acordo fixou o valor em R$ 600.

Portanto, é de causar repulsa tomar conhecimento de que pessoas bem aquinhoadas não apenas se cadastraram como receberam o valor destinado à famílias em dificuldades por conta da pandemia.

Há um mês o TCU identificou nada menos que 73.142 CPFs na base de dados do ministério da Defesa que tiveram o valor do benefício depositados em suas contas, entre eles militares da ativa, da reserva, pensionistas, dependentes e até anistiados. Essa turma embolsou quase R$ 44 milhões dos cofres públicos. O TCU determinou que devolvessem o valor do benefício.

Pelo menos duas esposas de prefeitos fizeram o cadastro. Uma delas, Sari Gaspar Corte Real, primeira-dama da cidade de Tamandaré (PE), que colocou o filho de cinco anos de sua empregada doméstica no elevador do prédio de luxo onde vive. Sozinha, a criança subiu até o último andar e morreu ao cair de lá.
 


Sari Gaspar Corte Real / Foto: Reprodução

A primeira-dama de Alagoa Grande, Adriana Karla de Melo Lima, também tentou se passar por uma sem-renda e receber os R$ 600 mensais que hoje fazem falta a muita gente.


Adriana Karla de Melo Lima / Foto: Reprodução

Tatiana Lundgren Côrrea também. Ela pertence a uma das famílias mais tradicionais da Paraíba. Ex-prefeita de Conde, Tatiana não apenas se cadastrou para receber o auxílio emergencial, como, já em maio, recebeu os R$ 600, que ela deve gastar em um único passeio pelo shopping.

A família de Tatiana é bolsonarista. Em 2018, ela chegou a ser presa acusada de participar de esquema de fraude em desapropriações de terra no Conde. Ela foi presa em março e solta em maio de 2018, suspeita de lavagem de dinheiro e fraudes praticadas contra o erário da cidade


Tatiana Lundgren Côrrea / Foto: Reprodução

Ainda no Conde, Maria Betânia Gomes dos Santos, esposa do presidente da Câmara de Vereadores, Carlos Manga Rosa, e Ana Caroline Pereira da Silva, esposa do vereador Malba de Jacumã, seguiram o mesmo caminho da chefe dos maridos. As duas também foram beneficiadas com o Auxílio Emergencial

Filho de Ruy embolsou R$ 1.200

Durante o primeiro governo de Cássio Cunha Lima, recursos do Fundo de Combate à Pobreza do governo da Paraíba serviram para pagar um festival de privilégios aos amigos do então governador, que hoje atua como lobista de bancos em Brasília.

Foi do Fundo de Combate à Pobreza que saíram os R$ 10,9 mil que bancaram o tratamento dentário de Emília Mendonça Ferreira, esposa do deputado federal Ruy Carneiro. À época, Carneiro era secretário da Juventude, Esporte e Lazer.

Hoje, ficamos sabendo que Ruy Carneiro Filho, filho do deputado tucano, é um rapaz que vive em grandes dificuldades financeiras. Ao ponto de precisar se cadastrar e receber R$ 1.200 dos cofres públicos, o equivalente a duas parcelas do Auxílio Emergencial. Só hoje, quando se tornou pública, o deputado divulgou nota condenando a atitude do filho.

Eu só quero lembrar que, muito provavelmente, os nomes mencionados acima, não faz muito, bradavam contra a corrupção, e esses casos vão se juntar a tantos outros de notórios corruptos que balançavam a bandeira da moralidade.

O comportamento execrável que agora vem a público expõe as vísceras da hipocrisia, da impostura e da desonestidade dessas pessoas, agravadas pelas circunstâncias de um país em quase desespero por conta de uma pandemia que destrói vidas, empregos e empresas, que empobrece a todos/as, mas, sobretudo, causa sofrimento aos mais pobres.

São exemplares de uma elite política patrimonialista que, por não saber distinguir as fronteiras entre o público e o privado, é capaz de se apropriar do que não lhe pertence, mesmo de valores que, para eles, representam migalhas, mas que fazem falta na mesa dos mais pobres.

 

Texto de Flávio Lúcio (https://leiaflaviolucio.com/) com edição de Redação BdF PB

 

 

 

 

 

Edição: Cida Alves