Paraíba

CONFLITO ÉTNICO

Comunidade cigana vem sofrendo intimidação de empresários locais na cidade de Sousa

Os ciganos denunciam a ausência de infra-estrutura, pobreza e invasão do terreno por outras pessoas sem comprovação

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
“Nós estamos cobrando nossos direitos, nós só queremos o direito de ter uma moradia digna" - Foto

A maior comunidade cigana da América Latina, que fica localizada na região de Sousa-PB, é uma vítima histórica de discriminação e preconceito e, no momento, encontra-se em conflito, sofrendo intimidação de empresários locais, mesmo vivendo há 40 anos no território. 

Prometido e nunca formalizado, ao longo do tempo, foi vendo seu espaço ser invadido por casas, chácaras e prédios destinados à venda de apartamentos.


Comunidade enfrenta a pobreza na pandemia / Foto: Reprodução

Parece até um campo de refugiados. Os três ranchos, com cerca de 2,5 mil ciganos da etnia calón, vivem em situação precária, muitas casas de taipa com até três famílias dividindo o mesmo espaço, situação que fez com que a comunidade iniciasse construção de outros barracos no terreno, alargando a área ocupada.

Francisco Lacerda, conhecido como Bozano, liderança local, afirma que todos precisam de ajuda: “Nós estamos cobrando nossos direitos, nós só queremos o direito de ter uma moradia digna, ter nossas casas, mesmo que não seja uma grande casa de alvenaria mas que seja um cantinho certo para quando chover ou para quando chegar à noite a gente ter onde se deitar, dormir, orar e agradecer a Deus. Nós só queremos o nosso direito de cidadão”, declara Bozano.


Reunião de lideranças para ampliar a ocupação / Foto: Reprodução

Movimentos sociais como dos Trabalhadores por Direitos (MDT) vem acompanhando o caso e denunciam que a comunidade vem sofrendo ameaça da própria Polícia Militar a qual deveria fazer a mediação de conflito através do Coronel Roberto, responsável por esses procedimentos. A polícia tem se colocado de maneira ostensiva tentando cumprir mandado não existe e se posicionando ao lado dos ricos, fazendo ameaça às pessoas e correndo risco de gerar um conflito ainda maior. 


População sem recursos até mesmo para levantar novos barracos / Foto: Reprodução

Zefinha do MTD destaca que essa prática vem se espalhando pelo país: “Os ciganos estão sendo ameaçados por empresários ricos com ajuda do governo federal que cortou a verba para quem mais precisa, doando verbas para aqueles que mais tem. Nós hoje estamos sendo expulsos das nossas localidades, das nossas terras, nossas moradias, uma luta que a gente construiu há anos e esse governo, junto com os empresários, estão nos ameaçando. O que está acontecendo na cidade de Sousa não é diferente do que está acontecendo em outros municípios; estamos sendo vítimas dos empresários que querem tomar tudo de nós para construir prédios, vender e ficar cada vez mais ricos e deixar nós cada vez mais pobres”, declara ela. 

Cícero Batista, o Maninho,  também da etnia cigana, ressalta a necessidade de preservar a cultura cigana: “Isso também serve para preservar nossas culturas porque estão invadindo nosso espaço e a senhora sabe que o cigano se incomoda porque a gente gosta de permanecer todo mundo junto, só nosso povo, faz parte da nossa cultura, e esse povo construindo perto da gente acabam com a nossa cultura, e a gente não quer isso”, pondera ele.
 

Edição: Heloisa de Sousa