Diante de inomináveis dificuldades frente à pandemia, a comunidade acadêmica, alunos e técnicos administrativos da UFPB, criaram o Comitê de Ações e Solidariedade - CASU. A frente tem realizado questionários para descobrir as reais necessidades e a vulnerabilidade a qual se encontra uma grande parte dos alunos da instituição.
O questionário, que começou a circular em 02 de julho, fez um levantamento da situação dos estudantes durante a pandemia, e já conta com mais de 900 respostas, abarcando 15 dos 16 centros da UFPB.
Em nota enviada para o Consepe (Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão) e à comunidade acadêmica, o grupo afirma: “Conclamamos que a comunidade universitária olhe para a realidade que os dados revelam, e levem em consideração aquelas pessoas com maiores dificuldades como princípio do seu planejamento”.
Segundo Raissa de Carvalho, do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, o objetivo é escutar, de forma sensível, os alunos e averiguar o rendimento acadêmico frente à pandemia: “O CASU é uma iniciativa não institucional cujo principal objetivo é chegar até os alunos que mais estão sofrendo as consequências dessa pandemia. Nós estamos trabalhando com um questionário bem sensível, um questionário humano, que realmente escuta o que os estudantes estão passando”
Os primeiros dados que chegaram são alarmantes e ressaltam a importância desse tipo de levantamento: “Além de termos as respostas dos alunos de forma remota, nossa intenção é chegar aos alunos que não têm conseguido internet para poder saber o que está acontecendo”, comenta Raissa, cuja principal preocupação é a evasão na universidade.
Para William Faustino, estudante de Ciências Biológicas e membro do Centro Acadêmico Rita Baltazar de Lima de Bem, a importância dos Comitês está relacionada à urgência de casos de pessoas vulneráveis, mas também o tratamento que a UFPB tem dado aos alunos: “Na prática, a realidade que presenciamos - e temos a sensação - é de que UFPB não tem levado em consideração as condições de vida dos discentes e docentes.
Método “profundamente genérico”
Segundo William, a universidade propôs um período regular remoto, mascarado de optativo, mas que comporta a estrutura de um período regular.
A Pró-Reitoria de Graduação, através do SIGAA vem fazendo questionários no sentido de avaliar o período suplementar remoto. As notas são de 1 a 5, e a comunidade acadêmica classifica o método de “profundamente genérico”.
O CASU tem feito circular o questionário:
1. Essas consultas representam todo o universo de estudantes?
2. Essas consultas consideram questões de saúde física/mental, além de condições familiares e socioeconômicas para um ensino remoto?
3. Essas consultas ao apresentarem várias questões acerca da capacidade dos discentes em dominar tecnologias e não contemplarem uma pergunta objetiva sobre ser favorável ou contra um período remoto, não acabam por individualizar a educação e, negar um direito básico em um sistema democrático, respectivamente?
4. A UFPB leva em consideração os aspectos pedagógicos a serem prejudicados no processo, além do risco apresentado àqueles que possuem disciplinas com carga horária prática indispensável de maneira remota?
O questionário, que foi elaborado de maneira coletiva, é parte de uma primeira etapa, de filtragem da real situação. O grupo acredita que as maiores dificuldades podem ser encontradas naqueles que não têm como responder aos levantamentos por não ter acesso à internet, por exemplo. “Em uma segunda etapa buscaremos alcançar os não respondentes”, afirma William.
Após levantamento, alguns dados do período suplementar já podem ser analisados:
Leia a nota integral do CASU:
LEVANTAMENTO REALIZADO PELO CASU - PRIMEIRAS RESPOSTAS
Contextualização
Os Comitês de Ação e Solidariedade da UFPB (CASU) acabam de ser criados, mas já têm retorno impactante de suas primeiras movimentações. Com menos de duas semanas, o levantamento da situação dos estudantes durante a pandemia já ultrapassou 900 respostas, abarcando 15 dos 16 centros da UFPB, e cresce rapidamente todos os dias. Nesta semana lançaremos o relatório detalhado a partir das primeiras 1000 respostas. Mas compartilhamos desde já esta primeira síntese, conclamando a que a comunidade universitária olhe para a realidade que os dados revelam, e levem em consideração aquelas pessoas com maiores dificuldades como princípio do seu planejamento. Deve-se considerar, também, que o alvo principal dos Comitês ainda não aparece aqui: aquelas pessoas que não respondem levantamentos eletrônicos, ou seja, aquelas cuja situação é ainda de maior vulnerabilidade – isto deve ser levado em conta na análise de cada dado abaixo.
O que os discentes pensam sobre um período regular remoto?
Vamos olhar alguns dados: 68,5% dos respondentes são contrários a um período regular remoto. Este dado é ainda mais significativo se considerarmos que 58,7% foram favoráveis ao período suplementar. O que acontece para esta inversão de posição do período suplementar para o regular? Temos algumas pistas. Apenas 20,3% alegam ter todas ou boas condições para acompanhar um período regular remoto, ou seja, praticamente 80% não as possuem. Mais da metade (55,2%) não dispõe de um ambiente propício ao estudo.
Como tem sido a experiência com período suplementar?
Entre aquele(a)s que realizaram atividades no período suplementar, 88,4% encontraram dificuldades,14,6% desistiram de parte ou de todas as atividades, e outros 49% não desistiram, mas observam a evasão de colegas.
Apenas 11,8% avaliam não ter prejuízo em sua aprendizagem no ensino remoto; 43,8% alegam falta de acesso ou acesso precário a recursos tecnológicos (lembrando que estes são os que responderam um formulário online), como acesso somente pelo celular, computador compartilhado, rede ruim etc. Entre moradores de residências universitárias respondentes, 75% alegam acesso insatisfatório à internet, e relatam problemas como falta frequente de água, energia e internet.
Tudo depende apenas do acesso às tecnologias?
AS DIFICULDADES ESTÃO LONGE DE SEREM APENAS TECNOLÓGICAS OU DE ESTRUTURA:
1. 60 ,3% tiveram sua condição financeira agravada pela pandemia.
2. Quase metade dos respondentes (48,2%) se considera em situação de vulnerabilidade econômica/social, e 76 pessoas (9%) indicam problema de acesso satisfatório a alimentação! Ao mesmo tempo, 70,7% não recebem qualquer tipo de bolsa ou auxílio da universidade.
3. 19 ,9% indicam necessidade de apoio acadêmico por vários motivos, inclusive por ter alguma deficiência.
4. 58 ,2% apontam que as tarefas domésticas e de cuidado dificultam ter tempo para atividades remotas.
5. 77 ,6% não teriam mais do que 4 horas diárias disponíveis para atividades remotas.
6. 46 ,8% revelam problemas de saúde que estão impactando suas atividades cotidianas, incluindo dores, lesões e uma ampla gama de transtorno mentais e/ou quadros de intenso sofrimento físico.
7. 57 ,2% dessas pessoas com problemas de saúde não têm acesso a qualquer tratamento ou rede de apoio. Por fim, ainda foram reveladas 13 situações de violência, a maior parte por questões de gênero, e mais da metade dessas situações sem acesso a redes de apoio.
O que fazemos com esses dados?
Como mencionado, estes dados ainda são iniciais, e o objetivo dos comitês é acessar aquelas pessoas que, por quaisquer dificuldades, não acessam formulários eletrônicos nem se matriculam em atividades remotas, o que certamente resultará em um quadro ainda mais problemático. Ressaltamos uma questão metodológica central: estes dados não se pretendem representativos, estatisticamente, do universo estudantil. Ainda estamos no início do levantamento. No entanto, nossa preocupação não é com a significação estatística das questões apresentadas, mas sim com os problemas em si. Se ninguém mais respondesse, consideramos que as quase mil pessoas já mostram um quadro gravíssimo, independente da porcentagem que representem do universo de estudantes. Consideramos inaceitável que, ao discutir um período regular remoto, não olhemos para estas situações e, principalmente, não discutamos como responder a demandas que a burocracia pode invisibilizar, mas nosso compromisso ético e político deve colocar como prioritárias.
Solicitamos apoio e parceria de todos os segmentos da comunidade universitária, em especial das coordenações de curso, direções de centro e da gestão central. Nossa proposta é incorporar no levantamento docentes, técnico-administrativos e terceirizados num segundo momento– pois sabemos haver aí tb situações graves, que não devemos ignorar ao nos planejarmos.
Para acompanhar o andamento das ações dos comitês e mais informações, sigam o perfil do Instagram: @COMCASU / E-mail para contato: [email protected]
Por um planejamento acadêmico que olhe para as pessoas mais impactadas pela pandemia. Juntos para que ninguém fique pra trás!
Edição: Maria Franco