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Dizem por aí que professor não quer trabalhar, mas afinal, o que dizem eles/as?

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É um indicador de que o sistema educacional há anos precisa ser reformulado, repensado, transformado

Por Coletivo Adélia de França*

O que estamos escutando, por parte de quem não se sabe, é que os professores não querem trabalhar, que são preguiçosos, ou que fingem estar trabalhando.

Outro dia, uma amiga, que trabalha na rede privada de ensino, relatou que tirou um tempinho para ir ao oftalmologista. Assim que ela foi atendida, a profissional questionou-lhe de uma forma bastante violenta dizendo: “Vocês dizem que estão trabalhando, mas é tudo fingimento, né!?” E quando ela ia responder, a profissional continuou: “Isso é um absurdo, tudo já voltou presencialmente, só não as escolas. A rede privada simula que dá aula, e na rede pública, os professores estão só na preguiça”.

A professora estava naquele local porque sua visão havia piorado de tanto que ela ficava no computador trabalhando. O horário de expediente dessa professora frente ao computador começava logo cedo, após o café da manhã, e terminava somente à noite. Além dela estar trabalhando em home office, ela ainda tinha que pesquisar conteúdos, buscar ferramentas adequadas para sua aula, gravar vídeos e outras coisas. Tudo para oferecer aos estudantes um melhor aproveitamento nesse momento, mesmo que em casa, já que é um risco para todos(as) estarem em uma sala presencialmente.

O que a sociedade precisa lembrar, é que o nosso trabalho exige um contato constante e direto com o(a) educando(a), principalmente nas séries iniciais, pois é necessário um convívio diário e muito próximo com os alunos na fase de alfabetização. Assim, é possível acompanhar o desenvolvimento sociocognitivo de cada um.

De repente, de uma hora para outra, percebemo-nos ‘youtubers’ (mesmo sem querer), toda essa carga de trabalho extra servia para propiciar aulas da melhor forma possível e com segurança aos discentes. Muitos de nós, educadores, tivemos nossos horários livres se confundindo com os nossos horários de trabalho, já que passamos a ficar conectados praticamente 24 horas para atendermos as necessidades dos estudantes, de seus familiares e ainda das demandas relacionadas a planejamentos, reuniões e formações da escola.

Para além disso, ainda temos o desprazer de ter como representante do nosso executivo um presidente que não só está despreparado em lidar com o problema da pandemia como também está dedicado a fazer uma campanha para difamar o magistério, pronunciando impropérios como: “para eles tá bom ficar em casa, por dois motivos: primeiro eles ficam em casa e não trabalham, por outro colabora que a garotada não aprenda mais coisas, não volte a se instruir”. Essas manifestações depreciam o nosso trabalho, ao mesmo tempo que fortalece o empresariado que busca a privatização da educação.

Esse discurso, que representa o entendimento do presidente sobre o trabalho de professores(as), também revela o que uma parte significativa da sociedade pensa, pois vem sendo reproduzido pela coletividade frequentemente. Isso é um indicador de que o sistema educacional há anos precisa ser reformulado, repensado, transformado, para ser transformador. Pois, dessa forma, o ser humano pode pensar, refletir e desenvolver um pensamento crítico, para que consigamos enxergar as barbaridades que estão em nossa cara.

Talvez assim, não reproduziremos as inverdades que a classe dominante quer que acreditemos, pois diante de um governo que tem como uma de suas propostas a minimização do Estado, marginalizar os profissionais da educação parece ser algo bastante proveitoso.

Nesse momento, a nossa luta, enquanto trabalhadores(as) da educação, é para garantir que a educação seja de qualidade para o corpo estudantil; é também permanecer firme para resistir a um modelo de governo neoliberal e neofascista, que pretende apagar a magnitude do educador em sua atuação profissional.


*A coluna Fala, professora Adélia! é uma iniciativa do Coletivo Professora Adélia de França que busca divulgar as reflexões das trabalhadoras e trabalhadores em Educação da Paraíba. Para contribuir com essa organização coletiva, escreva para [email protected]

Edição: Cida Alves