Quando teremos uma sociedade mais sustentável?
Por Geysianne Felipe*
Quando observamos a escalada de tensões políticas, econômicas, ambientais, educacionais e de saúde ano após ano - sobretudo em 2020, cotidianamente nos perguntamos: “Quando será que teremos uma sociedade mais equilibrada que essa?”
Para nós mães (e também pais), fica ainda mais difícil imaginar pois também nos perguntamos: “Que mundo estamos deixando para nossas crias?”. Esse texto então, pretende refletir brevemente esse assunto, porém, sob uma outra perspectiva: Que crianças estamos deixando para o mundo? Qual a nossa responsabilidade em deixar crianças e adolescentes em condições de bem estar e de serem protagonistas da melhoria do falado futuro?
Em 2015, três anos após a realização da conferência Rio +20, sediada no Rio de Janeiro em 2012, 193 Estados assinaram a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável propondo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Essas metas são importantes de serem estipuladas e monitoradas para que o alcance a elas seja de fato possível, principalmente por que segundo dados da UNICEF no relatório “Progressos para Crianças na Era ODS”, mais de meio bilhão de crianças atualmente vivem em países onde não se consegue medir progressos com base nos indicadores das ODS.
Um dado muito preocupante, pois, a maioria desses objetivos afetam diretamente a qualidade de vida das crianças e adolescentes e fica evidente ao nos depararmos com essas situações, que a infância e adolescência ainda tem dificuldades de serem inseridas no debate público por um viés de protagonismo infanto juvenil. Ou seja, crianças e adolescentes com vez e voz ativa.
Mas afinal, as crianças tem maturidade para serem protagonistas de suas histórias e da história da comunidade ao seu entorno? Normativamente as crianças não tem voz ativa junto aos adultos, porém as mudanças culturais percebidas nos últimos anos que se refletem nas relações contemporâneas tem contribuído para que tenhamos crianças e adolescentes cada vez mais ativos e ativas nas suas convivências e nos seus processos de aprendizagem.
A comunicação mais plural e acelerada tem ecoado muitas dessas , ainda que a desigualdade de oportunidades considerando a classe, raça e gênero seja tão latente quanto. Desigualdade social na infância inclusive é algo que deve ser erradicado o com máximo comprometimento de toda a sociedade.
Quando crianças e adolescentes se sentem estimulados e capacitados para opinar sobre sua escola, seu bairro, chegando até mesmo em instancias governamentais como os conselhos e parlamentos mirins, isso oportuniza o monitoramento das políticas públicas essenciais ao bem viver coletivo por indivíduos que estão do presente construindo o futuro de maneira coerente e sensível.
O protagonismo infanto/juvenil, considerado uma inovação na prática socioeducacional, está presente na nossa legislação a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É nosso dever nos apropriarmos desse mecanismo legal e cobrar que ele seja efetivado nos vários espaços de convivência infantil / adolescente.
Investir no protagonismo infanto/juvenil é criar uma democracia saudável e construída desde a base; melhorar as condições de vida e de expressão dessas crias é plantar o futuro no presente. Se queremos realmente um mundo melhor, as sementes já devem ser plantadas agora, pois o futuro já está acontecendo, indivíduos melhores que podem criar a tão sonhada sociedade mais justa já estão habitando entre nós. Nada pra depois. Fiquemos desde já com a pureza das respostas das crianças, é a vida... é bonita e é bonita!
*Geysianne Felipe é mãe de Ângelo, mestranda em comunicação e culturas midiáticas, atua em projetos sociais no terceiro setor; articuladora na Coletiva de Mães Pachamamá.
Edição: Cida Alves