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A Fome e a COVID-19 no México

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Zócalo - Centro Histórico da Cidade do México - Internet
O presidente mexicano, Àndres Obrador, minimizou a gravidade da pandemia

A pandemia da COVID-19 provocou, nas três maiores economias da América Latina (Brasil, Argentina e México), desastrosas consequências econômicas. Da mesma forma, os dados da fome na região só crescem. Com o 5º ano seguido de alta nesse indicador, a pandemia apenas fomentou questões já preocupantes. Até 2030, a fome pode impactar cerca de 67 milhões de latino-americanos. O México, uma das regiões mais afetadas, além de possuir um sistema de saúde fragilizado e uma intensa economia informal, também vai sofrer com a diminuição do PIB nacional, o aumento do desemprego e o aumento da pobreza.

O México registra mais de 1 milhão de casos e foi a 4º economia a apresentar o triste marco de 100 mil vítimas. Segundo a Universidade Johns Hopkins, a região possui uma taxa de mortalidade de 9,8%, uma das mais altas do mundo. Um dos motivos para a fragilidade do combate à pandemia no país foi que, assim como no Brasil e nos Estados Unidos, o presidente mexicano, Àndres Obrador, minimizou a gravidade da pandemia. Indo na contramão das indicações da Organização Mundial da Saúde, o presidente demorou para implementar as medidas de isolamento e, mesmo com o aumento da curva de contágio, flexibilizou as medidas afirmando a necessidade de movimentar a economia, colocando em xeque a vida da população. Em abril, mesmo com o conhecimento das consequências do vírus em outros países, o governo ainda não tinha implementado testes em massa e rastreamento dos contaminados.

A falta de auxílio do governo para a população também provocou, em junho, um surto de contaminação da doença no mercado Central de Abasto na Cidade do México. O maior mercado de rua da América Latina abastece 22 dos 32 estados mexicanos, fornece 80% dos alimentos da capital e emprega cerca de 90 mil pessoas. Sem o conhecimento adequado sobre a gravidade e as consequências do vírus, a maior parte dos funcionários, vivendo com empregos informais e sem seguro-desemprego, continuou trabalhando.

Devido ao isolamento, as consequências da diminuição das atividades comerciais vão transparecer em muitos outros indicadores. O país latino-americano foi tremendamente impactado com milhões de empregos perdidos e empresas fechadas. A previsão de queda média no PIB do ano de 2020 no país vai ser de cerca de 8,4% e a pobreza vai aumentar 7,6%. Nesse sentido, a paralisação provocou retrocessos históricos no combate às desigualdades. Muitas famílias reduziram ou alteraram os hábitos alimentares para prolongar a duração dos alimentos; assim, um a cada três mexicanos vivenciaram insegurança alimentar durante os primeiros meses da pandemia.

A dificuldade no acesso aos alimentos e o alto consumo dos ultraprocessados causou o aumento da insegurança alimentar e da obesidade. A situação é semelhante nos demais países da América Latina, já que essa é a região onde é mais caro para uma pessoa pobre manter uma dieta equilibrada, o que impulsiona o consumo de ultraprocessados por causa do menor custo destes produtos frente aos alimentos saudáveis. Com uma alimentação pobre nos nutrientes necessários para se manter saudável, problemas de saúde como diabetes e hipertensão se tornam mais frequentes e preocupantes, visto que essas doenças agravam os sintomas da COVID-19. Segundo a FAO, o México está entre os dez países líderes em obesidade no mundo, com cerca de 32% da população nesta condição. As pessoas com sobrepeso e obesidade estão dentro do grupo de risco; da mesma forma, essas questões podem afetar a saúde de gerações futuras, pois algumas doenças adquiridas por meio da alimentação inadequada podem ser transmitidas hereditariamente. Para conter a situação, é imprescindível que o Governo implemente políticas públicas para reforçar as cadeias de produção alimentícia, principalmente fortalecendo os pequenos agricultores.

Ao longo dos últimos meses o México não teve quedas significativas nos contágios da doença, principalmente devido à negligência do governo no combate à COVID-19 e da profunda desconfiança da população mexicana em relação às autoridades.

 

Por Ellen Maria Oliveira Chaves

Edição: Henrique Medeiros