Tem sido difundida a ideia das mães como guerreiras imbatíveis
A pandemia da Covid-19, que assola o Brasil e o mundo, tem posto em evidência a condição das mães que vêm resistindo e sofrendo com o alto índice de estresse e cansaço somado aos cuidados da casa, dos (as) filhos (as), dos estudos, do sustento de si e dos seus. As medidas de distanciamento social são, para muitas, uma utopia, pois o trabalho informal é sua única fonte de renda, logo o isolamento social anda em sentido oposto à segurança alimentar da família.
Sem falar que o trabalho doméstico não remunerado é exercido em grande parte por nós mulheres e mães. Ao final do dia estamos sem saber se tivemos tempo pra comer ou ao menos para tomar banho. O que nos leva a pensar: quem cuida das mães quando a casa silencia? Será que somos realmente guerreiras? Ou só estamos sobrevivendo?
A pandemia como gatilho de mudança no comportamento dos pais em casa | Revista Fórum
Tem sido difundida a ideia das mães como guerreiras imbatíveis, uma visão que, para mim, é distorcida da realidade que nos foi imposta. A Covid-19 nos colocou em cheque, muitas de nós perderam suas redes de apoio e encontram-se sozinhas para dar conta de tudo.
Estamos há mais de 08 meses remando contra a maré. Fala-se muito do mundo pós-pandemia e eu me pergunto sinceramente: e a saúde mental das mães, como ficará? Na incerteza que vivemos, ficam as questões, mas, também, a constatação de que somos nós, mães, que sustentamos os pilares da vida familiar. A realidade é difícil, o estresse é inevitável e não sabemos até quando iremos aguentar.
Se a pandemia veio para nos ensinar alguma coisa, acredito que o primeiro ensinamento é que não somos guerreiras, no sentido mítico. Somos mulheres sobrecarregadas, que amam seus (as) filhos (as), mas que também querem um momento para si. Somos guerreiras, pois, do contrário seremos engolidas pelo sistema. Ser uma mãe guerreira é enfrentar uma sociedade que nos invisibiliza e naturaliza a tripla jornada de trabalho. Não está sendo fácil, mas no momento atual só nos resta re-existir para continuar existindo.
Iany Elizabeth da Costa, licenciada em História e em Geografia, Doutoranda em Geografia – PosGeo/UFF, pesquisadora de gênero, territórios tradicionais e educação étnico-racial, ativista em Direitos Humanos, faz parte do Pachamamá coletiva de mães.
Edição: Henrique Medeiros