Paraíba

Coluna

Carta de um doido, doído. Hugo Berlamino*

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Estandarte homenageia foliã Paula Oliveira Adissi. - Thercles Silva
Pra fazer folia com todes que querem mudar o mundo

Oi carnaval, tudo bem? Nem sei bem como começar a sensação é de um vazio estranho, imenso, como se uma parte de mim estivesse órfão de glitter e purpurina e de frevo e de maracatu e de samba e de axé e de qualquer-música-na-rua-que-faz-a-gente-sorrir-e-dançar.


Queria te dizer o quanto você é importante para mim e para nós. Não porque você “movimentava a economia”, mas porque você sempre ajudou a gente a ser quem a gente é, seres incompletos e inconclusos e que precisam d@ outr@ para existir, e (re)existir. 


Você sempre diz pra gente, todo ano, que é preciso dançar e cantar para alegrar a cidade (e o campo também!). Você sempre ensinou pra gente que, no final e com tanto aperreio, Você é resistência e potência subversiva contra a caretice, buscando reinventar e (re)encantar esses territórios de controle para criar outros mundos, mesmo que sejam por alguns dias doidos que a gente espera o ano todo. E eles, os outros, podem até te curtir como festa, mas nunca vão te entender. No fundo no fundo, eles te odeiam, carnaval, assim como odeiam a poesia e a arte.


Estou doído, porque estar com você sempre foi e sempre será uma coisa muito séria pra gente, carnaval. Mas você sabe que é necessário esse tempo entre nós, porque também tem muita coisa séria acontecendo, né mesmo? Você sabe disso e nem preciso explicar as razões. No meio do caminho tinha um 17...


Mas essa cartinha é antes de tudo uma carta de amor pra você e pr@s doid@s, por tudo que você já proporcionou e proporciona pra gente, quando “ajunta” a gente, gente diferente, divertida, colorida, sofrida também e muito, muito necessitada de encontros e abraços, intensos, amorosos e revolucionários. Onde cabe todo mundo, só não cabe intolerância e preconceitos.


Queria que você mandasse um beijo grande para as doidas e os doidos do bloco, porque eu sei que eles estão doídos como eu. Afinal, seriam 14 anos desde que a gente inventou essa maluquice de transformar em poesia, homenagem e festa, de novo, uma brincadeira maldosa que faziam conosco e viramos uma referência nas prévias da folia de rua antes de encontrar contigo, com as Muriçocas e com o Cafuçu. Pra fazer folia com todes que querem mudar o mundo em Jampa e no Brasil, que se encontram contigo na rua, que é e sempre será o melhor lugar para a gente se encontrar, né?


Nem sei bem como falar com elas e eles, porque tou realmente doído e não consigo falar sem chorar (logo eu, né...). Então se você puder diga o seguinte para todes: assim como amamos você, amamos a potência dessa maluquice das doidas e doidos de Jampa, amamos tanto e de tantos jeitos que quando a gente se encontrar de novo vai ser uma explosão insana.


Vamos subir e descer ladeiras como se não houvesse amanhã, vamos correr gritando “doidédoido” como no primeiro ano com uma palha de coqueiro, vamos abraçar todas as vovós e vovôs na São Rafael e dar um xêro de “obrigado” neles por ficarem nos esperando, vamos gritar desvairados no espetinho do silêncio (só para deixar marcado que não vamos nos calar nunca mais!), vamos refazer caminhos no Castelo e fazer ziguezague incensando, colorindo e musicando as ruas, abraçando cada “doido do lado”, só para demorar mais a chegar no Contorno! E vamos fazer dois bailes do Bloco ao invés de um, só pra descontar (porque pra arrecadar dinheiro a gente nunca foi bom!) e vamos fazer uma festa e um muído tão grande, mais tão grande, que você vai ficar com a gente a tarde toda, a noite toda e a madrugada toda e no outro dia seguinte... vamos começar tudo de novo.

Você é muito importante para nós, viu? Vocês, doidas e doidos, são muito importantes, viu? Amo vocês!

Um xêro no ôi e um abraço apertado igual as ladeiras das Olinda.

Espero que um dia a gente não precise esperar por você, porque você vai estar com a gente o ano todo, dentro e fora da gente. E aí vai ser revolução.

*Hugo Belarmino é Advogado Popular, Professor da UFPB, Folião e integra o Bloco Doido é Doido

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Edição: Maria Franco