Alder Júlio Calado*
Nossas lutas por Reforma
Tem mais de quinhentos anos
Índios, Negros, Camponeses
Pelejaram contra insanos
Desde os anos de quarenta
Nossa Gente então enfrenta
Do sistema tristes planos
Num tempo de intensas lutas
Por reformas radicais
Nossas Ligas Camponesas
Nos orgulham muito mais
Esse Movimento forte
Do sistema quer a morte
Pois quer terra, pão e paz.
No ano de vinte e cinco
Nasce Elizabeth da Costa
Seu pai, um proprietário
Nesta filha não aposta
Pois queria um filho macho
E seu sonho foi abaixo
A menina, a resposta...
A menina foi crescendo
Intrigada com a fartura
Contrastando fortemente
De agregados vida dura
A menina, pensativa
Sua consciência ativa
De ver isto, não atura
Conhecendo os sentimentos
De sua filha generosa
Seu pai logo a proíbe
Visitar ou ter mais prosa
Junto com as moradoras
Fossem pretas, fossem louras
Ô que vida desditosa!
Quanto mais a proibia
Solidária mais ficava
De sua casa ia levando
Roupa, farinha, fava
Acudindo as criancinhas
Que lhe eram tão vizinhas
Seu pai nem adivinhava...
A criança revelou-se
Pelo estudo apaixonada
Pretendia ir muito além
De leitura e tabuada
Mas, seu pai não lhe permite
E lhe impõe grande limite
Quer a filha controlada...
Na bodega, era mais útil
Despachando a freguesia..
Foi aí que se engraçou
De um moço que contraria
Os caprichos do seu pai.
Com João Pedro casar vai
Seu pai os perseguiria...
Diante das circunstâncias
Que enfrentam com seu tio
Vão morar longe, em Recife
Em lugar mais arredio
E trabalho duro assume
Da dureza tem costume
Vão chegar mais desafios
Da luta mais conscientes
Depois desses nove anos
Curtem o sonho de voltar
À terrinha, com mil planos
De criar um sindicato
Que cuidasse, de imediato
Dum sofrer tão desumano...
Quando a Liga foi criada
Como tinha boa escrita
Elizabeth ajudava
Por justiça também grita
Ao lado dos companheiros
Mas também dos seus herdeiros
Bem cuidava, embora aflita
Latifúndio a farejar
Quem ousasse dizer NÃO
Aos esquemas de chacina
De penúria, do cambão
Que João Pedro denuncia
E com a vida pagaria
Mulher, filhos sofrerão!
Ao martírio de João Pedro
Segue-se o de Elizabeth
Um rosário de problemas
A polícia pinta o sete
Seus filhos, traumatizados
Revolta por todo lado
“Segue a luta” – ela promete!
Em memória de João Pedro
E de outros já tombados
Se faziam todo mês
Atos públicos – muitos brados!
Elizabeth presente
Vem o Golpe, de repente
Camponeses são caçados...
Foi terrível a violência
Que do Golpe se arrecada:
Prisões, mortes e torturas
Sua família destroçada
Ela tem que se exilar
Ficar longe do seu lar
Quinze anos sem ver nada...
Seu exílio – São Rafael
Enfrentou com valentia
Lavadeira, professora
De tudo ela padecia
Mas, enfim, sobreviveu
Reencontra filhos seus
Só depois da Anistia
João Pessoa, 31 de janeiro de 2011
*Alder Júlio - Professor, Pesquisador, Educador Popular, Poeta e Militante das causas sociais.
Edição: Maria Franco