A crise que assola o Brasil hoje, é humanitária. A fome anuncia o descaso e a negação da vida. A incompetência do Governo Bolsonaro no combate a pandemia do COVID-19, que já completou um ano, compromete a vida de cada brasileiro e brasileira. Somado a esse fator, o desemprego bate na porta de mais de 14 milhões de pessoas e restitui a síndrome que todo cidadão da classe trabalhadora que viveu nas décadas anteriores aos anos 2000 já sentiu na pele: a síndrome da fome.
Não tem sequer um dia nesse país que o trabalhador e a trabalhadora não sejam golpeados pelo projeto neoliberal do governo Bolsonaro. Desde a aprovação da PEC 55 (2016) que congela os gastos na saúde, na educação e na segurança por 20 anos, o projeto de sucateamento a esses setores é estabelecido. Deu-se início a sequência de reformas que alteram e diminuem os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. O abre-alas é a aprovação da reforma trabalhista em 2017 que mudou regras relativas à jornada de trabalho, remuneração e plano de carreira. Que na lógica neoliberal se deu pela retirada dos direitos básicos de trabalho conquistados a duras lutas pela classe. Hoje, a falta - ou nenhuma - habilidade para o combate à pandemia do COVID-19 aprofunda a crise sanitária e o genocídio do povo. O atraso da vacinação em massa, na qual o Brasil já foi referência um dia, consolida esse projeto de morte com mais de 278 mil vítimas.
Após o golpe em 2016 e a consolidação de Temer presidindo esta nação, o desmonte dos planos de abastecimento nacional, ideal para o enfrentamento de crises, começou a ser colocado em prática. A CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento e o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, referência e modelo de aquisição, armazenamento e escoamento de alimentos foram completamente estagnados e reduzidos. A ponto de hoje no Brasil, termos menos de 50% da capacidade de armazenar alimentos comparado ao ano de 2014.
Carestia
A alta nos preços dos itens da cesta básica, é um reflexo dessa política de desmonte. O item mais consumido pelo brasileiro nas suas refeições diárias, o arroz, teve um aumento de custo de +76,01% no último trimestre de 2020. Assim como o óleo de soja (+103,79%). O que torna cada dia mais perceptível a necessidade do auxílio emergencial. Logo, levantar a bandeira em defesa da renda básica para as famílias brasileiras, é garantir que o direito à alimentação seja minimamente possível. O ideal, é uma renda mínima que garanta e respeite as características culturais e histórico-sociais carregadas por cada família. Afinal, o direito de comida na mesa é fruto de muita luta do povo brasileiro e que hoje, pela negligência governamental, segue morrendo a míngua.
A alta na inflação (4,52%) e no custo de vida da população, leva a crer sob mau caratismo de Paulo Guedes que a economia do país está sob controle, já que a alta está dentro do plano de metas do Governo Federal para o último ano (4%). Quando na verdade, segundo um estudo feito pelo FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas em parceria com o Apas - Associação Paulista de Supermercados, a inflação nas unidades varejistas de alimentos atingiu 15% em 2020. É completamente desonesto o Ministro da Economia afirmar o controle, enquanto milhares de pessoas não conseguem comer dignamente, porque a cada dia os preços nas prateleiras dos supermercados aumentam, enquanto o direito ao auxílio emergencial é negado e o número de desempregados só cresce.
Lucro acima da vida
Em contrapartida ao aumento da fome, os hipermercados tiveram em 2020 a maior margem de lucro dos últimos anos. Segundo uma pesquisa feita pela ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados - houve um crescimento de 9,36% em comparação a 2019. Em redes de grandes supermercados, como o Carrefour, isso significa um ganho de +2,75 bilhões de reais. Lucro acima da vida é o mote do projeto de morte que se estabelece nesse país. Enquanto o Brasil retorna ao mapa da fome mundial e avança no quadro de pessoas em situação de miséria, as grandes empresas do setor alimentício, com ajuda do governo, aumentam suas investidas em alimentos ultraprocessados. Com a fragilização das políticas de fiscalização de rótulos, a liberação de uso de agrotóxicos e conservantes químicos, as grandes corporações de alimentos se aproveitam para lucrar.
Nesse sentido, o aumento de doenças crônicas não transmissíveis -DCNT- , dentre elas diabetes, doenças arteriais e mal de Alzheimer, cresce em disparada entre a população jovem. As estimativas globais de saúde divulgadas pela OMS, listou que 7 entre as 10 principais causas de óbitos são DCNT. Se o sucateamento das políticas de produção de alimentos do pequeno agricultor existem, o que resta é a soberania do agronegócio e da indústria de alimentos ultraprocessados intoxicada de produtos químicos que degeneram a saúde. Enquanto no governo Dilma se pensava o combate de tais doenças, desenvolvendo em 2011 o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que pretendia até 2022 ter mapeado e controlado tais doenças no Brasil. Na atual conjuntura, temos um governo que não se importa com as vidas tiradas pelo COVID-19, com as famílias que morrem de fome e com a precarização da alimentação.
O aprofundamento das crises, escancarou problemáticas sociais que foram colocadas embaixo do tapete por algum tempo. Hoje, no contexto do agravamento da pandemia e ineficiência do Governo Federal para combatê-la, os brasileiros vivem num país largado ao caos. A luta pelo auxílio emergencial e pela vacinação em massa é se colocar combativo ao projeto de morte neoliberal liderado por Bolsonaro. É colocar a vida como prioridade. O povo brasileiro quer combate a pandemia, vacinação, emprego, segurança e comida no prato. O povo brasileiro quer viver.
*Militante do Levante Popular da Juventude
Edição: Heloisa de Sousa