Bob Fosse, em seu clássico "Cabaret" (1972), produz uma cena, também clássica, em que os personagens principais se apresentam no palco, em bela sátira à acumulação capitalista, cantando: "money, money, money, money".
O filme, ganhador de vários Oscar®, sintetiza o capitalismo.
É essa a tragédia atual. A pandemia provocada pelo novo coronavírus, evidenciou que, sob esse sistema, a vida interessa menos, muito menos do que acumular money.
Da decantada Bélgica, à politizada França, à consciente Alemanha ou aos ricos Estados Unidos da América, as mortes por milhão de habitantes são alarmantes. Na realidade, essas nações foram derrotadas pelo vírus. Derrotadas. Contabilizam montanhas de mortos e o naturalizam para esconder seus fracassos diante da pandemia.
As duas coisas mais importantes para o seu enfrentamento, essas nações, ricas e desenvolvidas, ou pobres e atrasadas, não têm. Faltou-lhes consciência solidária, coletiva, à altura das necessidades impostas por essa pandemia. Faltou-lhes também firmeza e decisão política comprometidas com o bem-estar da população.
Nos dois casos, em essência, os interesses econômicos, o "vírus" da acumulação de riquezas. O "vírus" do money impediu as medidas necessárias para barrar a proliferação do vírus.
No Brasil, a essa doença, se somou o caos administrativo instalado no Planalto Central. Aqui, o cenário é de terra arrasada.
Alastra-se a fome em grandes plantações. Plantações de fome planejada pelos donos do capital.
A miséria e a fome são bases para o capitalismo dependente de superexploração no Brasil.
Não se justificam leis de responsabilidade fiscal, de limite de teto de gastos que impeçam salvar vidas.
Um país onde é crime infringir o equilíbrio fiscal, mas não é crime se omitir diante das vidas ceifadas por ausência de cuidados, revela que seus valores ético-morais estão absolutamente invertidos.
É a expressão de uma sociedade já apodrecida há tempos.
*Professor do Departamento de História - CCHLA/UFPB. Pesquisador Visitante no INSA - Instituto Nacional do Semiárido
Edição: Cida Alves