Paraíba

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Vacina de Camarote: desumanidade e egoísmo em meio à pandemia

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Ilustração - Reprodução
O poder econômico conseguiu aprovar, na Câmara Federal, a possibilidade das elites 'furarem' a fila

A Pandemia causada pelo novo coronavírus é a maior tragédia humana após a 2° Guerra Mundial. Se o epicentro da II guerra foi a Europa, o epicentro da tragédia atual é o Brasil. 

A manterem-se as atuais taxas de mortalidade por Covid-19, o Brasil atingirá, em abril, cerca de 40 mil mortos a mais do que nascimentos. Pela primeira vez em nossa História, teríamos ou teremos taxas de crescimento demográfico negativas. 

No Brasil, a crise sanitária encontrou as condições perfeitas. Ignorância, negacionismo, desrespeito, desgoverno e egoísmo, muito egoísmo.

Agora o poder econômico conseguiu aprovar, na Câmara Federal, a possibilidade das elites "furarem" a fila de vacinação. O privilégio de adquirirem imunizantes e vacinar os seus independentemente do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

É lógico que, a cada dose de vacina oferecida a essa ideia nazista, retiram-se imunizantes que deveriam estar sendo aplicados conforme o PNI, seguindo as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual orienta a vacinação conforme a vulnerabilidade das pessoas. Se a regra estabelecida for o poder econômico, teremos situações absolutamente desumanas. 

Essa é uma situação mais do que absurda. Aliás, isso se inspira em Hitler e no Nazismo, quando dos surtos de tifo e piolhos nos territórios ocupados pelo exército alemão durante a 2° Guerra. Era preciso salvar Arianos, "ricos e belos", na visão hitlerista.

Imaginemos a hipótese de que tivéssemos disponíveis 10 milhões de doses de vacina no mundo (ou seja, no mercado, já que vacina virou mercadoria). O governo brasileiro iria (ou irá) concorrer nesse mercado com a própria iniciativa privada brasileira para adquirir esses imunizantes, já que é falsa a ideia de que existem vacinas exclusivas para a iniciativa privada. 

Existem vacinas para serem vendidas. Se a iniciativa privada compra, ela está tirando a vacina dos governos. Ao governo brasileiro cabe aplicar as vacinas conforme o PNI. A iniciativa privada anuncia vacinar "os dela", furando a fila do PNI, a qual segue critérios recomendados pela OMS: idosos, comorbidades, etc., enfim, vacinação por critério de vulnerabilidade... 

Qualquer vacina que se retire do PNI é, portanto, uma violação aos direitos humanos, um crime. Caso essa desumanidade aconteça, a vacinação obedeceria (ou obedecerá) a lógica de quem tem mais dinheiro. 

Isso em um país com 15 milhões de desempregados, ou seja, 60 milhões de pessoas sem vínculo empregatício com nada. Somem-se a isso os 60 milhões de desesperados, que sequer procuram empregos, que estão vivendo de bico, de subempregos, em condições precaríssimas.

O cinismo é dizer que uma ideia dessas ajudaria o SUS... Quer ajudar o SUS? Compre vacina e DOE ao Plano Nacional de Imunização. Doe imunizantes, medicamentos ou equipamentos de que os hospitais precisam a toda hora e o Ministério da Saúde não compra... 

Não compra porque os nazistas Bolsonaro e Guedes não rompem com a política fiscal neoliberal. Não querem gastar com saúde para assegurar, em plena pandemia, a remuneração dos especuladores do sistema financeiro que se alimentam dos saldos economizados em saúde, educação, etc.

Se se concretizar esse descalabro, imaginemos a seguinte situação, perfeitamente plausível: os filhos dos ricos serão todos vacinados, fora do PNI; gente de 20, 22 anos, sem comorbidades, imunizada...  Enquanto a moradora vizinha, de um bairro pobre, 57 anos, hipertensa, sob risco de se contaminar e morrer porque, na fila, a vacina não chegou a tempo.

Quem matou essa mulher? Dito de outra forma: Quem tirou sua vacina = sua vida? A desumanidade, o egoísmo de alguns. Não haverá outra resposta.
 

Edição: Cida Alves