Lama, fogo, veneno e motosserra. Muitas mortes misturadas aos muitos 'nãos' para comprar a vacina
Lágrimas! Lágrimas e mais lágrimas banham o povo brasileiro. Lágrimas de tristeza. Lágrimas de dor. Lágrimas de sofrimento. Lágrimas de desespero. A sensação de proximidade da morte marca profundamente nossa gente. Gente que viu despencar seus direitos, sua soberania, sua capacidade de compra, sua saúde, segurança e, por fim, a vida de seus familiares, amigos e desconhecidos. Vidas ceifadas prematuramente.
A Covid-19 estava do outro lado do mundo enquanto o Brasil brincava o carnaval. Líderes políticos, empresários e alguns gestores públicos do mais alto escalão das esferas administrativas zombavam: “É uma gripezinha”. Enquanto a lama tóxica da barragem de Brumadinho ainda estava molhada, escondendo suas derradeiras vítimas, o fogo avançava sobre o Pantanal, queimando vidas e transformando em cinzas cadavéricas o verde outrora vicejante da paisagem.
Perto dali, o barulho ensurdecedor de tratores e motosserras que dizimavam a Floresta Amazônica em um ritmo de desmatamento jamais registrado no país. A liberação de agrotóxicos escancarou a estupidez de quem fez a “boiada passar”. Muita lama, fogo, veneno e motosserra. Muitas mortes misturadas aos muitos “nãos” para comprar a vacina, “nãos” para vacinar o povo.
Enquanto o preço do arroz subia, o preço do óleo de cozinha subia mais e, mais ainda, subia o preço do botijão de gás. O custo de vida aumentando, o dólar batendo recorde de altas sucessivas. Já sem emprego, sem trabalho, sem comida... sem perspectiva, vão somando 27 milhões de pessoas com fome, passando fome.
Mais um recorde de safra. O agronegócio anuncia, o Governo Federal comemora: “a safra de grãos irá superar a do ano anterior. Somos o maior produtor agrícola do planeta”. Mas ir ao supermercado, ao mercadinho, às compras, já não é possível para 27 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem na miséria.
Sob a pátria mãe gentil, 14,3milhões de pessoas desempregadas. Fecham escolas, creches, comércios, fábricas, cemitérios, estradas, parlamentos... só não fecham as feridas da injustiça social. No seio dessa imensa ferida, a pátria sem rumo certo assiste compassível seu retorno à idade das trevas, negando a ciência, e ,sem clemência, o timoneiro do caos vai conduzindo a embarcação verde amarela às entranhas da construção social do sofrimento, da incerteza e da dor.
Edição: Cida Alves