Historicamente a luta de pessoas LGBTQIA+ em busca de direitos é marcada por grandes processos. Nesta segunda-feira, 17 de maio, foi dado como o dia de luta contra a LGBTfobia. Essa data é um marco que teve início em 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homosexualidade da Classificação Internacional de Doenças. A partir de então, o 17 de maio tornou-se o Dia Internacional contra a Homofobia, rememorando as lutas da população LGTQIA+ contra a violência, perseguição às quais sofrem diariamente.
Há uma evolução na conquista de direitos civis, no entanto, ainda é alarmante os números sobre casos de violência moral, verbal e física. Segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA World), ainda existem seis países que punem com pena de morte pessoas LGBTQIA+ (Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália). Em 35% dos países é perigoso revelar a homossexualidade, podendo ter penas de até 10 anos de prisão ou prisão perpétua.
Em 2020, houve 237 vítimas da homotransfobia no Brasil, segundo um levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), ou seja, uma média de uma vítima a cada 36 horas. Hoje a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) noticiou que José Tiago Correia Soroka é suspeito de assassinar 3 homens em Curitiba e Santa Catarina.
“Ele tem perfil de serial killer, com problemas psicológicos. Precisamos tirá-lo de circulação o quanto antes, pois está matando uma média de uma pessoa por semana. Queremos realmente alertar o grupo gay”, destacou o delegado Thiago Nóbrega.
Ato de discriminação de LGBTQIA+ é previsto como crime desde 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTfobia ao delito de racismo, com base no artigo 20 da lei 7.716/1989, que trata dos crimes de preconceito por etnia ou por cor.
Letícia Monteiro, pansexual, residente em Campina Grande - PB, nos concedeu uma entrevista: “O dia 17 de maio é marcado por um dia de luta da comunidade LGBT, dia que marca a vitória da luta contra homofobia, e que a homossexualidade passa a ser desconsiderada como doença e por motivos óbvios para muitos, mas que, para grande parte da população, ainda somos tratados com um certo tipo de anormalidade, em meio a um país que está em primeiro lugar no ranking em homicídios pela LGBTfobia, nos trás a sensação que esse marco está apenas no papel, pois as pessoas estão cada dia mais violentas, muitas vezes temos que "escondermos" sentimentos pra não sermos violentados, isso se torna não só um dia de "comemoração" pelos direitos alcançados, mas um dia para refletirmos e lutarmos ainda mais por direitos e por respeito diante a nossa comunidade. É um dia importante para lembrarmos das lutas e conquistas, mas é mais um dia de luta, de luta pelo direito de viver assim como somos, e com as pessoas que amamos independente de gênero.”
Ainda é preciso falar sobre a LGBTfobia, acontecimentos como a homofobia da qual o ex-participante do BBB 2021, Gil do Vigor, foi vítima ainda estão presentes na sociedade brasileira. Gil é torcedor do Sport, havia sido convidado pelo clube para conhecer o estádio, postou fotos, concedeu entrevista e fez a famosa coreografia “tchaki tchaki”. No último dia 14, um áudio do WhatsApp ganhou repercussão, nele o membro Flávio Koury disse: "Se ele tivesse feito essa dancinha na casa dele ou no bordel, eu não estava nem aí. Foi dentro da Ilha do Retiro, né rapaz? Isso é uma desmoralização! Isso é ausência de vergonha na cara. É isso que estamos vivendo. Não tem mais respeito por pai e filho. É a depravação. Isso é o retrato do que o PT deixou pra gente. É exatamente isso."
Em decorrência deste fato, o deputado Romero Albuquerque solicitou a expulsão do conselheiro do Sport. Além disso, torcedores também pedem a expulsão do conselheiro e já conseguiram mais de 3 mil assinaturas.
"Esse é um dia para reforçar que LGBTfobia não é opinião, é crime!", airma o jovem Alan Kilson, de 26 anos, residente no assentamento Oziel Pereira no município de Remígio - PB e militante do MST. "Dia da visibilidade LGBTQIA+ é mais um dia para lutar contra os preconceitos e para nos reafirmar como indivíduo dessa sociedade e para mostrar as todas formas de violência que vivemos todos os dias, principalmente nesses dias difíceis que estamos vivendo com uma pandemia e um governo genocida. Por isso nossa luta é todo dia pelas vidas dxs LGBTQIA+, Vacina e Trabalho", disse.!
A ilustradora digital Rena Vasconcelos, disse, em entrevista, que é preciso lutar todos os dias contra a homofobia e falou do sentimento de silêncio e solidão por não poder falar sobre os relacionamentos afetivos como todo mundo fala. "Vi uma cena que me chamou atenção. Mainha estava conversando com a vizinha, que contava como a namorada do filho foi para casa triste depois do fim de semana, pois ela adora ficar na casa dele. Uma outra mulher comentou que quando namorava com o atual marido também ia pra casa triste depois do fim de semana. Daí me peguei pensando que também vivi essa situação de não querer ir pra casa depois de passar dias na casa das minhas namoradas, era sempre uma despedida triste. Eu quis comentar que também passei por isso mas, eu não podia, meu amor não é aceito ainda hoje por grande parte das pessoas que eu convivo e também por tantos outros desconhecidos. Então, pra esse dia 17 a única coisa que me vem à cabeça nesse momento é contar esse episódio, talvez na esperança de que alguém me escute e pense "poxa, eu também passei pela despedida triste do fim de semana", por talvez essa pessoa também não poder comentar com a mãe sobre as namoradas, sobre términos e começos. Para todos que se sentem sós dentro da própria família. Nós estamos juntos, eu enxergo vocês!”, relatou a Rena.
Por casos de invisibilidade e silenciamentos como esse, que o dia de combate à LGBTfobia continua a ser importante para Rena e para todes.
Edição: Heloisa de Sousa