Paraíba

Coluna

Lula: a Ascensão, a Crucificação, a Resurreição

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O ex-presidente Lula é o líder nas pesquisas após recuperar seus direitos políticos - Ricardo Stuckert
A ressurreição chegou, cavalgando na descoberta das cretinices praticadas pelo lavajatismo

Veio ao mundo em meio às brenhas ressecadas do agreste nordestino. Cresceu na escassez de carinho, em meio à brutalidade do pai. A casa era de taipa, a água a quase uma légua. Banho semanal, raras refeições.

Aboletou-se na carroceria do pau-de-arara em busca de nova vida. Na terra dos bandeirantes, o metalúrgico começou a aprender o ABC do sindicalismo. Aprendeu tanto que virou líder. Peitou as baionetas do regime autoritário para se tornar ídolo.

Montado no carisma do ídolo virou presidente. E o presidente, mesmo sem muito “saber”, soube presidir. Misturou inteligência com sensibilidade social para se tornar o melhor governante da nação. A economia nas alturas e o Brasil entrando no “clube dos sete grandes”; uma revolução social e a admiração em todas as esferas de todos os continentes; prestígio e independência na política externa e o respeito no mundo desenvolvido.

Os meus botões vivem a perguntar por que o governante mais bem avaliado (85% de aprovação), melhor presidente da história do país (pesquisa DataFolha), de repente, foi crucificado, morto e sepultado nas catacumbas da mídia, no necrotério judiciário?

E esses mesmos botões vivem enchendo meu saco, indagando com insistência por que aquele outro presidente, que foi pedir esmola três vezes ao FMI, comprou com dinheiro vivo a emenda de sua reeleição e adquiriu um super AP em Paris, segue com muito prestígio na imprensa e nunca sofreu um único beliscão do judiciário?

Qualquer senso de justiça mais irrequieto e vai-se perguntar: qual a base de tamanha injustiça? E por que tamanha injustiça passa inteiramente despercebida do conjunto da população?

O sociólogo Jessé Souza, no livro A Elite do Atraso, joga um potente feixe de luz para ajudar a enxergar as estruturas de nossa sociedade sendo construída sobre os alicerces do sistema escravocrata.

Ele fala da "teoria implicitamente racista do culturalismo conservador entre nós".

O presidente alfabetizado, que produziu uma revolução social e elevou a economia ao nível das grandes potências, é mulato, único da história nascido na base da pirâmide.

O outro, que jogou o país nas garras do FMI, é representante fosforescente de uma elite que se alternou no poder desde os tempos da queda do Império.

O sociólogo amplia seu raciocínio apontando o dedo para a esquerda "colonizada no coração e na mente pelo culturalismo racista conservador, com efeitos práticos devastadores, como os recorrentes golpes de Estado mostram tão bem."

Conforme é do conhecimento geral dos segmentos mais conscientizados, a condenação e a prisão do ex-metalúrgico estão integralmente inseridas no conjunto do golpe que derrubou aquela presidenta, com a participação efusiva da mídia corporativa e o auxílio luxuoso dos três andares do sistema judiciário. E nessas duas praias, fique-se sabendo, os tentáculos da burguesia nacional sempre passearam com imensa desenvoltura.

Mas eis que o odor fétido exalado pelos excessos incompetentes daquele presidente extremista começou a desagradar o olfato dos mesmos coveiros que haviam sepultado o presidente que transferiu 35 milhões de pobres e miseráveis para o conforto da classe média.

Removidas as pedras do caminho, a ressurreição chegou, cavalgando na descoberta das cretinices praticadas pelo lavajatismo e ratificada pelos números da pesquisa que, no cenário de hoje, devolve ao ex-sindicalista a condição do político de maior prestigio na história republicana de nosso país.
 

Edição: Heloisa de Sousa