Paraíba

Coluna

O golpe em marcha, a necessidade e os meios de resistir

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Jair Bolsonaro, saudoso da linha dura da ditadura militar, dá mostras de caminhar para o fechamento do regime democrático - Marcos Correa
Os EUA de Biden apoiarão o fechamento do regime no Brasil. Se é que não já estão articulando

O processo de inserção do Brasil e da América Latina como um todo no sistema capitalista mundial transformou essa região do planeta sempre vulnerável a golpes militares e regimes autoritários ou tutelados. A história do Brasil é de regimes autoritários com sobressaltos de períodos de vulnerável democracia política e quase nenhuma democracia social, além de nenhuma democracia econômica. 

A eleição, em 2018, de um defensor da ditadura e de torturas, Jair Bolsonaro - fruto do golpe jurídico-parlamentar de 2016 que depôs, sem crime de responsabilidade, a presidenta Dilma Rousseff e prendeu, sem provas, o ex-presidente Lula - abriu as porteiras de um corredor "atapetado" para uma ditadura sangrenta, repressora no Brasil. 

As evidências estão por todas as partes.

A condição de uma economia e uma burguesia dependentes no Brasil nos faz um país ajoelhado, agachado, a servir aos interesses hegemônicos imperialistas internacionais. 

Diante do avanço econômico da China e da aliança estratégica sino-russa, a reação imperialista foi imediata.A recente rearticulação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), apontando um reaquecimento da ofensiva bélica imperialista contra os povos da periferia capitalista "desobedientes", e a reativação do G-7 como estrutura de poder mundial, desarticulando o G-20 e outros blocos de poder que estruturariam uma sonhada multipolaridade mundial, são evidências inegáveis de que há, em marcha, uma reestruturação imperialista, mais desesperada e mais violenta, para tentar a retomada da hegemonia mundial. 

Não há, nesse aspecto, nenhuma divergência significativa entre as forças centrais imperialistas, especialmente do governo Joe Biden, com os projetos autoritários e de submissão do Brasil. Pelo contrário: há uma convergência de interesses. Em bom português: os EUA de Biden apoiarão o fechamento do regime no Brasil. Se é que não já estão articulando.

As razões para isso são econômicas, estratégicas e ideológicas. Mais do que nunca, o imperialismo necessita da América Latina submissa, com suas "veias abertas" sangrando a atender interesses centrais do capitalismo. 

Explico. Vivemos uma época de transição, ingressando no que se denomina Revolução Industrial 4G - Quarta Geração. Mais uma vez, se encontram aqui, em Nuestra América, os ingredientes, a matéria prima, os minerais necessários à robótica, à inteligência artificial, aos automóveis elétricos, à produção em 3D e outras "indústrias" típicas da R.I. 4G.

Ao Imperialismo é importante recriar o clima de Guerra Fria, de combate ideológico e todas as tolices de "ameaça comunista". Vivem disso. 

De fato, na competição social, o capitalismo sempre foi fragorosamente derrotado pelo Socialismo. E agora, inclusive no aspecto econômico e tecnológico, está perdendo feio na disputa com o gigante asiático. 

A China, sem intervir em nenhuma nação, sem colaborar com a derrubada de nenhum governo eleito, sem explodir uma bomba em território alheio, retirou 850 milhões de pessoas da miséria, alavancou sua economia a uma das maiores do mundo e se tornou o país com mais parceiros comerciais do planeta, disputando, cabeça a cabeça, a hegemonia em inovação tecnológica, especialmente, a tecnologia fundamental para desencadear a Revolução Industrial 4G, a comunicação interativa, a Internet 5G.

Reorganizada a OTAN, a partir de um inimigo bélico imaginário (China e Rússia), reestabelecida a aliança EUA – União Europeia, o próximo passo do imperialismo será submeter (ou tentar submeter) a América Latina. 

No rastro do desastre neoliberal na América Latina, vieram, já no início do século XXI, verdadeiras revoluções populares, desencadeadas por processos eleitorais. Venezuela, Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Uruguai, Paraguai experimentaram processos de avanços democráticos de caráter político e social "nunca antes" experimentados nessas partes do planeta. 

Da erradicação do analfabetismo, universalização da saúde pública e acesso universal à educação superior a ensaios de indústrias nacionais competitivas, a América Latina criou estruturas de organizações independentes do domínio imperial, como a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) e a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), e articulações com outras experiências internacionais de multipolaridade, como os BRICS, entendendo que o "B" de Brasil, nessa articulação, sempre foi um "B" de América Latina, como destacava a presidenta Dilma.

A crise estrutural do Capitalismo vem à tona em 2008, recrudesce a partir de 2014, atinge em cheio as experiências progressistas da América Latina e abre caminho aos golpes políticos antidemocráticos.

As tentativas derrotadas de golpe na Venezuela, a consumação na Bolívia (com a reviravolta eleitoral posterior), a conquista da Argentina e do Equador por via eleitoral, e a consumação do golpe no Brasil desarticularam os processos de autonomia e construção de uma nova sociabilidade latino-americana. Também demonstraram a desarticulação do imperialismo sob o governo Trump. 

A eleição de Joe Biden indica os EUA dispostos a retomarem as rédeas do poder imperial e barrar o avanço chinês. Biden parece propenso a "engolir" sapos, na perspectiva de submeter nações aos interesses estadunidenses.

A crise brasileira não tem saída sob as condições impostas pelo hegemonismo estadunidense. Ou seja, não há sustentabilidade para uma economia dependente, submetida, a ser sustentada por uma burguesia liberal local. Essa, politicamente desmoralizada, não acende, na população, qualquer sentimento de entusiasmo. Situação que se evidenciou a partir do golpe de 2016.

Essa burguesia deu o golpe, mas não teve forças para se manter no poder. Submeteu-se a Bolsonaro, um fascista medíocre. Como em situações de crise estrutural, a burguesia liberal, sem capacidade de liderar processos, apela, adere a saídas autoritárias. A burguesia brasileira, mesmo diante de um petismo moderado, preferiu se submeter a um genocida desumano. 

A história nos ensina. Nunca entregue o poder a um fascista. Mesmo sob condições circunstanciais particulares. Fascista é fascista. Transformar circunstâncias conjunturais em processos duradouros, permanentes, é seu objetivo. Exterminar vidas, cultura e democracia, para eles, são virtudes.

No poder, Bolsonaro agrada ao setor mais conservador, mais autoritário da burguesia brasileira. Em nome de Deus, da Pátria e da Liberdade, marcha célere para o golpe autoritário fascista. 

Assim, consolida-se, no Brasil, o poder de oligarcas truculentos, exterminadores de índios, do meio ambiente, de conquistas sociais, amparados por brucutus ignorantes de classe média com um núcleo militar autoritário, herdeiros da "linha dura" de Sílvio Frota, Euller Bentes e Newton Cruz, que resistiram, inclusive, à abertura gradual e passiva de Geisel e Golbery.

São essas forças que articulam o golpe fascista e o fechamento geral do regime. Atualmente, trabalham e articulam para ter o apoio imperialista. 

Qual a dificuldade deles? Emplacar um discurso antichinês tendo a China como principal parceiro econômico. Sabem que chinês não interfere politicamente nos assuntos internos do Brasil. Mas conhecem o estilo de retaliação econômica deles. Vivem essas contradições. 

Diante desse quadro, às forças progressistas cabem duas ações paralelas para impedir o golpe.

Primeiro e sempre: organizar as massas. Fortalecer os sindicatos, as bases. Gerar mobilizações de massas dos setores organizados. Só as mobilizações populares geram força, pressão política para barrar o golpe.

Por outro lado, às forças progressistas também cabe a tarefa de ampliar seu círculo de alianças políticas. De atrair setores da burguesia liberal, não golpista. De atrair forças políticas democráticas. De isolar os golpistas o máximo possível. 

Então, mobilizar as massas e isolar os golpistas são, historicamente, as condições para barrar o golpe. 

Essas articulações políticas devem ser, inclusive, internacionais. É hora, por exemplo, de Lula ir aos EUA e se reunir com Bernie Sanders. E com quem tem discurso democrata no mundo todo.
 

Edição: Heloisa de Sousa