Por Deyse Araújo*:
"Dos encontros, sentimentos e do que a luta nos permite vivenciar.
Compas, queria compartilhar uma coisa de hoje. Foram mais de mil fotos de vítimas de Covid e, quando Ana Cristina [da Marcha Mundial de Mulheres] terminou de colar as fotos nos cartazes, Marquinhos [da Consulta Popular] pegou as fotos e as levou para distribuir pro povo. Daquele monte de fotos, duas ficaram para trás (das mil), uma em cima da outra. É quando passa um senhor na nossa frente, olha a foto, para e começa a bater no peito falando: 'meu amigo, meu amigo'. Ficamos sem entender no início (eu, Ana e Carol da Consulta Popular) e ele explicou: 'esse da foto foi meu amigo, estivemos juntos aqui no Lyceu em 68' e encheu os olhos de água.
Foi surreal! Podia passar mais um tempo aqui relatando outros ocorridos, como o de uma menina que soube, no dia anterior, que ia ter essa intervenção e levou a foto impressa do tio para ser colado no cartaz, como se dissesse 'meu tio foi uma das vítimas e trazê-lo hoje é o mínimo que posso fazer para manter sua memória viva nas ruas'. Ou o de outra mulher, que viu a foto do professor dela e quase se ajoelha pedindo para participar e levá-la na caminhada. Não foi uma manifestação comum.
Relatando isso agora, me emocionei novamente. Pelas vidas perdidas, pelos nossos, pela negligência do Estado, mas também por saber que tenho companheiras (os) que são parte da mesma trincheira de luta e que, assim como o senhorzinho de que nem sei o nome e seu eterno amigo, não desistem e jamais serão esquecidos porque fizeram e estiveram do lado certo da história."
Por Pedro Couto*:
"Eu vivi algo semelhante. Peguei várias fotos e fui conversando, explicando e distribuindo. Entreguei para uma pessoa e fui andando, logo em seguida essa pessoa vem ao meu encontro e mostra a foto que havia recebido e me diz assim: 'era minha vizinha'. Ela falou com os olhos marejados. Eu quase não acreditei, porque achei que havia sido muita coincidência, todavia, infelizmente, estamos vendo que foi mais comum do que imaginávamos.
Ouvi também o caso da menina e o professor. Realmente, ontem, tivemos uma experiência muito forte.
Ciro [do Levante Popular da Juventude] conta que, quando falava os nomes [das vítimas ao microfone] via várias pessoas chorando.
Obrigado a todas e todos por fazermos parte dessa organização e estarmos juntas e juntos para lutarmos contra esse governo genocida."
*Militantes da Consulta Popular
Edição: Heloisa de Sousa