65,2% das vítimas de agressão física eram mães. 83,8% foram violências que crianças presenciaram
Por Karla Maria*
Desde domingo, as redes sociais estão sendo bombardeadas pelos compartilhamentos dos vídeos de violência doméstica sofrida pela vítima Pamella Holanda, ex-esposa do DJ Ivis. O caso, que gerou polêmica no país e que levou famosos a relatarem suas opiniões sobre as agressões, traz à tona o quanto o patriarcado tem sua mão pesada sobre a sociedade. Uma mulher puérpera sofre inúmeras agressões por parte do Dj Ivis mesmo estando na presença de sua filha, que tem alguns meses de vida e já se deparou com uma triste realidade vivida por milhares de mulheres cotidianamente.
A violência sofrida já é um absurdo, mas o caso que traz à tona o quanto o patriarcado está arraigado nos indivíduos nos deixa perplexas pela forma como está sendo absorvido pelas pessoas. As consequências não estão sendo impostas ao agressor, pelo contrário, o agressor em questão ganhou ainda mais seguidores em sua rede social.
Temos duas vítimas nesse caso, a mãe Pamella Holanda, a qual sofre a violência física, e sua filha, que sofre violência psicológica ao ter que presenciar essa violência em seus poucos meses de vida. Essas são as que precisam de amparo legal e social. A justiça deve ser praticada quando há injustiça, quando se tem lei que condene tais atos criminosos como violência doméstica. Esse crime deve ser combatido por todes da sociedade, seja mulher, mãe, pai ou homem.
O patriarcado anda de mãos dadas com sistemas que subalternizam indivíduos que vivem na margem da sociedade. A marcha contra a violência doméstica não deve ser seguida apenas por mulheres, mas todes aqueles que seguem em marcha contra o tripé do sistema capitalista, visto que a violência contra as mulheres perpassa raça, classe e gênero. A realidade de violência doméstica que leva milhares de mulheres mães a sofrerem com todos os níveis de violência até o seu último estágio, que é a morte, não deve ser normalizada, deve ser combatida. Há inúmeras crianças órfãs de mães que sofreram violência doméstica até seu último estágio. Não, muitas delas não sofreram caladas, mas sofreram sozinhas.
Quando uma mulher decide denunciar uma violência sofrida, ela precisa de amparo legal. Esse amparo se caracteriza por acolhida humanizada nas delegacias (com seu corpo de funcionários bem capacitados para tais demandas), prisão do acusado, medidas protetivas, botões S.O.S. para as mulheres vítimas. Esse é um procedimento que pode inviabilizar inúmeros casos de mortes de mulheres vítimas de violência doméstica.
O ano de 2020 carregou uma soma de mais de 13 milhões de mulheres que sofreram violência; dentre essas milhões, tantas delas são mães. Um dado alarmante e que nos impacta ainda mais, pois, a cada ano, mais casos se somam e os dados se superam. De acordo com o Instituto DataFolha e FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), 48,8% das mulheres brasileiras sofreram violência doméstica em 2020, e um aumento de 42% em 2019. Segundo dados do levantamento dos últimos 12 meses do FBSP, 65,2% das vítimas de agressão física eram mães. Um número altíssimo e que nos leva ao encontro de uma triste realidade.
Nos casos registrados de violência física contra mulheres mães, 83,8% foram violências em que crianças presenciaram as agressões em 2016 segundo dados do Balanço Anual do Ligue 180. A violência doméstica afeta o psicológico da vítima e das crianças que presenciam as agressões e que a levarão ao longo de suas vidas, muitas vezes conduzindo a reproduzirem ou normalizarem essas violências em suas vidas, afetando desde o desenvolvimento cognitivo até problemas como a autoestima, questão enfrentada por muitas mulheres que vivem em relacionamentos abusivos. Com isso, verificamos que o sistema de proteção ainda é falho com as mulheres vítimas e com as crianças que vivem em lares onde a violência doméstica persiste.
A violência contra a mulher ainda continua sendo normalizada e perpetuada na sociedade. O combate deve partir de todos os indivíduos, seja nas famílias ou nas delegacias especializadas. Essa luta contra a violência contra a Mulher não é só dela, é de todes. Basta de violência contra as Mulheres, mães e suas crianças!!
*Socióloga/Estudante de Pedagogia. Militante da Coletiva Pachamama. Mãe de João e Cauê.
Edição: Heloisa de Sousa