A arte ocupa um lugar privilegiado nos conceitos mais qualificados, quando se tenta caracterizar o que seria uma vida de “bem estar”, desejável à raça humana. É um valor imaterial incomensurável que reúne dimensões diversas: históricas, estéticas, linguísticas, lúdicas…
Quem tem qualquer preocupação programática, de um futuro distinto da realidade humanística que vivemos hoje, reserva destacada atenção à importância da arte e cultura, ao lado do conhecimento, como direitos humanos. O ideário comunista por exemplo, em geral estigmatizado, pelo conceito sintético de “fim da exploração do homem pelo homem”, idealiza a sociedade do futuro, igualitária, como de liberdade, justiça social, bem estar, e de pleno acesso ao saber, à arte e ao lazer. Daí a importância de se valorizar toda criação e produção artística, como cultivo deste ideário.
Quero então me propor a registrar distintos artistas, nessa Paraíba que revelam, não apenas talento, criatividade, mas também estreito vínculo com nossa gente, suas raízes, sua cultura e assumido compromisso com a vida e as lutas deste povo. Hoje, um artista plástico; José de Arimatéia Pereira Alexandre – Ary Smart.
Desde criança, deslumbrou-se pelo desenho e, graças ao apoio de seus professores que perceberam seu valor e o estimularam a desenvolver suas habilidades, Ary Smart trilhou rica jornada: pintor, desenhista, escultor, mestre na confecção e manipulação de teatro de bonecos, monitor de oficinas artísticas, arte educador, também já ministrou oficinas de artes terapêuticas.
Essa performance lhe conferiu notoriedade na região, o que já lhe proporciona hoje exibir vasto currículo. Participou na região do Brejo de oito mostras coletivas de artes plásticas e já se apresentou em nove mostras individuais.
Versátil, Ary se expressa através de diferentes gêneros das artes plásticas: a pintura em tela, a escultura, modelagem em papel machê, também em murais ou design publicitário. E como sobrevive de sua arte, quando a necessidade aperta não hesita em pegar uma ‘pintura’ de algum imóvel. Seus trabalhos são carregados de cores vivas que bem representam a diversidade que o rodeia: as belezas naturais, os folguedos e a religiosidade popular.
No momento, nosso artista se dedica com afinco na produção de arte naïf, no que parece se sentir muito à vontade. Aliás é característica da arte naïf certo autodidatismo, desde que surgiu em 1886, numa exposição do pintor francês Henri Rousseau – que despertou atenção de ‘monstros sagrados’ como Picasso e do surrealista Joan Miró. Significando, “inocente”, “ingênuo”, “naïf”, se mostra uma pintura simplificada e “costuma exibir grande quantidade de cores, valorizando a representação de temas cotidianos e manifestações culturais do povo.” (Laura Aidar - Arte-educadora e artista visual).
Agora Ary Smart prepara uma mostra exclusivamente sobre pintura naïf. Aguardemos.
Profundamente vinculado às suas origens, retrata com seu talento o povo de onde veio. Sensível, reproduz momentos de dor e de alegria, da tradição cultural brejeira ou as lutas do dia a dia. Essa vinculação ao povo conduziu Ary para se envolver também politicamente, assumindo-se como comunista. Não é de admirar, afinal Guarabira tem tradição de luta, terra dos Aquino, dos ferroviários e sapateiros comunistas – como Chico do Baito.
Tudo isto faz de Ary Smart um artista popular!
*Servidor público aposentado pela UFPB, poeta e militante do PC do B.
Edição: Heloisa de Sousa