Paraíba

ARTIGO

O Bolsonarismo em Campina Grande e a falta de compromisso com a universidade e os estudantes

"Humilhou e agrediu verbalmente jovens universitários que confiam nos estudos como caminho para um futuro promissor"

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Os estudantes contra os ataques do governo federal e de seus ministros. - Mídia Ninja

No Plenário de Campina Grande, onde deveria ser discutido os problemas concretos da população campinense, um vereador chamado Alexandre do Sindicato (PSD) expôs toda sua ignorância em relação às universidades brasileiras. Ao afirmar frases desconexas como ‘’Estudantes universitários não tomam banho’’ e colocar as universidades como ‘’doutrinadores’’ da cabeça de jovens. Alexandre, que é líder da bancada do prefeito de Bruno Cunha Lima, não sabe de fato da realidade dos estudantes brasileiro e com isso, se conecta na faceta do bolsonarismo. 

A fala do vereador se alinha com o que Bolsonaro sempre buscou: colocar a educação como seu verdadeiro inimigo, a partir de um projeto de desmonte e de afastar a universidade da sociedade. Nesse projeto, as universidades estão respirando com a ajuda de aparelhos, muitas estão sendo ameaçadas de terem suas atividades encerradas ou suspensas. Somando a isso, a democracia universitária foi rejeitada, ao Bolsonaro ignorar a escolha da maioria e colocar interventores para a administração das universidades. Essa é a realidade de duas grandes universidades da Paraíba: a UFPB e a UFCG. Para esse primeiro bimestre, essas universidades tiveram 35% do seu orçamento bloqueado. O que isso representa? Cortes na assistência estudantil e no funcionamento da universidade, onde assistimos o teto do ginásio da UFCG cair. 

Com o sufoco de permanecer na universidade, assistimos ao aniquilamento dos sonhos daqueles que desejam entrar na universidade. O ENEM 2020 foi marcado por inseguranças e desafios, com o número recorde de abstenções, além de inúmeras dúvidas e dificuldades que o ministério da educação não buscava sequer solucionar. O ENEM 2021, por sua vez, está sendo marcado de forma lamentável pelo menor número de inscrições, contando com apenas 3,1 milhões de inscritos para prestar a prova de acesso ao Ensino Superior, de acordo com pesquisa do INEP. É mais uma vez que vários estudantes irão ter que adiar ou desistir do sonho de entrar em uma universidade, depois de anos de sacrifício e estudos. Graças a mobilizações e ao pedido de ação das entidades estudantis como a UNE e UBES, o período de pedido de isenção de taxa do ENEM foi aceito pelo STF.

Para além dos ataques institucionais, Bolsonaro e sua corja (onde encontra também Alexandre do Sindicato) atacam ideologicamente as universidades e os estudantes. As falas do ex-ministro da educação Weintraub de afirmar que os estudantes faziam apenas ‘’balbúrdia’’ e que não era local de jovens do bem frequentar. Buscando colocar a universidade contra o povo brasileiro, buscando desmoralizar. Mas esses que dizem ser representantes do povo, não conhecem em nada a realidade do país. 

Alexandre humilhou e agrediu verbalmente jovens universitários que confiam nos estudos como caminho para um futuro promissor. Estudantes que geralmente são os primeiros da família a entrar na universidade e tem o objetivo de concluir seus estudos para dar novas oportunidades para sua família. Na realidade que vivemos, as universidades estão passando por uma grave evasão, onde faltam investimentos. Já vimos diariamente nossos colegas desistirem dos estudos, por não terem condição de se manterem pela crise econômica que assola nosso país e/ou pela precariedade da saúde mental nesse contexto remoto. Muito menos, o Ministério da Educação (que sempre tem uma diferente indicação) não apresentou um projeto emergencial do ensino remoto e nem debateu a realidade dos estudantes nessa conjuntura. A vida do povo brasileiro, não os interessa. 

Desde 2019, o movimento estudantil está empenhado em construir os tsunamis da educação. Convocaram os estudantes contra os ataques do governo federal e de seus ministros. Essas mobilizações continuam e seguem em percurso, tendo um caráter de debate do orçamento universitário, investimentos nas universidades públicas, de vacinação para todos e o Fora Bolsonaro. A Campanha Nacional do Fora Bolsonaro, construída pela Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, já indicou o dia 02 de outubro como mais um dia de mobilização e ação direta contra os inimigos do povo brasileiro. 

No centenário de Paulo Freire, exercemos a educação como prática para a liberdade. O Levante Popular da Juventude segue fortalecendo um movimento estudantil que exerça o tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. É a partir disso, que conseguimos construir uma universidade que vá para além dos muros da universidade. Fortalecemos também o nosso cursinho popular Podemos+, que para além de preparar a população para prestar o ENEM levamos sonhos e esperanças que foi retirado por esse governo. Nosso projeto de educação perpassa em pintar a universidade de povo para que possa estar ligada ao povo brasileiro. 

Está colocada para nós, que sonhamos uma educação libertadora e freireana, a tarefa de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Esse projeto anti-povo e autoritário não combina com a história do nosso povo. Assim como Alexandre do Sindicato não combina com a população campinense. Não iremos aceitar esses tipos de ataques e seguimos lutando em defesa de uma educação que emancipe o povo brasileiro.  


*Coordenação Estadual do Levante Popular da Juventude PB e estudante de História pela Universidade Estadual da Paraíba

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Heloisa de Sousa