Paraíba

CAPITAL X ESPORTE

Artigo | Não é só futebol: a crise política e esportiva no Treze

É preciso fazer uma revolução no Treze. Se chegou a essa situação é porque tem mudar”, disse o goleiro Jeferson

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Crise no Treze. - Reprodução

Faz algum tempo que venho acompanhando os tropeços, erros e a desorganização que se instala num dos maiores clubes de futebol da Paraíba. Sim, o Treze tem uma trajetória bonita com conquistas relevantes e um espaço importante na história do futebol paraibano. 

E foi essa semana, durante uma entrevista, mesmo com toda imprensa, torcida e jogadores sabendo a realidade caótica instaurada no Galo da Borborema, que não teve quem não voltasse os olhos e ouvidos para o depoimento sincero do goleiro Jeferson. O atleta estava visivelmente cansado e não era só pelo exercício em campo, mas uma exaustão mental e financeira que desgasta qualquer profissional. O desabafo de Jeferson, os tropeços e fracassos sucessivos do clube paraibano, só revelam uma série de problemas que o Treze vem enfrentando: inadimplência, irresponsabilidade e descaso de suas gestões. Lembrando que o clube está com seu presidente afastado pelo STJD pelo não pagamento das taxas da arbitragem da Copa do Brasil.  

Jeferson afirmou na entrevista que não recebe salário desde junho de 2021, sendo informado que as contas estão bloqueadas e recebendo somente vales ou 50% do que lhe é por direito. 

“Não é só futebol”, escutei muito essa frase nos tempos de universidade e ainda hoje escuto por aí. O futebol vai além, o futebol é social, é emocional e acima de tudo, é político. Muitos enxergam só o momento do gol, da euforia, da sensação, mas poucos mergulham na política desportiva, nas leis, nas folhas de pagamento, nos orçamentos, nas resoluções, no produto. Todas as decisões por maiores ou menores que sejam passam por uma gestão, e a gestão do futebol brasileiro, sejamos honestos, se encontra  numa crise ética e política faz um bom tempo. 

 “A camisa é muito forte, mas a situação não pode continuar. Para as coisas darem certo dentro de campo, você tem que ser justo fora de campo. É preciso fazer uma revolução no Treze. Se chegou a essa situação é porque tem mudar”, disse o goleiro Jeferson em seu desabafo à imprensa.  

O que vem a cabeça depois do desabafo do Jeferson é que o futebol brasileiro vem refletindo e ditando de forma doentia e exacerbada a lógica do capital, o poder do gestor, a detenção do dinheiro e o lucro das sociedades empresariais. Até quando vamos entregar nossos times, torcidas e talentos para se afundarem nas negociações milionárias dos detentores do poder? Nos erros sucessivos dos gestores? Até quando colocaremos jogadores em campo desmotivados, pressionados e desrespeitados por conta de meia dúzia de poderosos que fazem do esporte seu espetáculo particular?  

Ah, e não esqueçamos que estamos falando de uma modalidade (futebol de campo) de alto investimento e de um mercado milionário que dita regras e detém um poder que, ouso dizer, ainda não temos a real dimensão de como acontece. Sem contar que não é de hoje, principalmente em outros esportes e modalidades esportivas, que vemos o descaso e o desrespeito ao esporte no Brasil e aos nossos atletas. Posso aqui lembrar o desmonte realizado pelo governo atual onde vemos nossas políticas públicas esportivas enfraquecidas e o ministério do esporte extinguido. Mas isso é tema para outra matéria, no mais, lembremos que tudo é político, desde a compra do ingresso até o desabafo de um jogador, portanto, nunca será somente futebol.   

Edição: Heloisa de Sousa