Desde a escravidão, a população negra no Brasil vive entre conquistas, desafios e resistências. O racismo estrutural provoca problemas como desemprego, fome, genocídio da juventude, encarceramento em massa, mau acesso à saúde de qualidade. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2020, 70% da população que estava abaixo da linha da pobreza era negra (preta ou parda), afetando mais as mulheres negras, sendo 39,8% das que estavam na extrema pobreza e 38,1% na pobreza. Apesar disso, uma parcela das pessoas negras fez e faz história e luta para a mudança da realidade racista.
Algumas personalidades negras que fizeram parte das lutas antirracistas no país são: a antropóloga Lélia Gonzalez, a filósofa Sueli Carneiro, o escritor Abdias do Nascimento. Outras figuras históricas são Zumbi dos Palmares e Dandara, que lideram o Quilombo dos Palmares. Zumbi foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695. O Dia da Consciência Negra, neste sábado dia 20, é uma homenagem a Zumbi.
Saúde da Mulher Negra
Jair Bolsonaro já proferiu não só um, mas diversos comentários racistas após assumir a presidência do Brasil e quando era um deputado federal. A desigualdade social entre pessoas negras e brancas advém racismo estrutural, que tem alicerce histórico e social e, normalmente, é interseccionado com a pobreza. Nesse contexto, a pandemia Covid-19, alarmou para diferenças sociais. O livro “População Negra e Covid-19”, do Grupo de Trabalho Racismo e Saúde, ligado à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), contém 13 artigos publicados entre junho de 2020 e setembro de 2021, ele aponta que “marcadores sociais como raça, gênero, território e situação econômica têm impacto direto nos indicadores de infecções, mortes e na vacinação da Covid-19.”
Segundo a pesquisa, a população negra apresenta índices mais altos de doenças crônicas como pressão alta, diabetes, problemas respiratórios e renais em fator da insegurança alimentar e do acesso inadequado a medicamentos, além de experienciar altos níveis de estresse devido às situações de racismo, o que pode afetar a capacidade do corpo de reagir a uma infecção como a da Covid-19. “No contexto da pandemia, não foi possibilitado para as mulheres negras o isolamento social. Elas tiveram que estar, de fato, trabalhando, e isso impactou na sua saúde, na sua subjetividade. O racismo deixa as mulheres negras cada vez mais hipervigilantes, em questão das violências institucionais. A covid e a pobreza escancaram as desigualdades raciais”, afirma Hildevânia Macêdo, do Movimento de Mulheres Negras na Paraíba (MMNPB) e da Articulação das Mulheres Brasileiras (AMB). Ela ainda cita outros problemas enfrentados pelas mulheres negras como a mortalidade materna, casos de depressão e ansiedade, além da anemia falciforme, uma doença hereditária, que atinge a população negra em geral.
Algumas ações são e foram realizadas pelo MMNPB e pela AMB. “Além de campanhas de solidariedade, a fim de garantir a segurança alimentar das mulheres negras, enquanto movimento de mulheres negras, participamos da elaboração do Plano Estadual de Promoção de Igualdade Racial da Paraíba e do Protocolo de Feminicídio da Paraíba, ações impactantes para a realidade das mulheres negras. Nós também conseguimos desenvolver rodas de autocuidado com mulheres negras, respeitando os protocolos de segurança da Covid-19. Precisamos também estar e continuar nas ruas contra a política genocida deste governo”, relata Hildevânia.
Os Quilombos vivem
Na Paraíba, segundo Francimar Fernandes, educadora social da Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes (Aacade/PB), existem, atualmente, 45 comunidades quilombolas autorreconhecidas. Ela explica que “os quilombos se organizam de forma coletiva para reivindicar a questão de políticas públicas, o que tem tido alguns resultados, não como a gente gostaria, mas surte efeitos enquanto grupo e seguimento da sociedade”. De acordo com a educadora social, a estimativa é que no estado tenha cerca de 3000 famílias quilombolas. Apenas quatro das 45 comunidades existentes têm seus territórios reconhecidos. “Esse é um grande desafio, uma vez que a maioria dos territórios são rurais. Como desenvolver a atividade rural sem o território? Especialmente, nos últimos três anos, em que todos os processos, praticamente, estão parados? Mesmo assim, o movimento luta e resiste, estando em busca de reconquistar esse território que foi tomado no processo histórico”.
Conforme Francimar, a primeira comunidade quilombola que teve seu território reconhecido na Paraíba foi o Engenho do Bonfim, no município de Areia. Em 2016, foi o Quilombo do Grilo, em Riachão do Bacamarte. No final de 2020, foi a vez da comunidade quilombola Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande. Em seguida, o Quilombo do Matão, em Mogeiro. As pessoas quilombolas se organizam na Coordenação Estadual de Comunidades Negras e Quilombolas da Paraiba (Cecneq/PB), constituída, juridicamente, em 2004.
A saúde da mulher negra e a resistência dos quilombos são dois pontos que têm suas especificidades, dentro do problema estrutural do racismo. Existe, então, conforme apresentado, movimentações, com o intuito de que a mudança de realidade seja conquistada.
Edição: Heloisa de Sousa