A parteira remonta ao arquétipo da mãe, do feminino e da mulher sábia
Nesta quinta-feira, comemoramos o Dia Nacional da Parteira Tradicional, data que foi adicionada ao nosso calendário oficial pela Lei 13.100, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff em janeiro de 2015.
Desde 1991 celebra-se o dia da parteira, internacionalmente, no dia 5 de maio, data instituída pela Organização Mundial da Saúde para prestigiar e valorizar o trabalho das parteiras em todo o mundo. Mas a referência abrange também as obstetrizes e enfermeiras obstétricas, que como as parteiras dão assistência às mulheres na gravidez, parto e puerpério, embora sejam formadas em outra racionalidade, vinculada principalmente ao saber acadêmico e hospitalar.
A parteira, enquanto arquétipo da mãe, do feminino, da mulher sábia, e as parteiras tradicionais (enquanto mulheres em atuação no mundo inspiradas por esse arquétipo) trazem também a flecha em seu panteão simbólico
O dia 20 de janeiro veio então reconhecer e legitimar o trabalho em específico das parteiras tradicionais, sejam elas ribeirinhas, quilombolas, indígenas e estejam no meio rural ou nas cidades. Mulheres que atuam com base em cuidados naturais, passados de geração em geração pelas parteiras mais velhas. Que pertencem ao universo da casa, do feminino, da família. A data foi escolhida em homenagem à parteira Juliana de Souza, de Macapá, que aniversariava nesse dia.
Mas o dia 20 deste mês não é só o dia da parteira tradicional. Ele é também dia de São Sebastião na tradição cristã, e dia de Oxóssi na tradição iorubá. São Sebastião foi um mártir do início do cristianismo. Atingido por várias flechas sobreviveu e nunca negou a sua fé. Oxóssi por sua vez é o patrono dos caboclos, filho de Yemanjá e Oxalá, orixá das matas e florestas, da cura e da caça.
O sincretismo que os conecta é firmado pela flecha, a flecha que atingiu e milagrosamente não feriu Sebastião, a flecha instrumento de força de Oxóssi e seus filhos, que garante a proteção e o sustento da comunidade.
A parteira, enquanto arquétipo da mãe, do feminino, da mulher sábia, e as parteiras tradicionais (enquanto mulheres em atuação no mundo inspiradas por esse arquétipo) trazem também a flecha em seu panteão simbólico. Com a fé do santo, guerreira como o orixá, com a coragem que os três compartilham e com a cura enquanto caminho, a parteira tem ao lado deles um belo dia para comemorar o seu ofício!
Que as flechas lançadas por nós este ano atinjam os nossos objetivos para o bem comum, para uma convivência mais pacífica, com mais responsabilidade social, consciência cívica na escolha de nossos representantes, cura e prevenção de doenças, não só do corpo mas as feridas da alma, da emoção, os remendos do coração.
Que Oxóssi e São Sebastião nos protejam e dêem visibilidade ao trabalho de tantas mulheres ainda não devidamente reconhecidas e remuneradas. Que as deusas e deuses nos dêem força para resistir e persistir. Que este portal que se abre no dia 20 seja inspiração para todo um ano de luta.
E todas as bençãos para os que chegam, os nascimentos, os recomeços!
Salve, 2022!
Salve o 20 de Janeiro!
Vida longa às Parteiras Tradicionais!
Okê Arô!
*Este é um artigo de opinião. A visão da/o autor/a não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato PB.
Edição: Cida Alves