Após 57 dias sem reajustes, a Petrobras decidiu aumentar os preços de venda de gasolina e diesel às distribuidoras. Os novos valores passam a valer a partir desta sexta-feira (11).
A gasolina da Petrobras ficará 18% mais cara para as distribuidoras, enquanto o diesel terá aumento maior, de 25%. O GLP, também reajustado, ficará 16% mais pesado na conta. O preço final ao consumidor depende da política de cada revendedor e dos postos.
O presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás na Paraíba (Sinregás), Marcos Antônio Bezerra, se diz preocupado com aumentos futuros: “Vejo esse aumento com muita preocupação porque, apesar de ser um aumento muito alto, em decorrência dessa guerra na Ucrânia e Rússia, podemos ter ainda outros aumentos logo, logo. Então estamos nos deparando com um aumento altíssimo destes e já nos preparando que logo em seguida poderá vir mais aumento”.
Ele comenta que o reajuste terá um impacto local para o consumidor final entre R$13 e R$15 reais: “Eu entendo que o poder aquisitivo do povo já não corresponde à altura. Mas não temos o que fazer, não aguentamos mais absorver aumento. Então temos que repassar”.
Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia no preço do petróleo
Segundo a Petrobrás, o aumento foi necessário por conta dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia no preço do petróleo.
“Apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato”, informou a empresa. “Após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda.”
O conflito na Europa começou no dia 24 de fevereiro, com uma operação militar russa em território ucraniano. Naquele dia, o barril de petróleo tipo Brent custava cerca de 90 dólares. Desde então, ele chegou a subir a 130 dólares. Hoje, está na casa dos 116 dólares.
Segundo a Petrobras, outras empresas que atuam no ramo de óleo e gás no Brasil já reajustaram seus preços. A estatal, depois de 57 dias sem mexer no preço da gasolina e do diesel e depois de 152 dias sem alterar o preço do gás, resolveu fazer o mesmo.
A partir desta sexta-feira, portanto, o preço médio de venda da gasolina da Petrobras às distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro.
Para o diesel, o valor médio irá de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro.
Também aumenta o GLP, que segundo a empresa teve o último ajuste em 9 de outubro de 2021. O preço médio, que era de R$ 3,86, passará a ser R$ 4,48 por quilo, o equivalente a R$ 58,21 por 13 hg.
Lucro recorde
Desde 2016, após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), a Petrobras alinhou seus preços ao custo do petróleo no mercado internacional.
Durante o ano passado, o preço do barril subiu 38% – de 44,23 dólares para 60,90 dólares. Neste mesmo período, o preço médio da gasolina subiu 46% nos postos, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP).
O aumento do petróleo e o repasse dele aos consumidores foram os principais fatores que levaram à estatal a registrar o maior lucro de sua história no ano de 2021. Foram R$ 106,6 bilhões em lucro líquido, já descontados os impostos –alta de 1.400% em relação a 2020.
O ganho foi tanto que a estatal resolveu aumentar em R$ 37,3 bilhões o valor dos dividendos –participação nos lucros– que pagará a seus acionistas com base dos resultados de 2021, totalizando R$ 101,4 bilhões.
De acordo com a própria Petrobras, mais de 44% dos acionistas da empresa não são brasileiros. Os investidores brasileiros detém cerca de 19% do capital da empresa. O governo controla outros 37% das ações.
O lucro foi anunciado no final de fevereiro. Após o anúncio, diretores da estatal reuniram-se de forma virtual com investidores e representantes de bancos. Rodrigo Alves, diretor executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, sinalizou que a alta do petróleo no mercado internacional é benéfica para os ganhos da Petrobras.
Disse ainda que, se ela impulsionar o lucro da empresa, é possível que acionistas da estatal ganhem dividendo ainda maiores.
“Sempre que houver espaço para uma distribuição adicional [de lucros], o nosso entendimento é fazer a distribuição adicional”, afirmou Alves.
Pressão por mudança
A alta do petróleo por conta da guerra na Europa, porém, aumentou a pressão política para que a Petrobras reveja sua política de preços. Políticos de esquerda e até mesmo o presidente Jair Bolsonaro (PL) reclamaram da dolarização do custo do combustível no Brasil.
No Congresso Nacional, tramitam propostas para tentar conter a alta dos combustíveis apresentadas ainda antes do início da guerra. Uma delas, inclusive, visa regular a venda de combustíveis e alterar a tal política de paridade de importação (PPI) da Petrobras.
A proposta é o Projeto de Lei (PL) n° 1.472, de 2021, de autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE). Ele está em análise pelo Senado.
Edição: Heloisa de Sousa