Nossa ideia é percorrer histórica e geograficamente os espaços que foram sendo produzidos na cidade
Por Nirvana Rafael de Sá*
Do Rio ao Mar. É desta forma que surge e cresce a cidade de João Pessoa ao longo destes últimos quatro séculos. Um crescimento destacado pelas águas - do Rio Sanhauá, das fontes e cacimbas de seus primeiros anos - mas também do Rio Jaguaribe, que atualmente corta 32 dos 64 bairros da cidade e, pelo menos, 41 comunidades.
Águas de Rio e Águas do mar. Estas últimas com espaços marcados por especulação imobiliária, residências de alto padrão e direcionamento de políticas públicas e infraestrutura, em detrimento de tantas outras áreas por vezes invisibilizadas.
“Cidade que já nasceu cidade”; “segunda cidade mais verde”; “ponto mais oriental das Américas”. Todas estas alcunhas representam a história e a Geografia da Cidade da Parahyba. Como se deu seu processo de produção; o crescimento do tecido urbano e a abertura dos novos bairros ao longo do tempo? É o que vamos tentar responder com estes textos intitulados “percursos urbanos” a partir de hoje.
Nossa ideia é a de percorrer histórica e geograficamente os espaços que foram sendo produzidos na cidade, seja a partir do Estado (como os conjuntos habitacionais), seja com o capital privado, desde a autoconstrução nos fins de semana aos loteamentos, em bairros que se auto intitulam “nobres”, mas também naqueles de periferia - formais ou informais.
Do Porto do Capim ao Altiplano, passando pela Avenida Epitácio Pessoa.
Do Varadouro às Três Lagoas, percorrendo a Rua das Trincheiras e a Avenida Cruz das Armas;
Do Busto de Tamandaré ao Bessa;
De Mangabeira a Paratibe.
Os bairros são, muitas vezes, símbolos de representatividade. É com eles que nos identificamos, temos relação de pertencimento e afeto.
Eu sou “valentinence” de coração, como costumo dizer. E é exatamente por perceber que este Valentina que eu frequento agora não é o mesmo que trago na memória de infância que precisamos perguntar: o que mudou? Como e quando mudou?
Valentina de Figueredo? Ernesto Geisel? Castelo Branco? Nomes de bairros, nomes de políticos que marcam uma “página infeliz da nossa história” como nos canta o carioca Chico Buarque. Ou como canta o outro Chico - o Limeira - paraibano, em sua polêmica e aclamada música: Imprópria - “nem tenho nada a ver com Figueredo, fí de Valentina”...
Os nomes da cidade, seus monumentos, o traçado de suas vias e o crescimento do assim chamado “tecido urbano” conta histórias, pois bem, queremos caminhar ao longo destas páginas, datas e marcos para entender e resgatar os percursos que marcaram e marcam a formação desta cidade.
Sabemos que, relacionado a momentos e contextos históricos diferentes, a atual cidade de João Pessoa-PB recebeu, ao longo do tempo, várias denominações, as quais se referem ao período econômico, político e ideológico vivenciado na ocasião. Entre finais do século XIX e até 1930 foi conhecida como Cidade da Parahyba, antes foi denominada Cidade de Nossa Senhora das Neves, ou ainda Frederica e Filipéia de Nossa Senhora das Neves. As alterações destes nomes também representam muito. Acordos políticos, invasões, ocupações ou “agrado”. João Pessoa, Getúlio Vargas, golpes e conchavos. Um assassinato que se sabe marcado por desafeto político, mas que até hoje é contado por uns como se a culpa tivesse sido de uma mulher. Anayde Beiriz - poetisa, progressista, feminista - também pretendemos falar nela.
Mas, por hora, o que precisamos dizer é que este primeiro texto se trata de um convite para que percorramos estes percursos juntos e busquemos caminhar pela cidade no Tempo e no Espaço com a intenção de desvendar seus processos.
*Geógrafa. Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIESP. Pesquisadora e integrante do Grupo de Estudos Urbanos da UFPB.
Edição: Heloisa de Sousa