Como diz a companheira, Elizabete Teixeira: “CONTINUAREMOS NA LUTA!”
Por Bodão Ferreira*
60 anos sem João Pedro Teixeira
Combater a exploração
É do povo a bandeira
Essa luta está marcada
Na história brasileira
Contra a opressão e a fome
Resistência está no nome
De João Pedro Teixeira
Tombado há sessenta anos
Por ser grande referência
Do povo trabalhador
Despertando a consciência
Mesmo sendo perseguido
Se manteve aguerrido
Com coragem e resistência
Nascido em Pilõezinhos
No dia 4 de março
Século XX, ano 18
Mas teve logo um embaraço
Aos seis anos, perde o pai
Esse triste fato vai
Lhe deixar em descompasso
Após perder o marido
A mãe de João se mudou
Indo morar em Sapé
Com os avós, João ficou
Aos 18 anos chegar
Decidiu que ia morar
Com a mãe e ela aceitou
Em Sapé foi trabalhar
Pra ajudar no sustento
Na lavoura do roçado
Garantia o alimento
Depois, pra fazer a feira
Trabalhou numa pedreira
Perto de Café do Vento
Próximo ao seu trabalho
Uma bodega havia
Que vendia aos peões
“Fiado” as mercadorias
O olho de João Pedro brilha
E se enamora pela filha
Do dono da mercearia
Ao saber do tal namoro
O pai da moça inibiu
“Filha minha com operário
Onde é que já se viu!”
Como o pai não entendeu
Elizabete escolheu
E com João Pedro fugiu
Abrigado pelo tio
João teve indignações
Em ver seu tio tratar
Com violência os peões
Ficava inconformado
Ao ver povo injustiçado
Perante as opressões
Mudou-se para Recife
Jaboatão, o distrito
Conseguiu um novo emprego
Mas lá seguia aflito
Os patrões a explorar
E quem fosse reclamar
Desembocava um conflito
Nesse período, João
Já brigava por direitos
Vendo que os trabalhadores
Estavam insatisfeitos
Do jeito que eram tratados
Extorquidos, torturados
Violência e desrespeito
Falando com os companheiros
Buscando um itinerário
Uma forma de lutar
Por condições e salário
E foi fundado por Teixeira
Com os Colegas da pedreira
O Sindicato Dos Operários
A notícia ganhou fama
E também perseguição
Porque direito pra pobre
é um insulto pro patrão
João, pra evitar armadilha
Com Elizabete e família
Saíram de Jaboatão
De volta para Sapé
No Sítio Sono das Anta
Quando vê as condições
Do povo, João se espanta
Pra quem vive da agricultura
Só farinha e rapadura
Não lucra nem do que planta
De novo, indignado
Juntou-se aos companheiros
Entre eles: Nêgo Fuba
Também Pedro Fazendeiro
Se uniram sem temer
Pra lutar e combater
Tirania de usineiro
Enquanto os coronéis
Se esbaldavam em riquezas
Cobrando Foro do povo
Na mais extrema pobreza
Antes ninguém combatia
Mas agora existia
A forte Liga camponesa
Com a fundação da liga
E o povo organizado
Todo dia aparecia
Dezenas de filiados
Agricultor, estudante
Operário, comerciante
Em sapé e em todo Estado
Grandes comícios nas feiras
Denunciando os patrões
Contra o Cambão e o Foro
Contra abusos, punições
Quem só sabia explorar
Não iria aceitar
Tantas manifestações
Dentre os diversos nomes
Que passavam a crescer
O de João sempre estava
E muitos podiam ver
Lutar pelo bem Comum
Fez de João Pedro um
Cabra Marcado pra morrer
Aumentou a tirania
Na intenção de parar
O povo que só queria
Ter um lugar pra plantar
Foi assim que os fazendeiros
Contrataram pistoleiros
Da polícia militar
Abril de 62
Chamam João Pedro Teixeira
Para ir à João Pessoa
Numa reunião cabreira
E mesmo tendo coragem
Aquela longa viagem
Seria a derradeira
A mando dos coronéis
Policiais disfarçados
Armaram a emboscada
Com mosquetão carregado
Voltando ao final do dia
Num ato de covardia
João Pedro foi alvejado
João tombou indo pra casa
Levando em suas mãos
Material escolar
Dos filhos, pela intensão
De que seu povo pudesse
Ter direitos e tivesse
Acesso à educação
Quem atirou continua
Com os seus, na impunidade
Buscando calar a quem
Luta pela igualdade
Mas essa corja nem sente
Que João Pedro é semente
Semente de liberdade
João tombou por enfrentar
Os patrões nessa disputa
Mas deixou outras pessoas
Combatendo na labuta
Como diz a companheira
Elizabete Teixeira
“CONTINUAREMOS NA LUTA!”
*Historiador, cantor, poeta e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Edição: Cida Alves