Paraíba

DESAPARECIDOS

Ambientalistas e indígenas fazem vigília na PB nesta quinta (9) por Bruno Araújo e Dom Phillips

No 3º dia de buscas frustradas, força-tarefa diz não ter pistas de indigenista e jornalista

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Atividade - Card: Reprodução

Nesta quinta-feira (9), servidores ambientalistas, povos indígenas e movimentos sociais se unem para fazer uma vigília pela intensificação das buscas do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips. A atividade acontece no busto de Tamandaré (Praia de Cabo Branco/PB), a partir das 18 horas

“Gostaríamos de contar com a presença de todas e de todos aqueles sensíveis à situação como um gesto de compromisso com a atividade indigenista e com o livre exercício do jornalismo”, dizem em nota nas redes sociais.

No 3º dia de buscas frustradas, força-tarefa diz não ter pistas de indigenista e jornalista. A ausência das aeronaves, consideradas cruciais para o sucesso da operação, é denunciada por organizações indígenas e indigenistas desde o desaparecimento. 

Não há pistas

A Polícia Federal (PF) afirmou que não tem pistas concretas do paradeiro do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos desde o domingo (5) no Vale do Javari (AM). A informação foi apresentada em entrevista coletiva concedida no final da tarde de hoje (8) em Manaus.

O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, afirmou que helicópteros são utilizados nas buscas desde ontem (7). A ausência das aeronaves, consideradas cruciais para o sucesso da operação, é denunciada por organizações indígenas e indigenistas desde o desaparecimento. 

Fontes disse que investiga a relação entre o sumiço da dupla e o tráfico de drogas. "Vamos apurar eventual homicídio, caso tenha ocorrido. Não descartamos nenhuma linha investigativa. Até o momento a gente fala em desaparecimento", declarou.

:: "Não vemos interesse do Estado em encontrar Bruno e Dom Philips", dizem indígenas do Javari ::

Além da PF, a coletiva contou com a participação de representantes do Exército, Marinha, Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.

Na coletiva, a PF exibiu em um telão imagens aéreas gravadas de dentro de helicópteros que sobrevoaram a região. Mais cedo, nesta quarta-feira (8), a Justiça Federal havia determinado que as aeronaves fossem utilizadas na operação.

"O cerne da questão é a omissão do dever de fiscalizar as terras indígenas e proteger os povos indígenas isolados e de recente contato", escreveu na sentença a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe. A ação foi protocolada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), junto com a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF). 

SSP-AM se contradiz sobre prisão de suspeito 

Na manhã desta quarta-feira (8), a Polícia Militar (PM) do Amazonas divulgou ter prendido um homem de 41 anos, conhecido como "Pelado", por suspeita de envolvimento no desaparecimento. Na coletiva, porém, o secretário de Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas (SSP-AM) declarou que o homem não tem "nada a ver" com o desaparecimento. 

"A investigação ouviu seis pessoas, cinco como testemunhas e um como suspeito. Esse suspeito, por enquanto, não tem nada a ver ainda - está em investigação. Não fizemos a ligação dele com o desaparecimento", disse o chefe da SSP-AM, general Carlos Alberto Mansur.

Segundo a PM, "Pelado" foi detido com munição controlada de rifle 762, além de um cartucho calibre 16 e balas de 16 chumbinho. Ele também portava uma substância parecida com cocaína, mas que não passou por testes.

Ao Brasil de Fato, um indígena que acompanha Bruno Pereira frequentemente em outras ações de fiscalização afirma que “Pelado” ameaçou a dupla um dia antes do desaparecimento. “Eles [‘Pelado’ e outro pescador] levantam duas armas dizendo para os indígenas: ‘vocês vão levar tiros’”, relatou sob anonimato. 

Protestos

Em Los Angeles (EUA), dois caminhões circularam nesta quarta-feira (8) exibindo a pergunta “onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira", além da mensagem "Fora Bolsonaro". O presidente, que busca estreitar relações com Joe Biden, desembarcará amanhã (9) na cidade norte-americana, onde participará da Cúpula das Américas.

Uma vigília foi montada na noite de terça-feira (7) em frente à sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília. A iniciativa da Associação Indigenistas Associados (INA), entidade de servidores da Funai, foi convocada para cobrar ações efetivas na elucidação do caso. 

Desaparecidos

O jornalista inglês Dom Philips, colaborador do The Guardian, e o indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), estão há mais de 72 horas desaparecidos no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas. A região abrange a Terra Indígena do Vale do Javari, habitada por diferentes povos nativos isolados.

O alerta foi dado nesta segunda-feira (6/6) pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi). Foram acionados a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Exército, entre outras autoridades, mas ainda não há detalhes das investigações.

Ameaças

Em nota, as organizações alertam para o fato de que, na semana do desaparecimento, Bruno e sua equipe haviam recebido ameaças, sem detalhar de quem eram. Tido como um dos mais experientes servidores da Funai, ele foi por anos o coordenador regional da entidade em Atalaia do Norte por anos e alvo constante de ameaças por parte de invasores — pescadores, garimpeiros e madeireiros — pelo trabalho que realiza junto aos indígenas. A preocupação maior é que ambos tenham sido capturados por grupos criminosos durante o deslocamento.

De acordo com a nota divulgada pelas organizações, Dom e Bruno se deslocavam “com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima a localidade chamada Lago do Jaburu, para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”. Os dois chegaram na localidade no dia 3. No dia 5, os dois retornaram logo cedo para a Atalaia do Norte, mas antes pararam na comunidade São Rafael, visita previamente agendada, para que Bruno fizesse uma reunião com o líder comunitário apelidado de “Churrasco”, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetada pelas intensas invasões.

Ainda segundo os grupos, eles chegaram em São Rafael por volta das 6h e conversaram com a esposa do “Churrasco”, que não estava na comunidade, e depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas. Assim, deveriam ter chegado entre 8h e 9h da manhã na cidade, o que não ocorreu.

Uma equipe de busca da própria Univaja formada por indígenas saiu por volta de 14h de domingo para buscar os desaparecidos, cobrindo o mesmo trecho que ambos teriam percorrido, incluindo os “furos” do rio Itaquaí. Pouco depois, às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local. “A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel — que fica abaixo da São Rafael — com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte”, informa a nota.

As entidades ainda ressaltam que Dom e Bruno viajavam com uma embarcação nova, 40 HP, 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem e 07 tambores vazios de combustível.

Além da delegacia da PF em Tabatinga (AM), que já fez as primeiras diligências, e das equipes Univaja, a Funai também realiza buscas desde a manhã desta segunda-feira com três servidores e dois agentes da Força Nacional. A fundação ressalta que Bruno não estava em missão oficial e que se encontra licenciado de seu cargo.

Além disso, o Ministério Público Federal afirmou ter instaurado um procedimento administrativo para apurar o desaparecimento. Em nota, afirmou ainda ter acionado a Polícia Civil, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha, que “confirmou ao MPF que conduzirá as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais”.

A Human Rights Watch também divulgou uma nota expressando sua preocupação. “É extremamente importante que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois”.

Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) informou ter enviado ofícios às autoridades se juntando aos pedidos de prioridade na elucidação do caso e no resgate do jornalista e do indigenista desaparecidos.

Edição: Heloisa de Sousa