Os deslizamentos causados pelas chuvas em Recife mataram 122 pessoas, entre o desespero das famílias em salvar suas vidas e suas moradias, surgiu um questionamento: qual a cor das pessoas que morrem em alagamentos? Quais a áreas em que esses desastres são mais comuns? “Estamos abandonados. Ninguém aparece por aqui para ajudar”, disse aos prantos em rede nacional uma moradora de Camaragibe, cidade do Pernambuco, onde aconteceram muitos deslizamentos de terra. E ela completou, “qual de nós será o próximo a morrer?”.
Nas redes sociais a Abayomi Coletiva de Mulheres Negras da Paraíba tem compartilhado cards e se posicionado sobre os danos causados pelas enchentes no Recife. Durvalina Rodrigues, doutora em Antropologia pela UFPB, especialista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça e integrante do Abayomi, tem proposto o debate e levantado o questionamento sobre a ligação de desastres ambientais com o racismo. “Falar sobre racismo ambiental é falar de mais uma expressão e materialização de racismo nesse país, pois as catástrofes ambientais acabam escancarando as desigualdades sociais e a negligência dos gestores públicos com a população que vive as margens da cidade, ou seja, nas periferias”, pontua Durvalina.
As chuvas, elas são bem vindas, o que não é bem vindo é o descaso, o preconceito, a negligência
O termo racismo ambiental foi empregado pela primeira vez em 1982 por Benjamin Chavis, reverendo e liderança do movimento negro dos Estados Unidos, a partir de pesquisas e investigações que apontavam que depósitos de resíduos tóxicos concentravam-se em áreas habitadas pela população negra norte americana. “Foi logo após essas pesquisas que chegamos à análise e categorização do Racismo Ambiental ser a descriminação racial nas políticas ambientais”, completa Durvalina. No Brasil o conceito só começou a ser utilizado nos anos 2000.
Durante a Conferência do Clima em 2021, a COP 26, que foi realizada na Escócia, representantes de Movimentos Negros do Brasil, realizaram o evento “Terra, territórios e o enfrentamento ao racismo nas lutas contra a crise climática” para discutir sobre o racismo ambiental no país. Durvalina explica que o movimento pretende tornar público o descaso que a população negra sofre no país, em especial, aqueles que vivem a margem, em áreas de perigo e sem proteção contra desastres climáticos. “As chuvas elas são bem vindas, o que não é bem vindo é o descaso, o preconceito, a negligência, o desconhecimento e o desrespeito à população mais empobrecida desse país que, em sua maioria, é a população negra, inclusive, uma população que, secularmente, leva esse país nas costas”, afirmou.
Edição: Cida Alves