A história da quadrilha junina inicia lá na Europa, quando surge como uma dança praticada por camponeses e depois passa a ser incorporada na Corte, ou seja, considerada alta sociedade.
Na Inglaterra e França ela sofre algumas modificações e ganha uma organização e catalogação, demonstrando características de diferenciação social e elite. A pesquisadora e professora do Curso de Dança da UFPB, Ana Valéria, fala sobre o significado do nome.
“Ela tem esse nome de quadrilha porque é formada inicialmente por quatro pares de casais que formam um quadrado e desenvolvem variações de movimentos através da enunciação de um mestre de cerimônias, e a força e influência que teve a Corte Francesa faz com que hoje os movimentos carreguem palavras francesas como anavantu, anarriê, de fato ”.
No Brasil, a quadrilha ganha notoriedade e as pessoas passam a dançar nos grandes salões de festas, mas com a destituição da Monarquia e a chegada da República, os elementos ligados ao imaginário da Corte Portuguesa são recusados pela então elite cultural. “Foi nesse período que a prática da dança da quadrilha começou a se manter nas populações mais pobres e regiões rurais, onde se dançava em celebração à colheita do milho, criando assim uma tradição”, explica Valéria.
Processos migratórios e a figura do matuto nas quadrilhas
Ana Valéria ainda explica que nos anos de 1920 e 1930, devido a fortes secas no interior do Brasil, iniciaram-se os processos migratórias, e essas pessoas mais simples retornaram aos grandes centros urbanos com suas culturas e danças típicas interioranas, sendo uma delas a quadrilha.
Acabou sendo muito difundida nos ambientes escolares, porém com ideias pejorativas frente a esse povo do campo que agora habitava as cidades. “Muitas das vezes a quadrilha refletia a visão de Brasil que se queria implementar com urbanização e industrialização, e o homem do campo não é reconhecido nessa época, então nas escolas as quadrilhas eram inseridas com esse homem sendo tratado de forma pejorativa e caricatural: pobre, de roupa remendada, dente preto, que não sabe falar, e esses são elementos que começam a fazer parte das quadrilhas da época, principalmente no ambiente escolar”, afirma a professora.
Quadrilha, Babado de Xita e a força da juventude
As quadrilhas juninas mobilizam um grande número de pessoas, que não se restringem ao calendário de festejos juninos. Os ensaios desses grupos têm início nos primeiros meses do ano, assim como a preparação para apresentações e concursos.
Yan Santos, estudante do Curso de Dança da UFPB, é também coreógrafo e presidente da Quadrilha Junina Babado de Xita, do bairro do Cristo Redentor, Comunidades Vale das Palmeiras e Jardim Itabaiana, na capital.
O grupo foi fundado em 5 de setembro de 2019, um pouco antes da pandemia, mas só fez sua primeira aparição em 2021, na live das quadrilhas juninas de João Pessoa. “A Babado de Xita foi criada com o intuito de promover cultura no bairro, na comunidade, e também de ocupar a mente dos adolescentes e jovens, para promover um diferencial na vida dessas pessoas, porque a dança e a música proporcionam isso, em especial a dança típica da terra, do nosso Nordeste”, afirma o coreógrafo.
Edição: Heloisa de Sousa