Acontece nesta segunda-feira (11), a 10ª seletiva para o duelo nacional de MCs, a seletiva do Geisel, que terá início às 19 horas, no palco da Praça.
Esta será a 10ª batalha de um total de 16 em todo o estado. Na sexta, ocorreu a seletiva do Coqueiral, no sábado foi a vez da cidade de Monteiro, e no domingo, é a vez de Cajazeiras. A seletiva final paraibana será em outubro, o local ainda está sendo definido.
Yverton André, o Mc Mito 083, é um dos organizadores que reuniu as lideranças de batalhas de rima do estado em um grupo no WhatsApp. Ele conta que uma vez por mês tem reunião de liderança para fazer uma batalha única, unindo João Pessoa, Cabedelo, Santa Rita, Campina Grande, Rio tinto e Picuí.
“Como a gente não tem diálogo com a Prefeitura, muitas vezes somos hostilizados pela polícia - apesar de ter consciência de que é a nossa cultura, a gente tem muito problema com isso, a falta de reconhecimento”, conta ele.
“Ano passado tivemos o primeiro representante do duelo de MCs da Paraíba na batalha nacional, o MC Clow, do Valentina, e a gente foi muito bem representado. Isso resultou que a gente teve mais uma oportunidade de estar participando este ano, então esta é a segunda vez na história que a gente consegue ter um representante paraibano na nacional”.
Sem apoio do estado, a participação no duelo nacional de MCs, em Belo Horizonte, é realizada por iniciativa individual.
“A gente se ajuda e consegue pagar essa passagem para a batalha em Belo Horizonte”, conta Yverton.
Toda a infraestrutura das batalhas na Paraíba é produzida pelos próprios participantes: “Tudo é iniciativa nossa porque muitas vezes não temos nem o equipamento de som para estar fazendo o evento. Nosso estado não nos ajuda na cultura por isso que a Paraíba nunca teve antes um representante na nacional. E a cultura de batalha de rimas existe em todo o Brasil e no mundo afora”, comenta Yverton.
A batalha é aberta para qualquer pessoa participar, bastando apenas dar o nome. Nesta seletiva, está sendo cobrada uma contribuição de R$ 10, e este valor, ao final das seletivas, será destinado como ajuda de custo para o Mc que irá viajar para o duelo nacional.
Diversidade Humana
A batalha da Paz, que acontece na Praça da Paz, nos Bancários, é dedicada ao público da diversidade. É uma batalha exclusiva para pessoas trans, gays, lésbicas e mulheres.
Além disso, 30% das vagas em todas as batalhas são reservadas para o público da diversidade. Também é proibido discriminação, problemas na justiça - principalmente com a Lei Maria da Penha - não podendo participar da batalha de rima sendo considerado “uma pessoa de má conduta”.
Nas outras batalhas, que acontecem durante todo o ano, as mulheres se inscrevem na mesma proporção dos homens. “Temos muitas mulheres, a gente precisa mostrar para as meninas que elas podem ocupar esse espaço”.
João Pessoa é o local no Brasil que tem mais batalha de rimas, num total de 12 batalhas locais, sendo a Paraíba o estado com mais batalhas de rimas nacionalmente.
Múltiplos talentos
Driblando o preconceito e mostrando grande valor cultural e artístico, as batalhas são frequentadas por pessoas de múltiplos talentos. Mc Leozin, que sempre está presente nas batalhas, foi campeão durante quatro anos seguidos da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - OBMEP. Ele também tirou nota 100 no ENEM.
Já o próprio Yverton, que tem 21 anos, é ex-seleção paraibana de Futebol, 2019. Ele reclama de mais essa ausência de ajuda do Estado, visto que a sua escola não tinha estrutura, não tinha sequer quadra para treinar.
Nas batalhas, os temas mais abordados giram em torno da política nacional, a violência policial e a questão do fechamento das escolas durante a pandemia.
“Somos jovens e revolucionários, temos várias ideias e a gente queria que as pessoas escutassem a gente, que não chegasse lá com uma viatura atirando bala de borracha na gente, mandando ir para casa, nos chamando de vagabundo. A gente só quer fazer a nossa Cultura”.
Violência policial
A seletiva do bairro dos Bancários, mais uma vez, contou com a pressão da polícia, que retirou todo o equipamento de som. “Eles não apreenderam o som, mas falaram que se a gente não desligasse iria levar o responsável preso e quando alguém questiona já vem sendo agredido por socos e chutes. Mesmo assim, a gente desligou o equipamento e fez a batalha só na voz”, afirmou Yverton.
Edição: Maria Franco