A união de quase 2,5 mil pessoas para dançar o toré, entoar cânticos em tupi e pintar os corpos com sementes do mato, foi a tônica do 1º Festival da Cultura Indígena, que aconteceu em Rio Tinto, com realização do governo da Paraíba, no útltimo dia 06 de agosto.
10 horas de Festa
O Festival aconteceu no pátio do Casarão dos Lundgren, localizado dentro do território Potiguara. A construção foi tombada como Patrimônio Histórico, e antigamente era a moradia de verão daquela família, que investiu em fábrica de tecidos e outros negócios, no início do século passado.
Das 9h às 19 horas, passaram pelo palco e terreiro 29 apresentações de dança, teatro, cantoria, lapinha, burrinha, toré, ciranda e coco de roda. A festa teve ainda apoio das prefeituras municipais de Rio Tinto, Marcação, Baía da Traição e Conde e atraiu, também, visitantes do Rio Grande do Norte e de Pernambuco, entre eles jornalistas.
Uma comitiva de Paulista (PE), onde os Lundgren também mantiveram empresa, acompanhou o Festival, com fotografias e filmes para apresentação em evento posterior, incluindo escolas do município.
Arte de encher os olhos
Enquanto nas tendas do artesanato o público via e comprava peças criadas nas aldeias Potiguara e Tabajara, nas tendas da culinária se deliciava com beijus, tapiocas, bolos e mugunzá.
Entre as atividades que mais atraíram a atenção e participação do público estava a pintura indígena, que se utiliza de tintas naturais extraídas do urucum e do jenipapo. O urucum dá vários tons avermelhados, enquanto as sementes do jenipapo produzem o preto.
Os indígenas associam as duas cores em pinturas vistosas nas costas, peito, pernas, braços e rosto. E o público seguiu esse ritual, fazendo fila para a pintura corporal.
O toré foi o ritual mais apresentado pelas aldeias participantes do Festival. A dança mais conhecida dos indígenas surgiu em vários momentos: houve o toré dos caciques, abrindo o Festival, e torés realizados por algumas aldeias, tanto potiguaras como tabajaras.
Antes dos brancos
Antes da chegada do colonizador branco ao Brasil, a terra correspondente ao que é hoje a Paraíba, era habitada por integrates das etinias indígenas Cariri, Potiguara e Tabajara. Além de outras classificadas como integrantes dos ‘lingua presas’, povos que não falavam o Tupinambá, explica a pesquisadora e escritora Vilma Martins, professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal da Paraíba.
Os povos Potiguara são, desde sempre, os ‘senhores do litoral’ porque suas aldeias dominaram essa faixa de terra a partir do Rio Grande do Norte, passando pela Paraíba e seguindo o rumo Sul.
“Eles dominaram essa faixa de terra não só territorialmente, mas sobretudo, cultural e religiosamente. Já os Tabajara, vieram do que hoje é o Ceará e se instalaram principalmente na área do atual Município do Conde, enquanto os Cariri ocuparam as áreas do Sertão e Cariri, sendo conhecidos como ‘senhores da terra’, porque se fixaram onde chegaram e não tinham hábito nômade”, explica Vilma Martins.
Avivamento da cultura indígena
A professora Vilma Martins (UFPB) comemora o atual momento, que classifica como de avivamento da cultura indígena. “Hoje eles estão exigindo mais seus direitos, indo à luta. Depois de gerações sendo massacradas – e ainda são – os povos indígenas estão perdendo o medo. Têm consciência da sua importância e de que são os reais donos das terras brasileiras”.
Ela, entretanto, externou uma preocupação: “Muitos indígenas têm entrado para religiões, principalmente a evangélica. Isso é complicado”. Sobre isso, a gerente de Articulação Cultural da Secretaria de Estado da Secult, Mariah Marques, afirma que compreende a preocupação da professora, porque há indígenas que não apenas entram para essas religiões, como também querem impor seus novos preceitos à aldeia. “E a verdade é que os seus companheiros não querem isso, e se mantém fieis à cultura religiosa originária”.
Edição: Polyanna Gomes