O Instituto Datavox divulgou, na última terça-feira (23), a primeira pesquisa de intenção de votos na Paraíba desde o início oficial da campanha eleitoral. No levantamento referente aos candidatos ao governo do estado, o atual governador João Azevêdo (PSB) aparece na frente, com 28,6% das intenções de voto. Em seguida vem Pedro Cunha Lima (PSDB), com 16,5%, Nilvan Ferreira (PL), com 12,8%, e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), com 12,5% das intenções de voto.
Na pesquisa também aparecem Major Fábio (PRTB), com 1,1%, Adriano Trajano (PCO) e Antônio Nascimento (PSTU), com 0,6% cada, e Adjany Simplício (PSOL), com 0,4%. Os eleitores indecisos somaram 20,2% e os que pretendem votar em branco ou nulo 6,7%.
Os números do Instituto Datavox foram obtidos por pesquisa estimulada, modalidade em que os nomes dos candidatos são apresentados em uma lista para que os eleitores escolham. De acordo com o Instituto, foram ouvidos, no total, 2 mil entrevistados entre os dias 18,19 e 20 de agosto, em setenta municípios paraibanos.
Para compreender o cenário político neste início de campanha e analisar os resultados da pesquisa, o Brasil de Fato Paraíba conversou com o cientista político e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), José Artigas. Segundo ele, a pesquisa “não traz grandes surpresas” e, embora seja “muito cedo para vaticinar qualquer resultado que possa vir a acontecer”, existe uma tendência de que João Azevêdo se consolide como favorito: “Não para a vitória em primeiro turno, mas para chegar no segundo turno com grande fôlego para disputar com seu adversário”.
Tradição brasileira
De acordo com Artigas, a vantagem de Azevêdo em relação aos demais candidatos passa por uma espécie de “tradição brasileira de reeleição de governadores”, que, por sua vez, está diretamente ligada ao aproveitamento da chamada “máquina pública” durante o período pré-eleitoral.
“Em geral, os governadores tendem, em muito grau, a se reelegerem. A não reeleição de governadores no Brasil é uma exceção. E isso tem a ver, naturalmente, com a capacidade que os governos tem de mobilizar as máquinas administrativas durante o período eleitoral e utilizar as políticas públicas concentradamente nos anos pré-eleitoral e eleitoral no sentido de dar maior visibilidade às ações do governo”, explicou.
Contudo, o professor alerta que é provável que, com o avançar da campanha, a margem de distância do governador em relação aos concorrentes diminua, pois, como primeiro colocado e atual gestor, ele será o principal alvo dos ataques dos demais candidatos. Neste sentido, Artigas aponta o atual deputado federal e segundo colocado na pesquisa, Pedro Cunha Lima, como um dos principais adversários de João.
Artigas lembra que há alguns anos o PSDB de Cunha Lima tem se credenciado como o principal partido de oposição ao governo de João Azevêdo “replicando, de alguma maneira, uma polarização entre o PSB e o PSDB, que já provém de três eleições”. A favor do tucano também estaria o fato do PSDB ser, de acordo com Artigas, “um dos partidos mais capilarizados no estado”, ao lado do MDB e do PT.
Cenário nacional
Se a disputa na ponta entre PSB e PSDB não chega a ser novidade, o empate técnico entre Nilvan Ferreira (PL) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) foi considerado uma surpresa pelo cientista político. Segundo Artigas, o crescimento de Nilvan em relação às pesquisas divulgadas antes da abertura do período eleitoral confirma o vigor do bolsonarismo na Paraíba e o reconhecimento do radialista como candidato alinhado ao Governo Federal.
“É muito importante levarmos em consideração que tanto em João Pessoa quanto em Campina Grande, os dois maiores colégios eleitorais do estado, Bolsonaro venceu no primeiro turno em 2018. Portanto, o voto bolsonarista nessas duas cidades é bastante expressivo. E agora a gente começa a perceber uma migração de intenção de votos no sentido do apoio a Nilvan Ferreira exatamente porque o eleitorado começa a perceber quem é o candidato de Bolsonaro no estado”, detalhou.
Em relação a Veneziano, o professor da UFPB observa que, apesar de estar coligado com o Partido dos Trabalhadores e, consequentemente, contar com o apoio da candidatura de Lula, o emedebista “ainda não conseguiu buscar os votos que seriam característicos da centro-esquerda no estado”. Um dos motivos, para o cientista político, seria a existência de um “racha” dentro do próprio PT na Paraíba.
“Isso tem muito a ver com o racha que aconteceu no partido e que acabou levando a uma forte dissidência, principalmente de alas mais tradicionais da militância do PT, que optaram por não seguir a orientação do partido e agora defendem e estão militando na campanha de João Azevêdo. O PT chega a essa eleição rachado e isso obviamente fragiliza a capacidade competitiva do seu candidato majoritário ao governo, Veneziano Vital do Rêgo”, apontou Artigas.
Propaganda
Na opinião de José Artigas, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV nas próximas semanas pode ser decisiva para a corrida eleitoral pelo governo do estado. Neste ponto, ele ressalta a vantagem que Pedro Cunha Lima e João Azevêdo dispõem por serem os candidatos com maior tempo de propaganda devido ao peso das coligações e federações reunidas em torno de suas candidaturas.
Para o cientista político, o tempo no rádio e TV também será fundamental para que a coligação "A Paraíba Tem Pressa de Ser Feliz", de Veneziano Vital do Rêgo, apresente suas propostas e se reposicione na disputa. Outro fator que pesa a favor tanto de Veneziano como Azevêdo e Cunha Lima é o volume de recursos disponíveis dos fundos partidários e eleitoral para custear suas atividades de campanha.
Já no caso de Nilvan, Artigas salienta que, por não estar coligado a nenhum outro partido, o tempo de propaganda no rádio e TV será bem mais curto que o de seus concorrentes, Além disso, diferente dos demais candidatos, o PL, sigla do radialista, “não dispõe de diretórios do partido capilarizados pelo interior do estado e, portanto, vai ter grande dificuldade de articular a campanha nos municípios do interior”. Na análise de Artigas, para se destacar dos demais postulantes, Nilvan aposta no apoio do presidente da República e em sua “plataforma antissistêmica”.
“A plataforma antissistêmica diz respeito à difusão da ideia de que todos os políticos são ruins, todos os partidos são ruins e que é preciso acabar com tudo que foi feito no passado e construir tudo novo. Se por um lado essa proposta tem um relativo apelo popular, por outro lado falta solidez do ponto de vista administrativo e político-institucional”, pontuou o professor.
Edição: Maria Franco