Paraíba

INICIATIVA

Formação "Xepa Ativismo - Fome como uma questão política" tem início nesse mês de setembro

Serão cinco aulões virtuais e gratuitos. Inscrições já estão abertas e a primeira aula será realizada nesta quinta (8)

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Xepa Ativismo e Mídia NINJA em parceria com o Grupo de pesquisa FomeRI (UFPB), realizam no mês de Setembro e Outubro ‘aulões’ virtuais em busca de abordar as complexidades da Fome - Divulgação

A Xepa Ativismo e Mídia NINJA em parceria com o FomeRI, grupo de pesquisa sobre Fome e Relações Internacionais da UFPB, realizam no mês de Setembro e de Outubro cinco aulas virtuais e gratuitas com professoras (es) e pesquisadoras (es) sobre a temática da fome. O Circuito de Formação Xepa Ativismo - A fome é uma questão política, tem o objetivo de  fornecer condições para que o público possa compreender esse tema enquanto projeto político e, buscar ações e mobilizações para o enfrentamento, principalmente diante da proximidades das eleições 2022. As incrições para as formações já estão abertas e podem ser acessadas através do link CFXA.


Cartaz Formação Xepa Ativismo, Mídia Ninja e FomeRI / Divulgação

 

SOBRE A XEPA ATIVISMO

A Xepa Ativismo é uma rede de ativismo alimentar ligada ao Mídia Ninja, composta por cozinheiros ativistas e redes de democratização do alimento que buscam promover debates, ações e mobilizações ligadas ao consumo consciente, agroecologia e sustentabilidade. Bianca Lima é coordenadora dessa rede e explica que o projeto para realização dessas formações vem sendo discutido desde março deste ano, em especial, com profissionais da área e pesquisadores. "Então, começamos esse ano a pensar e querer essas formações, mas desde 2020, no auge da pandemia, discutíamos a questão da fome nas nossas redes sociais e as pessoas pediam um aprofundamento maior, teórico, então buscamos professores que debatem essa questão e vão conseguir apresentar dados científicos sobre o tema para que a galera entenda toda essa questão da fome como algo político", explica Bianca. 


Bianca Lima em entrevista ao canal TV Salseiro, do Youtube / Divulgação

Bianca ainda comenta a linguagem que será utilizada durante o curso e para quem se destina as formações. " O público alvo é a galera que está disposta a disputar a alimentação no campo político, mas principalmente o público que não tem conhecimento diário sobre isso. Nosso intuito é buscar as pessoas que estão na insegurança alimentar e que estão sendo afetadas diretamente por essa política que temos hoje de ultra processados, agrotóxicos... o conceito que tratamos nesses aulões é de trazer uma linguagem popular, acessível, mesmo com participação acadêmica porque entendemos que tem muita elaboração nesse campo, mas muitas vezes não conseguem dialogar com a ponta, então nosso intuito é pensar nas pessoas que querem fazer esse trabalho de conscientização alimentar no seu território, cidade, bairro, dentro da sua casa, comunidade", esclarece.  

FomeRI

O Grupo de Pesquisa sobre Fome e Relações Internacionais, ligado ao Curso de Relações Internacionais da UFPB, é um parceiro da Xepa e Mídia Ninja nesse projeto. Thiago Lima, coordenador do grupo, enfatiza que o objetivo é entender a fome como uma questão política em toda sua amplitude. "O fundamental mesmo desses aulões é entender como que a política produz a fome, e não só a política desse governo ou de anteriores, mas como a política de forma geral, dos últimos séculos, podemos afirmar, difunde uma visão de mundo em que as pessoas precisam estar separadas da natureza e, portanto, separadas da comida", afirma  Thiago

FOME E O ATUAL GOVERNO

O candidato a reeleição para presidência, Jair Bolsonaro (PL), disse nesse último mês que não existe “fome pra valer” no Brasil. A afirmação foi feita durante uma entrevista a um Podcast. Anteriormente, em outra entrevista a um programa de TV, o atual presidente havia negado haver fome no país, ao dizer que não se encontravam pessoas “pedindo pão no caixa da padaria”. Bianca Lima disse que o título das formações bate muito nessa questão da fala política, de quem está no poder e a importância que se dá ao tema. " A fala do presidente afirmando que não existe fome no país, só reitera a importância e o chamamento desse título FOME É UMA QUESTÃO POLITICA, pois impacta a fala, e aí o tema está sendo bem quisto, principalmente nessa nova geração porque agora estamos querendo entender e saber o que estamos comendo, de onde vem esse alimento, pra onde vai e ainda, quem lucra com isso?", reflete a ativista. 

Thiago destaca que é a partir dessas falas que se analisa o quanto é importante e necessário esse tipo de formação. "O quadro atual que vivemos é de um Brasil com mais de 65 milhões de pessoas em insegurança alimentar moderada ou grave. Esse número absurdo de pessoas estão expostas a essa condição porque o governo atual desidratou diversos tipos de políticas públicas que poderiam apoiar as pessoas nessa condição de vulnerabilidade", afirma. 

E ainda completa, " a importância desse evento é mostrar que sim, o governo recente tem  adotado e minado políticas que agravam o problema da fome, mas também o problema da fome no Brasil é muito mais antigo, abrangente e enraizado na sociedade brasileira. O curso não é algo em protesto a esse governo, mas busca mostrar como que a política é importante para criar essa condição de fome e como ela também é a solução para sair dessa condição de fome", pontua o professor.

METODOLOGIA E TEMAS DAS AULAS

Os Aulões partem de duas premissas: Fome não é algo natural e sim algo politicamente criado; Fome gera ganhos e lucros para alguns interesses. Cada aula terá duas horas de duração, sendo uma hora pra exposição do professor (a) e outra uma hora para debate. Durante as aulas serão apresentados conceitos e interpretações da literatura que forneçam fundamentos para a interpretação de dados estatísticos, fatos históricos e políticas públicas. Toda a programação será realizada de forma virtual por meio da plataforma Zoom, no turno da noite. A primeira aula será ministrada pelo professor Thiago Lima e acontece nessa quinta-feira, dia 8, às 19h, com o tema: O papel do Brasil na Fome do Mundo - Quem ganha quando não se come aqui?

"Essa aula tem como objetivo mostrar que a produção agrícola no Brasil, bem como a fome imputada aos brasileiros, cumpre determinadas funções nas relações econômicas internacionais, mas que isso não é uma coisa exclusiva do Brasil, pois diversos países em desenvolvimento, ex colônias e periferias do sistema internacional, também cumprem essa função. As pessoas não podem comer o que querem, nem o que é saudável, porque se assim fosse elas prejudicariam o abastecimento alimentar em outras partes do planeta, o consumo de fibras, minerais, commodities agrícolas, enfim, consumo esse que é controlado por países centrais, principalmente os desenvolvidos", explica Thiago. 


Tema da aula de Thiago Lima / Divulgação

As aulas que seguem durante setembro e outubro trazem os seguintes temas: Fome no Brasil - Substantivo Feminino, pela Drª em Relações Internacionais, Ivi Elias (UERJ); Fome, Racismo Ambiental e Mudanças Climáticas, pela Mestra em Saúde Pública e Quilombola, Fran Paula; Fomes históricas no Brasil, pela Drª em História Social (USP) e líder do projeto social Quebrada Alimentar, Adriana Salay; A Fome dá lucro? Quem ganha e quanto se ganha com a Fome?, pelo Geógrafo e professor da UFABC, José Raimundo. 

 

 

 

Edição: Maria Franco