Paraíba

DISCRIMINAÇÃO

Estudante negra denuncia ter sido vítima de racismo por agentes de segurança da UFPB

Ela, juntamente com um amigo, foram barrados na entrada da Universidade na última quarta (12)

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução - Foto: Arquivo Pessoal

Uma estudante negra do Centro de Comunicação da UFPB denunciou ter sido vítima de racismo pelos agentes de segurança da instituição na última quarta-feira (12), por volta das 18h. Por ser feriado, a jovem de 29 anos, conta que foi até a Universidade com um amigo, ambos negros, para passear.

“A gente verificou que a entrada principal do CCHLA estava aberta e que estava tendo movimentação, atividades extraclasse. E havia pessoas com mochila, havia um rapaz na porta esperando um Uber, e outro rapaz havia acabado de entrar, mas ninguém chegou perto dele, nenhum guarda, para abordá-lo, para falar com ele, nem sequer olhou para ele. Ele apenas entrou normalmente”, relata T.R, que foi barrada na entrada da instituição.

Quando os jovens se dirigiram para entrar, dois guardas se aproximaram para questionar o que eles vieram fazer ali. “Eles perguntaram de uma forma que eu me senti ameaçada, e eu falei que era estudante, e eles falaram que a gente não podia entrar no dia de hoje. A pessoa que estava comigo ficou bem envergonhada, e a gente já está meio que acostumados com isso, então a gente só queria sair daquele lugar”, explica ela.

Para T.R, o bloqueio dos guardas à sua entrada na Universidade foi motivado por discriminação pela cor da sua pele. “A gente percebeu que era pela nossa cor, pelo que a gente representa para esses guardas que selecionam, ou acham que podem selecionar quem vai entrar e deixar de entrar na universidade em um dia menos movimentado. Eu moro aqui no bairro, frequento a universidade, é onde eu me alimento, onde estudo, faço minhas atividades físicas, a comunidade toda utiliza esse espaço público para fazer caminhada, levar as crianças, principalmente em feriados, domingos ou sábados, e os guardas, a gente sabe qual o motivo, não permitiram que a gente entrasse na universidade para usufruir desse espaço que é nosso também. E eu como estudante me senti extremamente mal, me senti extremamente humilhada por um caso tão explícito”, desabafa ela, sem pronunciar a palavra racismo.

Desdobramentos

Estudantes do curso de jornalismo e também do Centro Acadêmico de Comunicação ficaram sabendo do ocorrido e publicaram uma nota de denúncia nas redes sociais.  


Nota de Denúncia do CA de Jornalismo - Vladimir Herzog / Card: Reprodução

André Firmino, Coordenador geral do Centro Acadêmico de Jornalismo, destaca a Universidade como espaço público: “Ela é estudante do nosso Centro e veio expor o que aconteceu. A Universidade Federal, que não é particular, é um espaço aberto para todo mundo. Você pode ir no banco, nos Correios, andar, fazer o que você quiser. E uma pessoa ser barrada já é um absurdo. A gente vê claramente que esse foi um caso de racismo”, comenta ele.

A estudante T.R. decidiu tomar medidas oficiais a partir do acolhimento dos estudantes e de alguns professores também. Ela diz não se sentir segura para expor nomes, principalmente o seu próprio. Isso porque os guardas estão armados na Universidade. Ela deu queixa na Ouvidoria e fez um boletim de ocorrência na Delegacia. Um professor está colhendo assinaturas para investigar os responsáveis por esse tratamento aos estudantes negros.

“Se chegou na Reitoria, e como ela vai abordar esse caso de violência, eu não sei. Eu também fiz um B.O (Boletim de Ocorrência) e estou aguardando análise para ter também esse documento”.

O Brasil de Fato PB entrou em contato com a Ouvidoria que reiterou sigilo da investigação: “As denúncias que vêm para a Ouvidoria têm sigilo, então a gente não pode se pronunciar sobre isso, até porque ela é parte de um trâmite. E a Controladoria Geral da União tem regulamentos que impedem que a gente fale sobre as denúncias que recebemos. Só quem é parte interessada da denúncia é o denunciado e o denunciante”, respondeu o órgão.


 

Edição: Maria Franco