A menos de duas semanas para o segundo turno das Eleições 2022, a discussão sobre a atuação dos governos no combate à pandemia de Covid-19 tem voltado a ocupar os debates entre candidatos à presidência da República e aos governos estaduais.
No último domingo (15), por exemplo, o tema da pandemia foi um dos mais explorados durante o debate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, o petista fez questão de lembrar que desde 2020 mais de 687 mil vidas foram perdidas no país para o coronavírus, o que, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), significa que mesmo com apenas 2,7% da população mundial, o Brasil é responsável por cerca de 10,5% das mortes pelo vírus em todo o planeta.
Ao analisar os números da tragédia e refletir sobre o processo eleitoral em que o país se encontra, o médico e doutor em saúde coletiva, Felipe Proenço, afirma que “ver como o Poder Executivo (federal e estadual) enfrentou a maior crise sanitária dos últimos 100 anos é fundamental para tomar uma decisão do que se espera para o país nos próximos anos”.
Ausência
Segundo Proenço, existe hoje um consenso entre a comunidade científica de que “houve uma ausência do governo federal no combate à pandemia”.
Neste sentido, o pesquisador relembra, em primeiro lugar, a constante troca de ministros da Saúde pelo governo Bolsonaro. Foram quatro ao total - Luiz Mandetta , Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga –, sendo o mais longevo (Pazuello) justamente o que não possuía qualquer formação ou experiência na área da saúde.
Ainda em relação à inoperância do governo federal frente a pandemia, Proenço destaca os obstáculos criados pelo Ministério da Saúde em relação ao acesso aos dados do coronavírus no país e a recomendação, pelo próprio presidente da República, do uso de cloroquina e do chamado “tratamento precoce”. Segundo o médico, “um tratamento sem nenhuma eficácia, sem nenhuma repercussão no combate à Covid e que fazia as pessoas se exporem ao vírus, um fator que certamente fez com que o Brasil fosse um dos países com maior mortalidade no mundo”.
Ainda assim, o mais grave, segundo o doutor em saúde coletiva, foi o atraso na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro.
“O dado mais impactante com relação ao governo federal é que ele atrasou a compra de vacinas. Isso coincidiu com a pior onda da Covid no país, que foi no primeiro semestre de 2021. Se o governo federal tivesse agido, certamente um grande número de mortes teria sido evitado. Estima-se que das quase 700 mil mortes que ocorreram até o momento, 400 mil poderiam ter sido evitadas”, ressaltou.
Paraíba
Diante da inoperância do governo federal frente a pandemia, segundo Felipe Proenço, “quem acabou assumindo uma parte importante desse combate foi a ação conjunta dos estados”.
O professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) recorda que, de todo o país, a região Nordeste foi a que teve as menores taxas de mortalidade e o melhor desempenho na prevenção e combate ao coronavírus. Até setembro deste ano, enquanto a média nacional de mortes por Covid-19 era de 325,4 por 100 mil habitantes, a média nordestina era de 230,8 por 100 mil. Além disso, dos dez estados mais vacinados do país, cinco são do Nordeste. Piauí, Ceará e Paraíba só perdem para São Paulo na adesão à campanha de imunização.
Em relação à Paraíba, Proenço reforça que o estado recebeu nota 10 em um levantamento produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o enfrentamento à Covid. Além da Paraíba, apenas o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo obtiveram a nota máxima.
O pesquisador também comenta que o estado foi o que mais mais utilizou evidências científicas para orientar as condutas ao longo da pandemia.
“Parece que ter ido por esse caminho de entender o que estava acontecendo do ponto de vista científico, tomar as medidas necessárias para responder a pandemia, inclusive do ponto de vista de apoiar as populações mais vulneráveis, fez com que, frente a essa tragédia, essa enorme crise sanitária, a Paraíba conseguisse ter um ótimo desempenho”, avaliou.
2º Turno
Com a experiência de quem trabalhou diretamente no enfrentamento da pandemia de Covid-19 na Paraíba, Felipe Proenço afirma que o tema da Saúde deve ser decisivo no momento da escolha dos candidatos no segundo turno das eleições.
“Para se falar em um projeto de nação, tem que se falar o que se espera da saúde, né? Saúde não pode ser feita de improviso”, explicou.
Questionado sobre quais seriam as melhores opções na Paraíba, o médico é categórico: “o único caminho pra fortalecer o SUS e a saúde pública nos próximos quatro anos é com o Lula presidente e João governador”.
“A gente sabe que só tem uma opção para para melhorar a saúde, que é Lula presidente. Foi ele quem fortaleceu o SUS, quem fez programas como o Farmácia Popular, o SAMU, o Mais Médicos e já se comprometeu a ter um investimento necessário para termos postos de saúde e hospitais de qualidade onde as pessoas possam ter acesso e possam ser atendidas”, concluiu.
Edição: Maria Franco