Paraíba

SEM INTERVENÇÃO

Mary Roberta é nomeada reitora do IFPB; instituto não possui lista tríplice, obrigando nomeação

Eleita com mais de 92% dos votos, gestão permanecerá até 2026. Confira entrevista com a nova reitora

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Internet - Foto: Reprodução

O Instituto Federal da Paraíba (IFPB) elegeu a sua primeira mulher para o cargo de reitora. Eleita com mais de 92% dos votos, a gestora ficará à frente da instituição até 2026.

A decisão da nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na quarta-feira (19). Mary Roberta ocupa o cargo a partir desta segunda-feira (24).

A nova reitora eleita irá conduzir a instituição que, atualmente, conta com 121 cursos técnicos, 46 de graduação e 17 de pós-graduação, cerca de 45 mil estudantes, 1.414 docentes e 1.075 técnico-administrativos espalhados por 21 unidades em todo o estado, entre Campus e Campus Avançado, além de um polo de inovação.

Para o ex-reitor, Nicácio Lopes, a conquista se reveste de muitos significados importantes, entre eles, o de ser a primeira mulher eleita no IFPB, quebrando paradigmas e conquistando espaços: “Ela tem um vínculo identitário com o instituto, um comprometimento extraordinário e está muito preparada em todos os aspectos, além de ser uma liderança contemporânea e na vanguarda de seu tempo”, declara Nicácio.

O Brasil de Fato Paraíba conversou com a nova reitora acerca de assuntos políticos educacionais que perpassam a própria instituição e também a atual conjuntura do país. Confira.

Brasil de Fato PB: Professora, fale um pouco de como foi o processo eleitoral para os nossos leitores, e por que só agora a senhora foi empossada, justamente pelo presidente Bolsonaro?
Mary Roberta: O processo eleitoral cumpriu o seu rito aqui no IFPB. Nós temos um rito que vem da lei de criação dos Institutos Federais e também por um Decreto Presidencial. E esse processo ocorreu dentro do prazo. Nós fizemos ele em abril e o mandato do professor Nicácio se encerrou agora, dia 23 de outubro. Então, ele teve esse período para a minha nomeação, que era o prazo legal para essa nomeação.
Nós ficamos muito satisfeitos porque foi respeitada a vontade da comunidade, até porque nós obtivemos aí 92,6% da vontade dos eleitores, então o percentual foi bastante significante, inclusive um recorde na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.
O processo se deu durante aquele período com uma participação muito forte. Nós tivemos, mesmo ainda estando naquele momento de transição, os debates, por exemplo, eles foram todos veiculados via YouTube, também nós tivemos participação presencial, mas também tivemos lives e a participação foi excelente durante todo esse período, culminando com a nossa eleição lá em abril, e agora, dentro do prazo legal, a nomeação pelo Presidente.

Por outro lado, também em declarações que eu fiz, inclusive em debates, eu disse que se eu tivesse numa situação em último lugar, no caso, se fosse a mesma regra das universidades, eu não aceitaria. 

BdFPB: Como a senhora avalia a situação do ensino federal na atual conjuntura?
M.R.: Nos últimos anos nós tivemos uma conjuntura com várias crises, econômica, política, crise social, e por fim, a crise que veio da pandemia. Então toda essa conjuntura nos trouxe dificuldades de ordens variadas, sobretudo nos aspectos orçamentários, e também financeiros, para o funcionamento das Instituições federais. E é um grande desafio para quem está assumindo uma gestão. Mas nós estamos aí com serenidade, nós estamos com muita preparação, com união, e sabemos que o chamado à comunidade na participação democrática para enfrentar esses desafios será muito importante na nossa gestão.

BdFPB: Outras universidades e Institutos Federais vêm passando por essa intervenção do presidente que, na verdade, tem a sua parcela de legalidade. Porém, não respeita a comunidade acadêmica e os protocolos criados para resolver as questões internas. Como a senhora vê isso?
M.R: Há uma diferença entre a legislação que rege a eleição, a consulta, para os reitores e reitoras das universidades e dos institutos federais. No nosso caso aqui, nós temos uma lei que protege a vontade da comunidade, e é por isso que nós temos tido esses resultados com as nomeações de nossos reitores. Houve alguns casos - mas já resolvidos - no âmbito dos institutos federais. E nas universidades federais, a legislação tem a lista trípice. E muitas vezes, muitos reitores que foram na consulta das universidades foram nomeados de modo diferente pelo presidente.

Cada cidadão deve ver na educação a transformação da sociedade - o futuro do seu filho, o futuro do seu neto, o futuro da sua empresa, porque nós precisamos de pessoas educadas para fazer a gestão

Então essa é uma situação bastante complexa que leva a uma reflexão em que a comunidade não foi respeitada, e isso causa problemas administrativos, inclusive. A gente aqui tem apoiado reitores que foram eleitos. Nós, por diversas vezes, lançamos essa defesa da democracia. Essa é uma base muito forte aqui no instituto federal, apoiar aqueles em que foi possível. Como você mesma falou, há uma legalidade nessas nomeações, mas há, também, a vontade da comunidade, que não foi respeitada.
Então nós enviamos cartas, inclusive de servidores, nós temos apoiado para que haja um bom senso que a escolha da comunidade seja respeitada. Isso é muito importante porque a instituição de educação precisa de autonomia, e precisa também ter um líder de verdade, que possa levar adiante, porque os desafios são muito grandes. Imagina quando você não tem esse respaldo de ser o primeiro colocado, por exemplo.
Por outro lado, também em declarações que eu fiz, inclusive em debates, eu disse que se eu tivesse numa situação em último lugar, no caso, se fosse a mesma regra das universidades, eu não aceitaria. 
Então esses reitores que aceitaram, eles com certeza enfrentam dificuldades ainda maiores do que as que nós já temos nas questões orçamentárias, também nas questões de mobilizar as pessoas para fazer o cumprimento da missão institucional.

BdfPB: A senhora acredita que, na atual conjuntura, o ensino público encontra-se em ameaça e em rota de colisão com os interesses do governo e empresários?
M.R.: A educação nesse país sempre enfrentou grandes desafios. Então, é preciso que os agentes públicos se unam, e que as pessoas, cada uma, não só políticos, não so empresários, mas cada cidadão possa ver na educação a transformação da sociedade - o futuro do seu filho, o futuro do seu neto, o futuro da sua empresa, porque nós precisamos de pessoas educadas para fazer a gestão da empresa, para fazer com que os processos funcionem, para fazer com que haja produtividade na agricultura, na indústria, para que o setor de turismo funcione. Nós precisamos de pessoas que façam a gestão de forma a aplicar o conhecimento gerado pela ciência, pela humanidade, e possa fazer com que a gente tenha qualidade de vida.
Então é preciso realmente a gente ver que o desafio do fortalecimento da educação vem de todos nós. E aí, nós gestores das instituições públicas desse país, e aí eu trato também do sistema federal, e incluindo as estaduais, municipais, as instituições comunitárias também, nós precisamos realmente continuar nessa luta para que a gente possa, enquanto gestores, fazer valer aquilo que nós acreditamos, na força transformadora da educação.
 

 

Edição: Maria Franco