Paraíba

OPINIÃO

Uma Esquerda Campinense: o singular e o plural

"É possível dizer que CG com a vitória de Lula no município, saiu mais à esquerda? Ou será precipitada tal afirmação?"

Brasil de Fato PB | João Pessoa |
Campina Grande - PB - Foto: Reprodução/Google Street View

Por Roberto Jefferson Normando*

Quero começar com algumas perguntas e me atrever a convidar você para esta reflexão, para que possamos fazer novas perguntas, concordar, discordar, acrescentar... e pensar possibilidades de fazer o caminho juntos e juntas, sobre o presente e o futuro da Rainha da Borborema. 

É possível falar de uma esquerda campinense? Ou de um campo político plural que reúne organizações, partidos, militantes e pensadores que se identificam com a esquerda, em Campina Grande? Seria tudo a mesma coisa ou teria diferenças importantes? Também poderíamos pensar se há um projeto político de esquerda com a cara e o coração campinenses, isso existe?  O que a esquerda campinense pensa? As disputas eleitorais dos últimos 30 anos ajudaram a esquerda campinense a caminhar e subir a ladeira? Afinal, temos uma esquerda ou esquerdas campinenses? 

Basicamente o que define, ou a definição que vou explorar aqui, é a de que a esquerda, ou ser de esquerda, é a luta pela igualdade, por uma sociedade nova, democrática que seja justa economicamente e socialmente, ecologicamente sustentável e integral, culturalmente e politicamente diversa e plural. Isso nos une? Nos mobiliza? Nos organiza? Nos faz sonhar, construir projeto e caminhar? 

O ano de 2022 chegou ao fim, e com ele também se concluem muitos dos planos e ações desenvolvidas ao longo do ano, em vistas da luta pela defesa da democracia, pela retomada de uma agenda de justiça social e ambiental para o país, através da eleição de Lula, que foi vitoriosa, no dia 30 de outubro. Vencemos uma importante e decisiva etapa para acumularmos forças para as novas batalhas e vitórias! E na etapa de isolar a extrema direita e derrotar a política neoliberal, apoiar o governo Lula é fundamental. Este governo precisa dar certo e só pode dar certo  melhorando a vida do povo, ampliando a democracia, mudando a política econômica e sendo o espaço das vozes e da participação dos rostos da nossa diversidade. Apoiar o governo, dialogar, pressionar, empurrar, cobrar, mobilizar etc, deve ser o nosso cotidiano. 

O resultado das eleições em Campina Grande trouxe um novo ânimo, muita alegria e entusiasmo, digamos um novo ar na militância, afinal Lula ganhou nos dois turnos no município, um trabalho que começou lá atrás pelo Fórum Pró-Campina. Essa organização puxou, em março de 2022, a articulação do movimento Pró-Lula, um movimento suprapartidário, com a participação dos movimentos sociais, das centrais sindicais, da militância e de tanta gente que se somou ou fez a campanha de Lula de forma espontânea e sem esperar os partidos; pessoas que nunca se filiaram ou militaram em alguma organização, estavam na luta por votos para Lula, foi de fato uma campanha popular com todas as dificuldades e sofrimentos, mas uma campanha bonita e coletiva que fez a esquerda avançar novos degraus. Precisamos fazer o balanço desse momento, tirar as lições dos erros e dos acertos, e avançarmos. 

É possível dizer que Campina Grande com a vitória de Lula no município, saiu mais à esquerda? Ou será precipitada tal afirmação? A esquerda se fortaleceu no município?  Ou saiu com uma nova janela de oportunidade para a esquerda no município? É verdade que muitos dos/as eleitores/as que votaram em Lula não são de esquerda, mas estão preocupados com uma vida melhor e essa é uma das oportunidades de diálogo e aproximação. Para isso, estamos preparados? 

Farei, em outro momento, um debate mais aprofundado, pois este texto só quer levantar algumas questões para a reflexão, o debate e a caminhada. Lembro também que uma das intenções do Movimento Pró-Lula era, além da vitória do Presidente Lula, fazer à esquerda, e esse sentimento de pertença a este campo político, crescerem no município e se fortalecerem para as novas tarefas locais. Penso aqui o ‘Agir Local’ profundamente conectado com o ‘Pensar Global’ e o ‘Agir Global’ conectado com o ‘Pensar Local’. Temos muitas tarefas, vou me atrever a sugerir algumas delas, sei que faltarão tantas outras, mas o importante é caminhar. 

Crescemos, mesmo que não de forma orgânica, mas crescemos. Está no chão de Campina Grande, se espalhando, a semente de mudança. É o fogo de monturo dando lugar a nova fogueira com as bênçãos de São João, que era aquele com a missão de preparar o caminho. Olhando para a trajetória da esquerda campinense há um importante momento de subida nos anos 1990 e depois de recuo… (vou tratar dessa trajetória em outro texto) e agora, ou nos últimos anos, a retomada da subida, que eu chamo de subir a ladeira novamente. 

Tendo isso em mente, vamos as sugestões: 

1.    Cada partido, muitas vezes, não consegue crescer, se renovar ou pautar o município por causa de suas demandas internas, algumas vezes divisões sérias, ausências e conflitos. O desafio é como superar os conflitos, conviver com as divergências, retomando uma dinâmica partidária de respeito, diálogo, encontro, formação, e inserção nas diversas lutas. 
2.    Estimular a organização partidária, o papel das suas instâncias setoriais, bem como a urgente participação e protagonismo das juventudes dos partidos.
3.    Fortalecimento, renovação, ampliação e protagonismo das juventudes, das mulheres, negros(as), e pessoas LGBTQIAPN+ nos movimentos sociais, nos nossos sindicatos e centrais,  nas nossas ONG’s, e tantas outras formas de se organizar e articular. Precisamos de organizações, sejam sindicais ou populares, mais horizontais e com muita participação da diversidade que somos. 
4.    Precisamos avançar no campo do estudo e da escuta do povo sobre Campina Grande, sobre os dados, pesquisas, teorias etc. Qual município que temos? Qual é o cenário de Campina Grande quanto o mundo do trabalho? Qual o rosto da exclusão e das desigualdades do território de Campina Grande? Como anda a economia da cidade? Como anda a educação, e a alfabetização, por exemplo? Qual a relação das nossas universidades públicas com o pensar a cidade? O que propomos? Quais políticas públicas queremos para a cidade? 
5.    Pensar um processo de formação política é outra tarefa que se faz necessária. Precisamos ler, estudar, voltar aos clássicos, bem como aos novos autores de longe e de perto. Ler e escutar a realidade. 
6.    Pensar de forma conjunta estratégias de comunicação, presença nas redes e mídia, realizar um encontro de comunicadores/as das diversas organizações. 
7.    Trabalhar pela mobilização permanente e nos momentos das lutas que virão.  
8.    Fortalecer o Fórum Pró-Campina, como um dos espaços da articulação suprapartidária, em diálogo com as centrais e movimentos sociais, na perspectiva de seguir avançando na construção de um campo político progressista e de esquerda para Campina Grande.
9.    Estimular as ações solidárias, de ajuda mútua, entender o momento pessoal de cada militante, ser presença amiga nos momentos difíceis, celebrar as vitórias. Nos julgarmos menos, e nos ajudarmos mais. 

Nessa caminhada aonde a esquerda campinense quer chegar? As eleições não são e não podem ser o único espaço do fazer política, a política se faz no cotidiano das nossas lutas, nos sindicatos, na participação ativa nos movimentos sociais, ONG’s, no estudo, no controle social, na organização popular, nas ruas e nas redes. Mas, a disputa pelo poder local, pela prefeitura, bem como a ampliação da esquerda na Câmara Municipal , estão no nosso horizonte? Queremos, democraticamente, em um futuro próximo, governar essa cidade? 

Outra tarefa é o reconhecimento, o apoio às nossas lideranças, e temos mulheres, homens, jovens... lideranças por todo o município, nas nossas organizações, e cito uma delas, que é a vereadora do PCdoB, Jô Oliveira, hoje 1ª suplente de deputada estadual, com uma votação extraordinária em todo o Estado da Paraíba; sendo não apenas uma líder local, mas uma liderança estadual, que desponta hoje, a partir de Campina Grande. Temos a oportunidade de aproveitarmos o mandato e a liderança de Jô Oliveira como este canal de diálogo, apoio e demandas para as lutas, sejam as institucionais, nas ações na câmara de vereadores/as, sejam as dos movimentos sociais e das nossas articulações nesse campo político. Um exemplo de abertura é o fato do gabinete de Jô ser formado por militantes de diversos partidos de esquerda e movimentos sociais, um gabinete que expressa a necessidade da nossa unidade. Este mandato também é desse campo, e deve ser fortalecido para ampliação da nossa presença na casa legislativa nas próximas eleições.  
    
Penso que o Fórum Pró-Campina, para 2023, deverá ter uma agenda de reuniões, plenárias e outras ações com ampla participação dos partidos e das demais organizações. Aqui fica a sugestão de, quem sabe, um final de semana para um Encontro/Seminário sobre a realidade do território de Campina Grande: onde estamos? Como ocupar de forma articulada e ser presença nas diversas realidades desse território?... Um encontro com todas as forças políticas partidárias e não partidárias. Seria possível? 

Por fim, por que uma esquerda no singular e no plural? No singular no sentido do lado em que estamos, da igualdade com plena democracia e justiça social e ambiental. Plural, porque somos partidos diversos e diversas organizações e movimentos, somos diferentes e nem sempre pensamos na mesma direção. Mas, o futuro só será possível se este projeto for de muitas mãos, coletivo, se retomarmos com força a construção coletiva que requer um companheirismo sincero e generoso, onde se reconheçam as nossas diferenças e divergências e até as feridas que precisam ser curadas, para caminharmos juntos e juntas. A atual conjuntura nos pede a possibilidade de atuarmos como um campo multipartidário. O tempo nos abre mais uma janela de oportunidade para as esquerdas de Campina Grande, hora de subir a ladeira com mais velocidade e força. Teremos a grandeza e generosidade necessárias para esta nova etapa?


Por fim, queremos concluir sem concluir, pois há muito ainda por dizer e tanta coisa por fazer. 

Caminhemos!

 

*Formação em filosofia

Coordenador do Fórum Pró-Campina

Membro da Direção Estadual do PSOL

 

Edição: Polyanna Gomes