Alberto Antonio dos Santos Silva, conhecido como contramestre Escurinho, faleceu hoje, dia 14 de março de 2023, após lutar bravamente contra um câncer. O Brasil de Fato Paraíba presta sua homenagem a um dos maiores expoentes da cultura popular do estado. Escurinho dedicou quase 30 anos de vida à capoeira, à formação de jovens e crianças da periferia, abrindo espaços de fala e vivências e transformando a realidade de muitas comunidades através do saber tradicional e ancestral da capoeira.
O contramestre foi um dos grandes parceiros do site, pautando matérias e reportagens com debates importantes e divulgação da manifestação cultural da capoeira pelo estado. O Brasil de Fato Paraíba envia os mais sinceros sentimentos, afeto e apoio à família, amigos e amigas, companheiros e companheiras de jornada do contramestre nesse dia de saudade e tristeza.
Em uma de suas últimas entrevistas ao BdF-PB, Escurinho falou sobre a importância do legado da cultura ancestral da capoeira e afirmou: “Falar de capoeira é falar de vida, é falar de existência e resistência. É falar da consciência negra de todas as horas, é o que eu vivo. A partir da capoeira eu entendi que pertencer a uma comunidade, a uma quebrada, à favela, não é sinônimo de algo pejorativo. A partir dela a gente consegue alcançar esse campo do pertencimento, da ancestralidade, de saber o chão que pisa.”, disse emocionado.
Escurinho deixa esposa e quatro filhos. O velório ocorrerá na Comunidade São Sebastião, que fica na Rua do Rio, em Cruz das Armas/JP, às 16h. O sepultamento será, nessa quarta-feira, dia 15, às 9h, no Cemitério São José, no mesmo bairro.
REPRESENTAÇÃO NA CULTURA PARAIBANA
A Superintendência do Iphan-PB, emitiu uma nota de pesar e homenageou a história e a vida do Contramestre Escurinho como representante importante na fomentação da cultura popular do estado. Segue um trecho:
“Com sua inteligência e franqueza na fala e atitude, Escurinho deu uma importante contribuição para a criação e consolidação do Fórum Permanente da Salvaguarda da Capoeira da Paraíba, sempre atento e envolvido nos diálogos entre a comunidade capoerística e os poderes públicos estabelecidos. Sua morte prematura, em meio a problemas de saúde, descasos no atendimento público e frágil proteção social, é mais um lamentável alerta para que o Estado brasileiro, em suas diferentes instâncias e esferas de atuação, possa dedicar recursos e ações efetivas em políticas de patrimônio e cidadania que estejam, de fato, relacionadas à real condição de vida de detentores e grupos de Capoeira e da Cultura Popular como um todo. O Iphan/PB e todos que se preocupam com a valorização do patrimônio brasileiro lamentam profundamente esta perda, em solidariedade à família e ao(à)s amigo(a)s do grande contramestre”.
ESCURINHO, PRESENTE!
Escurinho fez muitos amigos e amigas ao longo de sua caminhada na luta pela conscientização, transformação e promoção que a manifestação da capoeira realizava na vida de tantas comunidades e pessoas. Os que estiveram presentes com ele durante essa trajetória, reafirmam seu grande potencial de afeto e vontade de levar o ensino da capoeira, a cultura paraibana e a transformação de vidas, sempre mais além. Várias são as demonstrações de afeto ao contramestre nas redes sociais:
“Escurinho era um cidadão da cultura popular, uma pessoa generosa, afetuosa, amiga e que transformou muitas vidas durante a sua vida”, afirma Marcos Freitas, amigo e participante de aulas capoeira com o contramestre.
“Dia demasiadamente triste para a cultura da Paraíba. Escurinho nos deixou! Dia de luto para a capoeira e música pessoense. De você, amigo, guardo aquele abraço apertado quando nos reencontramos”, comentou outro amigo, Vant Vaz.
“Escurinho nunca deixou de guerrear e lutar pelos seus, pelos nossos, pelo nosso povo negro. Hoje estamos de luto, hoje é um dia para lembrar o que significa luta. Adupé, meu irmão”, escreveu Hermana.
"Ele fará uma falta imensa e estará para sempre nos nossos corações", homenageou a banda Pau de dar em doido,onde Escurinho foi baixista.
VIDA E RESISTÊNCIA
Alberto Antonio dos Santos Silva, nasceu em 22 de abril de 1979 na cidade de João Pessoa, Paraíba. Desenvolvia atividades na Capoeira há mais de duas décadas. Foi aluno do professor Cesinha Tatu e de Mestre Magnata que, entre os anos 1990 e 2000, faziam parte da Escola Angola Palmares, e de Mestre Sabiá, da Associação Cultural de Capoeira Badauê, a qual pertencia até hoje.
Sua atuação profissional era diversa, trabalhando com o ensino da Capoeira, com a confecção de instrumentos de percussão e danças afro-brasileiras e a composição de músicas para as muitas rodas que integrou, como o grupo musical “Pau de dar em doido” e o grupo de dança "Alabê Alujá". Tendo morado a vida inteira entre os bairros de Cruz das Armas e Oitizeiro, desenvolveu trabalhos junto à juventude negra e periférica desses bairros, por meio do projeto “Fortalecendo nossas raízes”.
Escurinho contribuiu na criação e consolidação do Fórum Permanente da Salvaguarda da Capoeira da Paraíba, sempre atento e envolvido nos diálogos entre a comunidade da capoeira e os poderes públicos.*
*Informações biográficas cedidas pelo Iphan-PB
Edição: Cida Alves