O presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio à Paraíba, nesta quarta-feira (22),
para participar do lançamento do Complexo Renovável Neoenergia, no município de Santa Luzia, no Sertão do estado.
Em sua primeira visita à Paraíba no exercício do terceiro mandato, Lula veio participar da inauguração do Complexo que conta com 15 parques com 136 aerogeradores, integrando a geração de energia eólica com a solar, num investimento que alcança cerca de R$ 3 bilhões. A obra pertence a uma empresa privada.
A área se estende por 8,7 mil hectares, nos municípios paraibanos de Santa Luzia, Areia de Baraúnas, São José de Sabugi e São Mamede, com uma energia gerada de 0,6 gigawatts (GW), para abastecer 1,3 milhão de residências por ano.
Críticas a este modelo de energia
A CPT (Comissão Pastoral da Terra) vem acompanhando a implementação desse tipo de geração de energia desde 2011, e comenta que existe um grande debate em torno da implementação das energias da produção eólica e solar.
Segundo a Comissão, existe a compreensão de que há realmente uma necessidade de transição energética, mas questiona o modelo a partir dos impactos na vida das comunidades e do bioma da Caatinga, já observado em outros estados.
Para Vanubia Martins, Agente de Pastoral pela CPT, nem toda a narrativa dessa produção de energia é verdadeira.
“Ao longo destes quase 20 anos, de 2011 para cá, a gente tem acompanhado o caminho dos ventos na Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará. Neste último, o Observatório da Energia Eólica aponta para o caminho contrário do que a propaganda professa, inclusive do ponto de vista da economia”, conta ela.
Pesquisas apontam que os municípios de Ceará e Rio Grande do Norte não têm alcançado um maior IDH com a chegada dessas indústrias de energias renováveis.
“Eu acho que é o encantamento pela tecnologia, pela narrativa global de que estamos produzindo energia limpa, mas falta muito chegar perto das comunidades, e fazer a escuta”.
Ela conta que, nas experiências acompanhadas pela CPT, os animais não estão mais reproduzindo, há uma ampliação do ressecamento da terra porque as pás dos geradores funcionam, à noite, como aspersores que pegam o ar frio e jogam para cima, aquecendo também a terra no período noturno, provocando um outro desequilíbrio nesse processo.
“Também não estão sendo considerados os danos socioambientais. Segundo uma pesquisa portuguesa, os infra-sons emitidos não têm barreiras, e eles podem chegar a até 12 km, e esses infra-sons podem causar até calcificações em alguns órgãos, além de problemas emocionais e problemas de labirintite. O organismo começa a tentar se proteger para tentar barrar as vibrações, e pode causar calcificação no pulmão e coração. Numa comparação bem grosseira, é como se a comunidade tivesse embarcado numa plataforma de petróleo balançando 24 horas por dia, 365 dias por ano”, denuncia ela.
O delicado Bioma Caatinga
A produção de energia no formato centralizado industrial destrói a Caatinga, que é um bioma super sensível, mas que tem uma capacidade de absorção do carbono maior do que outros biomas pesquisados.
“A gente está retirando a Caatinga, colocando cimento armado, falando em resiliência do clima, melhorando o clima. Mas na verdade estamos desmatando os topos de serra, destruindo as reservas onde ainda existem refúgios de animais e plantas, e a água que está secando nos poços. Então, não sabemos qual é o ganho real, se é ganho ou perda”.
Uma nova regulação dessas dessas empresas está sendo avaliada: “A gente quer regularizar o distanciamento para que se possa proteger topos de serra, rever o licenciamento ambiental nas Apas - Áreas de Proteção Ambiental, dos Assentamento de Reforma Agrária para produção de alimento, e não para produção de energia. Agora nós estamos falando em bilhões que estão entrando, mas talvez daqui a 5, 6 ou 7 anos, a gente esteja falando de milhões que estarão sendo gastos com saúde pública”, explica ela.
“Também entendemos que é uma injeção de recursos durante 8 meses, 10 meses na montagem das usinas e empregos temporários. Naquela região, naquele território são, na maioria, camponeses contratados para desmatar, como servente de pedreiro, de abertura de estrada, mas depois o emprego especializado não fica com os presentes”, destaca Vanúbia.
Outra crítica diz respeito ao direito à informação. “As empresas chegam violando as comunidades, o princípio básico da informação correta, e a gente compreende que cada ação, seja de estado, seja de empresas privadas, em territórios, deve cumprir esse princípio da informação, algo que não foi feito”.
Já em suas redes sociais, o presidente Lula publicou: “ A Petrobrás não foi feita para exportar óleo cru. Ela é uma empresa de energia, que tem que estar preocupada com gás, com biodiesel. Não tem que estar preocupada com o lucro para distribuir entre os acionistas. Tem que investir em novas fontes de energia para o Brasil”.
Assista ao vídeo institucional ressaltando os pontos positivos, a partir da otica da empresa:
Edição: Polyanna Gomes