Paraíba

ENTREVISTA

"Entre Sonhos e Sertões": a estreia literária de Jonas Duarte

Professor da UFPB realiza lançamento do seu primeiro livro nesta sexta (24) no MAPP, em Campina Grande.

Brasil de Fato PB | João Pessoa |
Lançamento acontece nesta sexta (24) no MAPP, em Campina Grande - Arte Divulgação

Nesta sexta-feira (24), às 17h30, acontece o lançamento do livro “Entre Sonhos e Sertões”, de Jonas Duarte. A obra marca a estreia do autor na literatura paraibana e será apresentada no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande.

O livro possui 220 páginas e trata das memórias de Jonas ao longo de sua vida acadêmica, na militância e ao lado de tantos companheiros e companheiras de jornadas políticas, de movimentos sociais, entre debates e vontade de construir um país mais justo e igualitário. A Editora de publicação foi a Papel da Palavra e o autor define o livro como "memórias de um sertanejo utópico".

O lançamento terá como mestre de cerimônias o professor Daniel Duarte (UFPB/Areia) que fará uma apresentação no modo "cantoria" anunciando os presentes através de aboios e toadas nordestinas. A cantora Dani Brito interpretará algumas músicas do repertório escolhido por Jonas para inspiração de sua escrita. Também estarão presentes os docentes e amigos do autor: Laudemiro Lopes, Regina Célia e Monique Cittadino, que escreveu o prefácio do livro.

O Brasil de Fato Paraíba conversou com o professor sobre o lançamento e as tantas memórias envolvidas na escrita desse livro. Confira a entrevista: 

BdF-PBJonas, nesta sexta (24) você lança o livro "Entre Sonhos e Sertões" e o define como "memórias de um sertanejo utópico". Quem é esse sertanejo e como podemos mergulhar nos seus sonhos através do livro?

JONAS DUARTE: Sou um sujeito vindo do interior, do mato, que se politizou na cidade (Campina Grande), na ebulição política dos anos 1980, que marcaram definitivamente minha vida. Minha Utopia é o Socialismo. A luta pela superação das injustiças do capitalismo e a construção de uma ordem socioeconômica e cultural superior, baseada na justiça social, na equidade de direitos, com uma população crítica, pulsantes, impulsionadora dessas transformações formam minha utopia, mas compreendo a utopia como Eduardo Galeano "Algo que quando a gente chega próximo ela se afasta e nos impõe novos horizontes e novos desafios". Acho que meu itinerário como militante pode ser uma inspiração, sobretudo, para jovens. Um mergulho nestes sonhos de justiça, de emancipação dos trabalhadores que foi e é minha vida, espero inclusive, que esse livro inspire outras pessoas, outros jovens. Fica claro na minha escrita que o sentido da minha vida foi lutar por esses sonhos. Não pessoais, mas sociais, coletivos.

BdF-PBO livro destaca, entre tantas memórias, as de seu período estudantil envolvido com a política universitária, militância... Como você enxerga esse movimento atualmente comparado à época em que esteve participando?

JONAS DUARTE: Acho que o movimento estudantil reflete o momento histórico que vivemos hoje e no passado. A efervescência das lutas sociais e dos movimentos populares a partir do final dos anos 1970 sofreu um duro golpe com o neoliberalismo e a queda da experiência europeia de Socialismo, especialmente da União Soviética. Os reflexos na sociedade são perceptíveis. Com o fracasso e fim da experiência socialista houve um descrédito de toda esquerda mundial, de todas as lutas políticas. O desespero em que as pessoas trabalhadoras vivem sob o capitalismo ao invés de levá-las ao sindicato, a organização popular ou ao partido político, como nos anos 1980, as levam à Igreja Evangélica e aos dogmas religiosos. O Movimento Estudantil hoje é reflexo desse descenso dos movimentos sociais e da ideologia de esquerda, com o agravante de assistirmos a ascensão mundial de ideologias fascistas, inclusive, como resposta ao fracasso total do capitalismo. São formas dogmáticas, irracionais de responder ao drama concreto diário que o sistema impõe.

BdF-PB: Dani Brito interpretará algumas músicas que você cita no livro de memórias. Como essas músicas te tocam e como elas foram importantes nas tantas memórias que você traz aos leitores? Poderia citar um episódio?

JONAS DUARTE: 
Nós brasileiro somos movidos por música. Minha música preferida é o forró Pé-de-Serra, como chamam hoje. Cresci ouvindo e amando Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Os Três do Nordeste; me orgulho de não ter sido alienado da cultura popular nordestina. Minhas lutas políticas foram embaladas por músicas engajadas, da MPB. Chico, Gil, Caetano, Elis, Gonzaguinha, Belchior, Geraldo Vandré, Taiguara. Passei a ouvir esse repertório na militância política. Posso citar a História do Bêbado e o equilibrista, de João Bosco que, na voz de Elis embalou nosso primeiro congresso de estudantes da UFPB, realizado em 1984, em João Pessoa, cantada na voz belíssima de Ruth, uma companheira estudante de medicina, militante. Tudo que fazíamos nas lutas estudantis, sindicais ou sociais era acompanhado por música. Esses artistas eram militantes nossos. Trouxemos pelo Movimento Estudantil para Campina Grande: Belchior, Gonzaguinha, Geraldo Azevedo. A MPB nos embalava nas lutas e nos amores. Dani Brito tem uma voz linda, suave, meiga, que nos toca profundamente. Por isso a convidei. Ela cantando Lamento Sertanejo (Dominguinhos e Gil)  é de arrepiar e tem tudo a ver comigo com o livro, com os sonhos e os sertões que rememoro. 

BdF-PB: Muitas amigas e amigos, companheiros e companheiras de jornadas acadêmica e política vão estar presentes no lançamento. Você poderia falar da importância desse momento de união, de reavivar memórias de luta, de afetos, políticas e sociais vividas por você nesse livro, principalmente após a mudança de ares na política brasileira?

JONAS DUARTE: 
Pois é. Foi uma sacada do Editor deixar para lançar o livro no governo Lula, pois faríamos esses encontros. Espero que os da militância compareçam para confraternizarmos e brindarmos a vitória da democracia e aos desafios que nos esperam. Seria uma grande honra para mim encontrar parte dos companheiros e companheiras que lutaram juntos e juntas nos anos 1980.

BdF-PB: Por fim, teremos mais obras chegando após o "Entre Sonhos e Sertões"?

JONAS DUARTE: 
Sim. Eu gosto muito de escrever. Pretendo lançar em dezembro desse ano uma coletânea de artigos que escrevi entre 2016 e 2022. São 26 artigos e será algo mais ou menos assim: "Da Economia do golpe de 2016 à esperança das eleições de 2022". Apresento minha perspectiva das razões econômicas do golpe contra Dilma: Flexibilização das leis trabalhistas, Petrobrás, BRICS, etc. Um livrinho de 160 páginas que, penso, ajuda a compreender aquele momento conturbado da política brasileira que resultou na queda do governo progressista e ascensão do fascismo. Fomos ao inferno e estamos saindo dele. É um texto áspero mas necessário. Também tenho trechos de dois romances que nunca tive coragem de mostrar a ninguém. Um se inspira em uma família evangélica negra que residiu na frente da nossa casa na infância. Depois de adulto percebi que aquela família era discriminada por ser negra e "crente", como denominávamos. O outro é sobre um jovem nordestino de origem camponesa vivendo em São Paulo. Embora possa ter inspiração na minha experiência na Capital paulista no doutorado, nesse romance eu literalmente viajo em ficção a partir daqueles trens e ônibus lotados, ruas lotadas de nordestinos. Penso que conversei com mais de 300 nordestinos em São Paulo. Tenho muitas histórias para me inspirar a concluir o romance.


SOBRE JONAS DUARTE
 


Jonas Duarte é professor da UFPB e lança seu primeiro livro nesta sexta (24) / Acervo Pessoal

Jonas Duarte é mestre em Economia e doutor em História Econômica. Seus estudos têm ênfase na História Econômica regional do Semiárido. Vereador de 1983 a 1989, em Boqueirão, Jonas também foi líder de movimento estudantil e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba (ADUFPB), bem como coordenador geral, por cinco anos, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos João Pedro Teixeira. 
 

Edição: Cida Alves